Já
mencionei nesta coluna que a Rússia reserva aos seus vizinhos um tratamento
especial. Não me entendam mal, porém.
Ainda não estou me referindo às mil maneiras que tem o Kremlin de desvencilhar-se de seus adversários.
Gostaria, a propósito, de reportar-me ao que o povo russo chama de o 'estrangeiro próximo'. A respeito desses inúmeros países a que coube
a sorte de colindar com a Federação Russa, o Kremlin se reserva a opção de legislar no que concerne à
inter-relação entre o grande Urso e o vizinho menor. A esse propósito, semelha
oportuno agregar que, em princípio, inexiste uma postura agressiva em tal
contexto. Seriam tão só medidas de senso prático, motivadas pela cercania.
Feitas tais considerações, mais
uma vez a estada na Ucrânia mostra que não é bastante para proteger o eventual
desafeto do governo de todas as Rússias.
Denis
N. Voronenkov foi mortalmente atingido pelo agente russo Pavel
Parshov. Voronenkov era membro do
Parlamento russo, antes de fugir para a Ucrânia no ano passado, no que foi acompanhado pela esposa, Maria Maksakova, também engajada na
política.
É
interessante verificar que Voronenkov tinha presente que sua vida corria
perigo, mesmo morando em país estrangeiro (mas infelizmente, como a própria
designação dessa grande nação - Ucrânia
- já aponta, um tanto desconfortavelmente em proximidade do perigoso urso
russo). Mas infelizmente, para seus
eventuais inimigos, a distância e a terra não formalmente submetida aos perigos
de afrontar o grande senhor das estepes, não os exime de serem abatidos pelos contract-killers (matadores
contratados). Vejam só, foi o que aconteceu com o político Denis Voronenkov,
apesar de haver engajado um guarda-costas.
No entanto, esse agente protetor alvejou mortalmente Pavel Parshov. As fontes de imprensa
quiseram ver na morte de Voronenkov motivações políticas, o que foi prontamente desmentido pelo porta-voz
do presidente russo, Dmitri S. Peskov, que qualificou de
"absurda" a suspeição.
Ser crítico ou opositor de gospodin
Vladimir
Putin pode transformar-se em maneira existencial perigosa. Escapar do
alcance de Putin não é fácil. As vítimas
com que as más linguas ousam tentar
salpicar a inocência do presidente de todas as Rússias une apenas a
circunstância de terem atacado de forma solerte o bom nome desse grande líder.
Assim, a jornalista Anna Politovskaya [1]cai
fuzilada no saguão de seu edifício de classe média baixa; o espião Alexander Litvinenko morre em Londres,
envenenado por um raríssimo e mortal isótopo radioativo (polonium 210); Boris
Y. Nemtsov, proeminente figura da oposição, abatido pelas costas, nas
vizinhanças do Kremlin e da Catedral
de S. Basílio, pelo habitual contract-killer.
Na enumeração das vítimas, o New York
Times inclui o advogado Sergei L. Magnitsky, a quem foi dado um fim particularmente cruel: por falta
de tratamento médico, ele teve morte lenta e dolorosa.
É de espantar a coragem de jornalistas, como esse do New York Times, em
que o presente relato se baseia. No entanto, oops!, agora estou verificando
que, por provável erro da redação, não consta do artigo o nome de seu autor.
( Fonte: The New York Times )
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