A demagogia me parece por vezes
assemelhar-se àquelas medicações que os famigerados con men[1]
divulgavam no Velho Oeste. Os remédios seriam bons para curar todos os males,
só que na verdade para nada serviam, além de pôr dinheiro na bolsa de quem os
vendia.
A reforma da previdência é medida
indispensável. O presidente Michel Temer utiliza a propósito um argumento
respeitável: se não querem acabar como o Rio de Janeiro (i.e., insolvente), é melhor reestruturar de maneira apropriada a
previdência.
No nível estatal, v.g., não adianta
querer brigar com as receitas e despesas. Ambas têm que andar juntas. A
multiplicação dos pães e dos peixes pode ocorrer no Novo Testamento, mas não é aconselhável
que se embarque em farras distributivas, e que, em consequência, os cofres estatais
não acabem a zero, como ocorreu com Portugal, por exemplo.
Por isso que a demagogia é perniciosa.
É fácil prometer, mas se as despesas não quadram com as receitas, podemos ter,
como aqui em Pindorama, o cenário carioca, em que corrupção e despesas
extravagantes tem arrogante presença, onde as promessas cinicamente demagógicas
(ou os esquemas alucinados de crédito às atividades comerciais e industriais)
irão fatalmente produzir o cenário falimentar que não é privilégio apenas do
Rio de Janeiro, mas também, entre outros, do Rio Grande do Sul.
As grandes crises da História, como a do sistema de Law, no Reino de França, na menoridade de Luís XV, surgem da crença
de que os fundos disponíveis no Tesouro Estatal são inesgotáveis... Os operadores de tais sistemas ou são
corruptos, ou imbecis (a mistura dessas características também é possível, mas
sobretudo no sentido de que estes últimos costumam ser manipulados por aqueles).
A boa Administração pode não
oferecer salários muito altos (como ocorre no Rio Grande do Sul com os
representantes políticos e a magistratura), mas cuida de que haja sustentação
contábil para todas as despesas, e que as regras da Lei de Responsabilidade
Fiscal sejam respeitadas. Este é o caso do Espírito Santo, um estado que luz
com a correção fiscal, ordenada e mantida pelo Governador Paulo Cesar Hartung.
Vejam a condição financeira e
governamental de seu Estado, cotejada com a do Rio de Janeiro e a do Rio Grande
do Sul. Vejam a que abismos de
incompetência e desigualdade fiscal, temos nesses dois últimos e o luzente pequeno
estado do Espírito Santo.
Pela energia, exemplo e exação
fiscal, o Espírito Santo, apesar de não dispor de fundos miríficos, ostenta boa
situação - que pode inclusive ajudar a superar crises de disciplina (como foi a
da greve da PM naquele estado). O
exemplo do Governador Hartung aqui também luziu, eis que, apesar de
recém-operado, ele não trepidou em contrariar o parecer médico e voltar à
atividade, apesar de convalescente.
O Rio atravessa ainda a crise da
perda da posição invejável do Distrito Federal, que lhe dava a proximidade do
governo federal, com a capital nacional no Rio de Janeiro. Com a transferência
para Brasília, que era a meta-símbolo de JK, esse tempo se tornaria história.
Há vários outros complicadores,
que conduziram à virtual decadência da administração carioca, o que o governo
corrupto de Sérgio Cabral levaria a níveis lamentáveis. Dentre esses fatores,
está a lenta decadência - aparentemente inexorável - da própria ex-capital federal
e antiga Cidade Maravilhosa. O mais triste no caso é que, se ele não se
deixasse desviar pelos desvarios do desregramento nas finanças (com a mórbida
confusão entre fazenda pública e fundos privados), Cabral teria inteligência e
capacidade de ser um grande administrador. Desdenhando tais caminhos, tornou-se
forçado, hóspede no arquipélago
prisional de Bangu.
A corrupção dos governos é uma
das principais - quando não é a principal - causas da desordem e do
desregramento das finanças. E essa situação se traduz nas criminosas carências impostas
aos aposentados, que no presente sequer recebem devidamente os respectivos
proventos. Por outro lado, e por causas diversas (em que o desregramento das
finanças supera a própria corrupção) se assiste no Rio Grande ao chamado
parcelamento da miséria (13º e abonos eventuais) são distribuídos em módicas prestações
mensais para as classes menos aquinhoadas, numa burla cruel a funcionários
aposentados que já vivem com a fome e a carestia a espreitá-los. Tampouco é muito diversa - a despeito da farra
salarial na Assembléia Legislativa (a notória Alerj) do Rio de Janeiro - a
situação dos aposentados na chamada Cidade Maravilhosa...
(
Fontes: O Globo e a vivência no Rio de Janeiro, seja como capital
federal, seja estadual )
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