Não é de hoje que pesa sobre o Brasil
o juízo do general de Gaulle: c'est pas un pays sérieux.[1] Estávamos no começo da
década dos sessenta do século passado, e o presidente da França invectivava
contra o Brasil por motivo da chamada guerra da lagosta. O episódio,
felizmente, incendiou mais as páginas dos jornais de então, do que algum
incidente militar. Ficou das brumas desse passado a invectiva do herói francês
da IIª Guerra Mundial, e um período em que as relações franco-brasileiras
ficaram com missões diplomáticas chefiadas por encarregados-de-negócio.
O que ficou mesmo na memória nacional
é o doesto: o Brasil não é um país sério. O orientalista Edward W. Said, libanês, mas
que terminou a vida radicado nos Estados Unidos, pensou definir a nossa terra
como, ou igual à Nigéria, sem grandes
marcas (non-descript country). Outros
nos taxaram como o país do carnaval e do futebol. Até mesmo nisso, o campo está
aberto para dúvidas, como assistimos, tão estatelados quanto o técnico Filipão,
aos sete a um de Belo Horizonte.
Na nossa história, há noites de
garrafadas, da derrubada do primeiro Imperador, e do despertar grosseiro do
velho Imperador, por militar de baixo escalão, pois os cabeças do golpe tinham
pressa de embarcá-lo rumo ao exílio. Envergonha-nos até hoje a cavalgada latino-americana de um barbudo marechal a
desembainhar uma ridícula espada, em mais um triste pronunciamiento. Um hispano-americano disse então, com irônica e
nostálgica propriedade, que caía a única república latino-americana.
Pois não é que a Câmara de
Deputados se aproveita de uma longa noite suja e vara a madrugada, não para
tratar de grandes temas, mas para aproveitar-se da oportunidade de contrariar a
esmagadora maioria do Povo brasileiro, para votar pacote amarfanhado, sob a
liderança de um senhor de nome Weverton, do Maranhão que já foi berço do maior poeta brasileiro Antônio Gonçalves
Dias (1823-1864), embora hoje ainda persista sob o feudo de José Sarney.
Dentre os colunistas, talvez a
palma caiba a Miriam Leitão, a encarregada da análise econômica, que é a mais
política e contundente de todos ao
dizer-nos a verdade: Congresso afronta o país ao desfigurar um projeto popular.
As tragédias podem acabar em
pastelão, pois o que pareceu a ignóbil tentativa de quem, da sua curul no Senado, pensou entrever a ansiada
salvação, justamente dele, Renan Calheiros, sobre quem pende uma penca de
processos a que o Supremo deveria cuidar de não mais procrastinar, para não dar
ulterior razão ao velho general de brigada, que por cúmulo se chamava de
Gaulle.
Esses atos como o da madrugada
de ontem carecem dos lençóis da noite para que os seus fautores os embalem.
Mas não é o caso de correr
para confirmar essa noitada, como se fora escrita para nossa vergonha e opróbrio.
Dissipados os véus da noite, é hora de reagir, de trazer para as luzes da
verdade e de um Brasil melhor, essa criatura, embalada por Weverton, e uns
tantos outros destinados ao quintal da história, para que essas insanas pretensões,
que estão na contramão da História, venham a ser varridas por panelaços e por ventos
da opinião pública, que está cansada das loucas tentativas de trazer de volta a
terra das vigarices e das falcatruas.
Panelaços neles que a hora das
brincadeiras e das artimanhas petistas já passou!
( Fontes: O
Globo, Folha de S. Paulo, Enciclopédia Delta-Larousse.)
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