domingo, 18 de dezembro de 2016

Sully

                                       
       Clint Eastwood, o sóbrio diretor estadunidense, volta a fazer filme com herói americano. Tom Hanks, que já personificou tantos, é agora o veterano piloto Chesley (Sully) Sullemberger, comandante do voo US Airways 1549, com cento e cinquenta passageiros a bordo.
       O filme principia com o acidente. Saindo do aeroporto La Guardia, de New York, logo após a decolagem, chocam-se com os reatores do avião, na manhã de quinze janeiro de 2009, duas revoadas de pássaros, que silenciam um deles e comprometem  seriamente o outro, a ponto de que o piloto Sully, com a anuência do co-piloto Jeff Skyles (Aaron Eckart), entre a volta a La Guardia e o Hudson, decida pelo pouso nas águas geladas do rio.
        Com esse prólogo, e demonstrando grande frieza e habilidade, o piloto Sully prepara o jato para a forçada amerissagem, que ele consegue fazer dentro das possíveis melhores condições, dados os riscos de que aeronave se partisse ou afundasse nas águas do Hudson.
         Mas a destreza do piloto logra negociar um pouso agitado, porém controlado nas circunstâncias. Acionadas as balsas de emergência,  o avião, com  cento e cinquenta pessoas, incluída a tripulação, pousa no Hudson sem afundar.
          Em questão de poucos minutos, se nos apresenta a grande habilidade profissional do comandante, com o pouso no rio, e própria descomunal capacidade de destra coragem e concentração Quarenta mil horas de voo, garantem a incolumidade dos 150 passageiros e de toda a tripulação.
          Depois de verificar pessoalmente que ninguém ficara no avião, foram todos transferidos para as lanchas da guarda costeira.Só,então o comandante Sullenberger abandona a aeronave. 
           O heroísmo do veterano comandante está imantado, pois tudo o mais são decorrência dos minutos do desastre e de descomunal incerteza que o tirocínio e a capacidade acumulada de tantas  horas de voo, estruturam todo o conhecimento e a experiência que lhe são indispensáveis para enfrentar o magno desafio que a tão poucos aviadores felizmente se há de colocar. Dessa maneira, num punhado de instantes o comandante enfeixa sob a concentração e a experiência  de ás da avião civil, a firmeza, a lucidez e a férrea calma para transmutar em feito quase natural na aparência o gesto heróico de uma criatura que ascende em questão de átimos aos altos páramos do heroismo.
              O compacto roteiro do restante da película descreve a capacidade do homem que logra atingir tais alturas. Na própria inaudita coragem e singeleza, a sua atuação enfeixa em punhado de  instantes um gesto que o arranca do  cotidiano.  Sullenberger terá de pagar, então, pela façanha, em que a burocracia aérea pensará enxergar alternativas não tão excelsas, mas quem sabe?, quiçá menos dispendiosas de uma perda de grande aeronave.
                Não pretendo aqui delongar-me em mais detalhes. As peripécias não são colaterais como a palavra helênica insinua, pois trazem outra substância à essência dessa película em que o herói americano reaparece.
                 E é o que verão os cinespectadores, quando hão de notar uma vez mais que Clint Eastwood é muito mais do que simples artesão.

                 E, nesse contexto, talvez melhorem as avaliações da crítica,  pois esse filme não merece a pouca atenção que lhe foi dispensada até agora.

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