Citado na delação premiada de Cláudio
Melo Filho, ex-diretor da Odebrecht - assim como boa parte de seus principais
auxiliares também salpicados pela Operação Lava-Jato, o Presidente Michel Temer
se valeu da retorsão (figura de estilo que utiliza parte dos argumentos
adversários na própria defesa) para apelar ontem à instabilidade política e à crise econô -
mica que o país atravessa para encarecer ao PGR Rodrigo Janot, celeridade nas
investigações que atingem à cúpula de seu governo e do PMDB.
Na expectativa de outras mais 76
delações da empreiteira Odebrecht virem a público, Temer argumentou que o
ajuste fiscal do governo vem sofrendo "interferência" de
"ilegítima" divulgação dessas colaborações premiadas. A princípio, a
idéia do Planalto era pedir a abertura
do sigilo em todas as delações. Tal
possibilidade foi discutida em reunião na manhã desta segunda, 12 de dezembro,
de que participaram Temer e os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil), citado na
delação; e Alexandre de Moraes
(Justiça), Grace Mendonça (AGU), além de Romero Jucá, líder do governo no
Congresso e do Secretário do Programa de Parcerias de Investimentos, Moreira
Franco, esses dois últimos também citados pelo delator.
Esse plano de contra-ataque, no entanto, teve de ser suspenso, pela
circunstância de que as delações até a sua homologação pelo Supremo estão sob
segredo de Justiça. O Governo partiu então para a opção "b", através
de envio de carta em que diz estar a União sofrendo interferência de o que
chamou de ilegítima divulgação de
colaborações premiadas. Nesse documento, o presidente Temer alega "clima
de desconfiança, geradora de incerteza", o que seria um elemento
perturbador para a União.
Para o círculo do Presidente, o
requerimento teve tom "respeitoso", sem aparentar açodamento nas
investigações que agora podem chegar ao núcleo duro do governo e ao partido de
Temer.
O objetivo do Planalto teria sido levar Janot a dar um "freio
de arrumação" nas delações e nos vazamentos.
Consoante explicou auxiliar presidencial,
esse documento não é forma de enquadrar o Ministério Público, mas um
posicionamento claro do Executivo, que não pode ficar refém de vazamentos toda
semana, sujeito a instabilidades para governar. Esta pode ser uma oportunidade
para Janot ajustar internamente as investigações e delações. Esperamos que seja
usada para o bem.
Nesse sentido, o ofício presidencial
lembra que em situação "análoga" Janot já suspendera tratativas de
colaboração premiada. Com efeito, em agosto o PGR determinara suspensão de
delação do ex-presidente da OAS que também é chamado Léo Pinheiro, bem como
colaborações premiadas de outros executivos da construtora.
À noite em São Paulo, quando o
Presidente recebeu o prêmio Líder do Brasil, oferecido pelo grupo Lide, do
prefeito-eleito de São Paulo, João Dória (PSDB), Temer afirmou que se "houver
delitos e malfeitos" na política brasileira, eles devem ser revelados
todos de uma vez, para não paralisar o país.
A reação do Presidente é
consequência da avaliação interna de que a delação de Cláudio Melo Filho é um
"relato parcial" de uma série de eventos que muitas vezes "não
tem coerência". Para o Planalto, a
delação não reflete o cenário político
do período descrito, boa parte transcorrido durante o governo Dilma Rousseff.
Nesta época, alegam governistas, o PMDB não estava no centro do poder, apesar
de controlar uma diretoria da Petrobrás. Um auxiliar presidencial lembra que
Geddel Vieira Lima, ex-ministro da Secretaria de Governo de Temer, estava sem
mandato, e que Padilha e Moreira tinham ação limitada pelo governo petista. Outrossim,
os governistas disseram estranhar o não-envolvimento de personagens centrais na
gestão de Dilma,
( Fonte: O Globo )
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