quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

O Brasil é mesmo um país sério?

                              
         Não é de hoje que pesa sobre o Brasil o juízo do general de Gaulle: c'est pas un pays sérieux.[1] Estávamos no começo da década dos sessenta do século passado, e o presidente da França invectivava contra o Brasil por motivo da chamada guerra da lagosta. O episódio, felizmente, incendiou mais as páginas dos jornais de então, do que algum incidente militar. Ficou das brumas desse passado a invectiva do herói francês da IIª Guerra Mundial, e um período em que as relações franco-brasileiras ficaram com missões diplomáticas chefiadas por encarregados-de-negócio.
          O que ficou mesmo na memória nacional é o doesto: o Brasil não é um país sério.  O orientalista Edward W. Said, libanês, mas que terminou a vida radicado nos Estados Unidos, pensou definir a nossa terra como, ou  igual à Nigéria, sem grandes marcas (non-descript country). Outros nos taxaram como o país do carnaval e do futebol. Até mesmo nisso, o campo está aberto para dúvidas, como assistimos, tão estatelados quanto o técnico Filipão, aos sete a um de Belo Horizonte.
           Na nossa história, há noites de garrafadas, da derrubada do primeiro Imperador, e do despertar grosseiro do velho Imperador, por militar de baixo escalão, pois os cabeças do golpe tinham pressa de embarcá-lo rumo ao exílio. Envergonha-nos até hoje a cavalgada   latino-americana de um barbudo marechal a desembainhar uma ridícula espada, em mais um triste pronunciamiento. Um hispano-americano disse então, com irônica e nostálgica propriedade, que caía a única república latino-americana.
             Pois não é que a Câmara de Deputados se aproveita de uma longa noite suja e vara a madrugada, não para tratar de grandes temas, mas para aproveitar-se da oportunidade de contrariar a esmagadora maioria do Povo brasileiro, para votar pacote amarfanhado, sob a liderança de um senhor de nome Weverton, do Maranhão que já foi berço  do maior poeta brasileiro Antônio Gonçalves Dias (1823-1864), embora hoje ainda persista sob  o feudo de José Sarney.
             Dentre os colunistas, talvez a palma caiba a Miriam Leitão, a encarregada da análise econômica, que é a mais política e contundente de todos  ao dizer-nos a verdade: Congresso afronta o país ao desfigurar um projeto popular.
                As tragédias podem acabar em pastelão, pois o que pareceu a ignóbil tentativa de quem, da sua curul  no Senado, pensou entrever a ansiada salvação, justamente dele, Renan Calheiros, sobre quem pende uma penca de processos a que o Supremo deveria cuidar de não mais procrastinar, para não dar ulterior razão ao velho general de brigada, que por cúmulo se chamava de Gaulle.
                 Esses atos como o da madrugada de ontem carecem dos lençóis da noite para que os seus fautores os embalem.
                 Mas não é o caso de correr para confirmar essa noitada, como se fora  escrita para nossa vergonha e opróbrio. Dissipados os véus da noite, é hora de reagir, de trazer para as luzes da verdade e de um Brasil melhor, essa criatura, embalada por Weverton, e uns tantos outros destinados ao quintal da história, para que essas insanas pretensões, que estão na contramão da História, venham a ser varridas por panelaços e por ventos da opinião pública, que está cansada das loucas tentativas de trazer de volta a terra das vigarices e das  falcatruas.
                 Panelaços neles que a hora das brincadeiras e das artimanhas petistas já passou!

( Fontes:  O  Globo, Folha de S. Paulo, Enciclopédia Delta-Larousse.)               



[1] Não é um país sério.

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