quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

O carniceiro de Aleppo

                              

         Não é decerto título invejável, mas há muito poucas dúvidas de que Bashar al-Assad não faça jus a tal designação.
         A guerra civil síria toca o seu amargo fim, com as forças do exército de Assad tomando posse de o que resta do símbolo da resistência rebelde.
          Com o apoio que tinha da Rússia e do Irã, desde muito tampouco restavam  dúvidas de que a heróica caminhada dos rebeldes, uma das primeiras manifestações da Primavera Árabe, se cingia agora à senda dos extermínios, com famílias inteiras sendo sacrificadas pela simples razão de se encontrarem no lugar errado.
          A omissão do Ocidente começou quando Barack Obama recusou qualquer ajuda à frente dos rebeldes, como Hillary Clinton, então a autoridade sênior dentre os quatro chefes de Departamento que recomendaram essa postura ao 44º presidente, dele receberam um não, que na época lhe terá parecido esperto politicamente.
           Com tal prudente renúncia, Obama terá preferido, em termos de campanhas difíceis, a eterna expedição no Afeganistão.
            O problema com a providente astúcia na política, é que se abandona aqueles que acreditaram nos toques e nos encantos da liberdade. Putin, sedento de poder grande, ao receber o régulo sírio - que muitos, inclusive parentes seus, tinham abandonado por havê-lo já na senda do exílio - na aliança da submissão, como descrita em blog anterior, teria o caminho desimpedido para aumentar a respectiva presença, tanto na Terra da passagem, quanto o próprio incremento nessa região médio oriental, com bases aéreas e navais.       
             O  Leão da Síria, malgrado os massacres perpetrados na detestada Aleppo, enquanto símbolo da resistência rebelde, ainda não parece saciado, nem satisfeito. Até crianças foram passadas nas armas, nessa sangrenta orgia da conquista.
              Mas voltemos ao 44º presidente, que dispõe de pouco mais de uma trintena de dias, primo para assistir ao arrebanhamento de um povo, finda a revolta síria. Não se trata de que assistirá como res inter alios acta (questão   a cargo de outros) a disposição do território sírio, pois felizmente poderá participar  da eventual vitória sobre o E. I. , na recuperação de Raqqa e em outras áreas.
                   Quanto à reconstituição da Síria, as possibilidades são muitas de que não faltarão excessos, nem situações em que prevalecerá a política de Breno, o chefe gaulês que respondeu aos pedidos de clemência dos romanos - ainda fracos - com o dito "vae victis" (ai dos vencidos).
                    Pena por isso que ao povo sírio resta ainda muito sacrifício e ocasiões como a descrita acima, por haver o presidente Obama acreditado por demais na diplomacia sem o aporte da força armada.
                    Não é que pretenda transformar esse bom presidente americano - e as suas qualidades hão de crescer ainda mais diante de quem lhe sucede - em responsável por tudo no Oriente Médio.
                     Mas dada a lição de Aristóteles de que a virtude está no meio, talvez Barack Obama haja errado nos graus que atribuíu à diplomacia, acreditando, em certas situações, que ela pudesse dispensar o aporte das armas.
                     Não é evidente que o povo sírio já sofreu em demasia. Não se resolverá a questão dos refugiados na Europa - tão inserida no problema da guerra na Síria - se permitirmos que se instale em Damasco a versão segunda do Tirano Bashar.
                     Pena que como preceptor democrático falte muito aprendizado a gospodin Putin. Mas não será por insana política de terra arrasada e de perseguição dos vencidos que se construirá um futuro vivivel, com o retorno de muitos desses refugiados para a Síria.   


( Fontes: O Estado de S. Paulo, The New York Times )             

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