Chega em muito boa
hora que a 'Transparência Internacional' - a principal ONG de incentivo ao combate à corrupção - haja escolhido a Lava-Jato
"como a maior iniciativa contra a
corrupção no mundo".
Como assinala em sua hodierna coluna Merval Pereira, não poderia haver
momento mais apropriado para levantar a opinião pública. Com efeito, sob o
choque da audácia dessa ação política que, nas palavras do juiz Sérgio Moro, é escamoteada por "emendas da meia-noite", a turma do
outro lado tenta desfigurar a iniciativa, a ponto de transformá-la em
perseguição a juízes e procuradores do Ministério Público.
O próprio Senador Renan Calheiros surpreendeu a alguns ao tentar fazer aprovar as
ditas medidas, menos de vinte e quatro horas depois que tinham saído da Câmara.
Na pressa, ele tentou dispensar
exigências do regulamento do Senado, querendo transformar o monstrengo aprovado
na noite anterior na Câmara em realidade jurídica, dentro de descarada política
do fato consumado. Não fora a pronta reação de alguns Senadores, a afoiteza de
Renan bem que poderia haver logrado êxito, facilitando o caminho do infame
pacote da Câmara para que fosse de pronto mandado à instância superior.
Ontem não foi decerto um dia das mais
felizes para Renan Calheiros. Por oito votos no Supremo ele foi por fim definido
como réu de ação que corre - o que é decerto, pelo tempo que leva, figura de
expressão - o que não impedirá que dirija o Senado, como vem fazendo até o
presente, e eventualmente substitua, nos seus impedimentos, o Presidente da
República. Normalmente, a sua nova condição de réu o impediria de exercer tais
funções, mas o Ministro Dias Toffolli cuidara de evitar que a recentíssima
medida (1) adotada por maioria do Supremo tivesse algum efeito sobre Renan, ao
apelar para a velha prática de pedir vista desse processo (e assim
interromper-lhe a tramitação).
Cumpre agora motivar a opinião pública
para que o monstrengo da Câmara seja exposto ao relento, como, nos cruéis
procedimentos das práticas de antanho, e que pela natureza disforme dos respectivos preceitos, venha a ser
condenado ao olvido que merece.
Temos pela frente uma luta comprida. Ao recorrer-se amiúde às
marchas e aos ajuntamentos populares, se corre o risco de banalizar tais
processos. Os temas e as barbaridades
que Suas Excelências intentam impingir-nos carecem de serem muito bem
esclarecidos, para que se sinta a ameaça da corrupção e de todo o consequente aviltamento
das instituições e de seus procedimentos que os deputados, em noite a ser
guardada na memória, pelos efeitos com que estes senhores querem ameaçar e
espezinhar a nossa democracia.
Tenho a impressão de que a campanha
contra o infame pacote da meia-noite foi deflagrada sem todo o devido esclarecimento
da opinião pública. É necessário que saibamos todos de o que se trata, e dos
monstrengos jurídicos de que
pretenderiam servir-se Suas Excelências "para que tudo volte a ser como era".
É bom recordar que não foi obra de
principiantes o trabalho de conscientizar a opinião pública nacional nas
grandes, históricas mesmo, manifestações de
13 de março de 2016 contra o inepto regime de Dilma Rousseff e a
corrupção no Brasil, assim como o multitudinário apoio ao Juiz Sérgio Moro. Os resultados desta memorável empresa - que se
espelharam nas grandes demonstrações daquele glorioso domingo - corresponderam
plenamente à vontade do Povo Soberano.
Por isso, as manifestações de
hoje, realizadas em onze estados e no Distrito Federal, precisam ser melhor
preparadas. Não será com medidas de afogadilho, e movimentos cuja necessidade
carece não só de ser compreendida,
mas fundamente sentida pelo Nosso
Povo. Não se faz caminhada para interrompê-la no meio do caminho. Deixar a obra
inacabada é favorecer a intervenção da gente
da meia-noite, gente que só trabalha dois dias por semana, malgrado os
gordos salários que recebe. Que hajam optado por reunir-se passada meia-noite
diz muito do seu intuito de atacar a Lava-Jato.
Pois minha gente e meu Povo,
não esqueçamos nunca que a vida e a Lava-Jato, são "luta renhida; viver é lutar. A vida é combate que os fracos abate, que os
fortes, os bravos, só pode exaltar."
Seria bom não esquecer as
palavras do grande poeta da nacionalidade, Antônio
Gonçalves Dias. Pois como a vida de todos nós é luta renhida, assim é a
Lava-Jato, que não é propriedade de ninguém, mas sim do Povo brasileiro, que
cansado está de corrupção, e de todos os seus males.
Essa grande obra, que é
feita sob a batuta de nossa Gente, não carece de ser feita à noite ou de
madrugada.
Ao invés, ela floresce à
luz do dia, porque como o filho da Terra, ela se alimenta do próprio contato
com o torrão natal, e é luta generosa, que aos trabalhadores protege, e tem a
Verdade como o próprio Lema.
A Justiça, como ela,
para vencer, não carece da Noite, nem do Subterfúgio. E assim como nos ensina o Poeta: As armas ensaia, penetra na Vida: pesada ou
querida, viver é lutar.
E não esqueçamos jamais o que nos
diz o poeta da Nacionalidade:
" Se o duro combate,
os Fracos abate,
Aos Fortes, aos
bravos
Só pode
exaltar."
À luz do Sol, os escritos da
meia-noite definham. Não permitamos que a Operação do Povo brasileiro para
fustigar e erradicar a Corrupção seja desvirtuada por normas espúrias. A Lava-Jato não é só patrimônio do Nossa
Gente, mas sim o gládio da Justiça que quer varrer da própria Terra a praga da Mentira
e da Corrupção.
Vamos erguer à
luz do dia - porque quem não deve não teme - a voz do poeta grande. Ele nos
acompanha desde muito e em todo o lugar.
Que a
assembléia do Povo brasileiro acompanhe a voz do Poeta, em cada avenida, em
cada praça, sem medo, sem rebuços, e à clara luz das ruas. Vamos limpá-las das
tretas da noite, e bem alto levar - em nossos logradouros - o Pavilhão da
Lava-Jato, que é propriedade do Povo brasileiro e dele só, eis que Ele não só paga com o próprio suor, mas empurra e leva
adiante com a força de toda a gente, essa Operação que carrega em si os votos
de Justiça que será sempre cega, enquanto realiza a própria Obra,
espelho sagrado das conquistas de um Povo.
Que maior
vitória acaso poderemos ambicionar se lograrmos
trazer para a realidade o voto simples, mas reto do Poeta grande da Nacionalidade
?
(Fontes: Antônio Gonçalves Dias, Jorge Amado, Giuseppe Tomasi príncipe
di Lampedusa, O Globo, coluna de Merval Pereira, Enciclopédia Delta-Larousse )
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