Não se fazem mais golpes de estado
como antigamente. Esta é a primeira
conclusão a ser tirada da dita sentença do Tribunal Supremo de Justiça da
Venezuela. Outra inferência a ser tomada é a suposta originalidade da alegada
iniciativa da Justiça venezuelana, arrogando-se também a competência da
Assembleia Nacional.
Na verdade, essa grotesca
movimentação apenas sublinha um autogolpe do presidente Nicolás Maduro. Meses
antes, a Excelência presidencial já providenciara de parte do dito Tribunal
Supremo, através de sua superlotação por militantes chavistas, uma postura que
se dizendo revolucionária, na verdade copiou o intervencionismo de antanho, eis
que os cordéis do poder continua a puxá-los o Palácio Presidencial.
É burlesco, é ridículo, é
tristemente sul-americano. Há um elemento de inovação nesse invencionismo do
grupelho de Maduro. Na tortuosa, complicada e por vezes lamentável história
latino-americana, se nos depara essa alegada inovação. Pena que tal
invencionismo seja filho espúrio do velho golpe de estado, de que Latino
America sempre foi pródiga.
Antes, prevendo a maioria da oposição
na Assembleia Nacional, o caminhoneiro Nicolas Maduro já providenciara a
super-lotação dos quadros da dita Corte Suprema.
De início, dentro de sua meta
principal - chavismo über alles - já o Presidente
providenciara o "reforço" dos quadros do dito Tribunal, dessarte
extrapolando no poder Judiciário. Poucos notaram na época que esse engajado Judiciário
já tratara de suspender o número necessário de deputados para que os poderes
da Assembleia fossem manietados, em
termos de providências contra as autoridades chavistas.
O problema da ilegalidade é que ela
não conhece limites, dentro do princípio da velha fábula de Esopo - se não foi
seu pai, foi seu avô! - com que os que detêm a força bruta costumam atalhar
anosas discussões quanto às eventuais responsabilidades.
A situação venezuelana - dado o nível
de Maduro e de seus partidários - terá igualmente uma conotação caribenha ou,
se assim o querem, de opera buffa, em que
poder é poder, e temos conversado.
Desde muito, a
OEA vem olhando para o outro lado, diante da série de medidas anti-democráticas
do chavismo, desde os tempos do Coronel Hugo Chávez Frias. Como a antidemocracia não conhece limites,tampouco os terá essa gestão calamitosa da coisa pública venezuelana, que caracteriza o
governo do sucessor Nicolás Maduro.
O jurisdicismo dos opositores do
regime chavista facilita as reações de um governo que há muito caíu na
ilegalidade e na supressão das liberdades públicas. Por onde se examine a
situação do governo de Caracas, a pergunta inevitável será a do Porquê um
estado de coisas de tal ordem - em que todos os direitos são desrespeitados, a
começar pela criação dos meios de uma existência digna - continua a perdurar,
enquanto o chavismo se apega ao anti-direito, vale dizer, a sua integral
liberdade de maltratar os próprios nacionais.
A OEA, se continuar, na prática, a fazer
de conta que o governo chavista tem direito a valer-se do direito de criar um
inferno particular na Venezuela, sem o apoio da maioria da população, esse
velho organismo das Américas, perderá toda a credibilidade que lhe resta (e não
é muita), eis que as fórmulas jurídicas existem não para coonestar falsas
realidades, mas para assegurar existência digna às populações que as
respectivas Constituições consideram soberanas, de acordo com a norma da
Primeira das grandes Revoluções.
( Fontes: O Estado de S. Paulo; O Globo; Folha de S.
Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário