O Partido Democrata,
que é oposição, tenta a nomeação de Procurador Especial (Special Counsel) para cuidar da investigação penal acerca da
interferência russa na eleição presidencial de 2016.
A Senadora Democrata Dianne
Feinstein, a mais antiga representante da Oposição no Comitê Judiciário
do Senado, reputa a designação indispensável para evitar eventual
interferência política pela Administração Trump.
À maioria republicana, no entanto, não interessa a
indicação de um Special Counsel. No
tempo do Presidente Clinton, quando
eram oposição, tinham outra opinião. Chegaram mesmo a designar para substituir Robert
Fiske,
considerado demasiado moderado, a Kenneth Starr, que marcaria época
como se fora um inspetor Javert[1]
da pós-modernidade, tal a impiedade (horresco
referens[2]
alguns detalhes de seus métodos investigativos) e a ínsita brutalidade de seus
métodos (malgrado tudo, não conseguiu obter o impeachment de Bill Clinton...)
O presidente (chairman) da Comissão, o republicano Senador Charles E. Grassley,
do pequeno estado de Iowa, disse a respeito que não vê necessidade para que se
designe um procurador especial.
Com a postura superior de quem se
julga por cima da carne seca, Mr Grassley sentenciou que existem tempos em que
procuradores especiais são necessários, mas que para ele é demasiado cedo para
dizer se agora há necessidade disto ou
não e se há algum crime conexo, uma vez confirmado Mr Rosenstein (o substituto de Jeff Sessions,
que mentiu para o Congresso no quadro
dos contatos com a embaixada russa, e por isso se afastou da
investigação).
O poder tende a obnubilar as
pessoas. O veteraníssimo Senador Grassley não vê qualquer necessidade de um
procurador independente em um escândalo como esse da interferência (determinada
por gospodin Vladimir Putin) russa nas eleições presidenciais americanas,
motivada pelo ódio que o autócrata do Kremlin vota a Hillary Clinton[3] (que declarara em depoimento pós-eleição ter
Putin um rancor pessoal contra ela, por haver denunciado fraude generalizada na eleição parlamentar
russa).
Ora, Mr Grassley não vê maior
importância na aberta interferência russa na última eleição presidencial. É interessante a ousadia do homem-forte Putin
que, ao parecer, realizou na Superpotência uma verdadeira superoperação
tendente menos a prejudicar Hillary do que a ensejar a eleição de um político
afastado do establishment
republicano, e que logrou a presidência por um conjunto apreciável de fatores
controversos. A desenvoltura dos hackers russos que penetraram nas comunicações
do Diretório Democrata logrando colher elementos das instruções partidárias que
poderiam ser utilizados de forma negativa, tanto que foi empregado para a
divulgação sistema deles dependente, o
wiki-leaks de Julian Paul Assange.
Com a segurança do
personagem do Conselheiro Acácio, o Senador Grassley não vê necessidade alguma
de aprofundar a análise da operação muito provavelmente ordenada a partir do
Kremlin.
É de certo modo
contristador que um país como os Estados Unidos da América, que passa por ser a
única Superpotência, possa sofrer tal operação disposta por um país que, apesar
do arsenal nuclear, no dizer do Presidente Obama é um poder continental, não
podendo, por ora pelo menos, ser comparado a antiga União Soviética.
Por outro lado, enfim, é
oportuno mencionar a observação do colunista Paul Krugman, do New York Times,
que define como scary as implicações
da suposta estreita amizade entre Donald Trump e Vladimir Putin. Na sua coluna, o Prêmio Nobel Krugman deixa muito evidente
a possibilidade do presidente estadunidense ser colocado em situação em que
haja certa dependência do poder exercido pelo ex-KGB Putin.
Mas decerto - como se
depreende da atuação do Chairman da Comissão Grassley - nada disso tem a
relevância para que se realize uma investigação mais séria sobre o que outros
podem considerar uma ameaça à segurança estadunidense...
( Fontes : The New York Times, Virgílio, Victor Hugo, Eça de Queirós )
[1]
O inspetor Javert é personagem do célebre romance de Victor Hugo Les
Misérables, que pelo seu zelo na perseguição a criminosos e suspeitos se
tornaria o epônimo do policial implacável.
[2]
Virgílio, Eneida.
[3]
A fonte da notícia é própria Hillary, então Secretária de Estado, e que disse
há pouco ter Putin "a personal beef against her", por causa de sua
denúncia então de fraude generalizada.
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