Para ecoar a linguagem jornalística,
há poucas dúvidas quanto ao acerto de afirmar que o tópico da atualidade em
Washington é o alcance dos contatos da equipe de Donald Trump com a Rússia de
Vladimir Putin.
No presente momento, isso equivale
quase a uma tautologia, eis que a Federação Russa é um país autoritário, em que
o controle exercido pelo autocrata Putin vem crescendo.
Como um leitor de Karen Dawisha,
autora do livro "A cleptocracia de Putin", pode-se afirmar sem medo
de erro que esta presença só vem crescendo, acompanhada pela característica
dominante, já sublinhada no título da obra em apreço.
Por outro lado, malgrado a relativa
dependência do principal Estado sucessor da antiga União Soviética do petróleo,
pode-se asseverar que Moscou logra ter uma presença mundial e mesmo bélica que
recorda a da antiga URSS, embora a sua base territorial, ainda que grande, haja
encolhido bastante desde o tempo da antiga Superpotência, rival de Washington,
que implodira figurativamente em 1993.
Assinala-se, além disso, comparação
já feita por este blog à atuação de
Moscou na atual esfera internacional. Pela audácia e pela multiplicação dos
eventuais pontos de atrito com o seu antigo rival - e única superpotência
restante, Washington - Moscou nos dias que correm guarda certa similitude com
uma antiga potência - na época, aliada de Berlin - que foi a Itália do Duce,
Benito Mussolini.
Pela audácia respectiva, e pelas
suas posturas que tinham cores de grande potência, il Duce exercia nos anos trinta uma influência que, se comparada
com o efetivo poder militar, estava hiperdimensionada.
Esse cotejo deve ser empregado com
cautela no que concerne à Federação Russa, porque Putin, apesar de todos os
tratados de desarmamento intervindos entre Washington e Moscou, ainda dispõe de
arsenal temível no que tange ao termonuclear.
Por outro lado, a respectiva frota de submarinos procura desempenhar atuação
de ponta em relação à OTAN e aos Estados Unidos, em especial. São esforços, na
realidade, que talvez superem a capacidade de Moscou, exigindo muito em termos de
compatibilidade de utilização dos próprios recursos. Em sendo feitos,
porém, e levando o poder contrário às
providências indispensáveis, ela cumpre a própria serventia.
Sem embargo, no momento presente há
de surpreender os intensos e variados contatos da burocracia estatal russa,
assim como de pessoas ligadas ao Kremlin, com a Washington oficial. Pode-se, de
resto, asseverar sem medo de eventual
imprecisão, que nunca personalidades seja ligadas ao próprio
presidente de todas as Rússias, seja a espaços conexos com o poder do Kremlin,
tem mantido o contato referido pelo New York Times com representantes, quer do
novel governo americano, quer com esferas ligadas às pluri-atividades das
organizações Trump.
O que mais impressiona neste
estranho quadro é que a parte mais atuante semelha ser a russa. Outro aspecto
que igualmente tende a turbar as avaliações tem a ver à circunstância de que
países como a Ucrânia - que infelizmente
se acham naquela ominosa faixa do estrangeiro-próximo (a Moscou) sendo inclusive objeto da
legislação russa - e que antes se voltavam para Washington, senão como um braço
de eventual apoio, pelo menos um ombro amigo, agora ficam um pouco órfãos em
termos de potencial suporte.
Talvez o Prêmio-Nobel Paul Krugman tenha tocado em aspecto
sensível no que tange à qualidade das relações entre o atual Senhor de Todas as
Rússias, Vladimir Putin, e o seu amigo Donald J. Trump, a ponto de referi-las
como fontes de receio e suspicácia.
O mais provável é que nada exista
de preocupante nessas relações. No entanto, já o fato de aludir a eventuais
probabilidades, mostra-lhes os potenciais perigos, que não passariam quiçá de
vãs especulações jornalísticas.
De qualquer forma, algo parece ter
mudado nas relações entre os dois países, com
a maior desenvoltura dos agentes do governo russo. Pode não ser nada,
mas não me parece fora do propósito que a oposição democrata se preocupe e
mesmo se inquiete com as eventuais perspectivas envolvidas. É mais do que
tempo, portanto, que se busque assegurar o afastamento de quaisquer
possibilidades de interferência descabida. Afinal, se compararmos as potencialidades
e os PNBs respectivos, a relação de forças econômicas e outras determinaria que
ela fosse informada pela importância efetiva de cada país, e não em função das eventuais simpatias do grupo Trump pela
Federação Russa e gospodin Vladimir
V. Putin.
( Fontes: The New York Times; Paul Krugman; Karen Dawisha, Putin's Kleptocracy )
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