sábado, 4 de março de 2017

Putin e a presidência Trump

                      
           Para ecoar a linguagem jornalística, há poucas dúvidas quanto ao acerto de afirmar que o tópico da atualidade em Washington é o alcance dos contatos da equipe de Donald Trump com a Rússia de Vladimir Putin.
           No presente momento, isso equivale quase a uma tautologia, eis que a Federação Russa é um país autoritário, em que o controle exercido pelo autocrata Putin vem crescendo.
           Como um leitor de Karen Dawisha, autora do livro "A cleptocracia de Putin", pode-se afirmar sem medo de erro que esta presença só vem crescendo, acompanhada pela característica dominante, já sublinhada no título da obra em apreço.
           Por outro lado, malgrado a relativa dependência do principal Estado sucessor da antiga União Soviética do petróleo, pode-se asseverar que Moscou logra ter uma presença mundial e mesmo bélica que recorda a da antiga URSS, embora a sua base territorial, ainda que grande, haja encolhido bastante desde o tempo da antiga Superpotência, rival de Washington, que implodira figurativamente em 1993.
            Assinala-se, além disso, comparação já feita por este blog à atuação de Moscou na atual esfera internacional. Pela audácia e pela multiplicação dos eventuais pontos de atrito com o seu antigo rival - e única superpotência restante, Washington - Moscou nos dias que correm guarda certa similitude com uma antiga potência - na época, aliada de Berlin - que foi a Itália do Duce, Benito Mussolini.
            Pela audácia respectiva, e pelas suas posturas que tinham cores de grande potência, il Duce exercia nos anos trinta uma influência que, se comparada com o efetivo poder militar, estava hiperdimensionada.
           Esse cotejo deve ser empregado com cautela no que concerne à Federação Russa, porque Putin, apesar de todos os tratados de desarmamento intervindos entre Washington e Moscou, ainda dispõe de arsenal temível no que tange ao termonuclear.  Por outro lado, a respectiva frota de submarinos procura desempenhar atuação de ponta em relação à OTAN e aos Estados Unidos, em especial. São esforços, na realidade, que talvez superem a capacidade de Moscou, exigindo muito em termos de compatibilidade de utilização dos próprios recursos. Em sendo feitos, porém,  e levando o poder contrário às providências indispensáveis, ela cumpre a própria serventia.
           Sem embargo, no momento presente há de surpreender os intensos e variados contatos da burocracia estatal russa, assim como de pessoas ligadas ao Kremlin, com a Washington oficial. Pode-se, de resto, asseverar sem medo  de eventual imprecisão,  que  nunca personalidades seja ligadas ao próprio presidente de todas as Rússias, seja a espaços conexos com o poder do Kremlin, tem mantido o contato referido pelo New York Times com representantes, quer do novel governo americano, quer com esferas ligadas às pluri-atividades das organizações Trump.
           O que mais impressiona neste estranho quadro é que a parte mais atuante semelha ser a russa. Outro aspecto que igualmente tende a turbar as avaliações tem a ver à circunstância de que países como a Ucrânia  - que infelizmente se acham naquela ominosa faixa do estrangeiro-próximo  (a Moscou) sendo inclusive objeto da legislação russa - e que antes se voltavam para Washington, senão como um braço de eventual apoio, pelo menos um ombro amigo, agora ficam um pouco órfãos em termos de potencial suporte.
           Talvez o Prêmio-Nobel Paul Krugman tenha tocado em aspecto sensível no que tange à qualidade das relações entre o atual Senhor de Todas as Rússias, Vladimir Putin, e o seu amigo Donald J. Trump, a ponto de referi-las como fontes de receio e suspicácia.
             O mais provável é que nada exista de preocupante nessas relações. No entanto, já o fato de aludir a eventuais probabilidades, mostra-lhes os potenciais perigos, que não passariam quiçá de vãs especulações jornalísticas.
             De qualquer forma, algo parece ter mudado nas relações entre os dois países, com  a maior desenvoltura dos agentes do governo russo. Pode não ser nada, mas não me parece fora do propósito que a oposição democrata se preocupe e mesmo se inquiete com as eventuais perspectivas envolvidas. É mais do que tempo, portanto, que se busque assegurar o afastamento de quaisquer possibilidades de interferência descabida. Afinal, se compararmos as potencialidades e os PNBs respectivos, a relação de forças econômicas e outras determinaria que ela fosse informada pela importância efetiva de cada país, e não em função  das eventuais simpatias do grupo Trump pela Federação Russa e gospodin Vladimir V. Putin.



( Fontes:  The New York Times; Paul Krugman;  Karen Dawisha, Putin's Kleptocracy )

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