Não é decerto título
invejável, mas há muito poucas dúvidas de que Bashar al-Assad não faça jus a tal
designação.
A guerra civil síria toca o seu amargo
fim, com as forças do exército de Assad tomando posse de o que resta do símbolo
da resistência rebelde.
Com o apoio que tinha da Rússia e do
Irã, desde muito tampouco restavam dúvidas de que a heróica caminhada dos
rebeldes, uma das primeiras manifestações da Primavera Árabe, se cingia agora à
senda dos extermínios, com famílias inteiras sendo sacrificadas pela simples
razão de se encontrarem no lugar errado.
A omissão do Ocidente começou quando
Barack Obama recusou qualquer ajuda à frente dos rebeldes, como Hillary
Clinton, então a autoridade sênior dentre os quatro chefes de Departamento que
recomendaram essa postura ao 44º presidente, dele receberam um não, que na época lhe terá parecido
esperto politicamente.
Com tal prudente renúncia, Obama
terá preferido, em termos de campanhas difíceis, a eterna expedição no
Afeganistão.
O problema com a providente astúcia
na política, é que se abandona aqueles que acreditaram nos toques e nos
encantos da liberdade. Putin, sedento de poder grande, ao receber o régulo
sírio - que muitos, inclusive parentes seus, tinham abandonado por havê-lo já
na senda do exílio - na aliança da submissão, como descrita em blog anterior, teria o caminho
desimpedido para aumentar a respectiva presença, tanto na Terra da passagem,
quanto o próprio incremento nessa região médio oriental, com bases aéreas e
navais.
O
Leão da Síria, malgrado os massacres perpetrados na detestada Aleppo,
enquanto símbolo da resistência rebelde, ainda não parece saciado, nem
satisfeito. Até crianças foram passadas nas armas, nessa sangrenta orgia da
conquista.
Mas voltemos ao 44º presidente,
que dispõe de pouco mais de uma trintena de dias, primo para assistir ao arrebanhamento de um povo, finda a revolta
síria. Não se trata de que assistirá como res
inter alios acta (questão a cargo de outros) a disposição do território
sírio, pois felizmente poderá participar da eventual vitória sobre o E. I. , na
recuperação de Raqqa e em outras áreas.
Quanto à reconstituição da
Síria, as possibilidades são muitas de que não faltarão excessos, nem situações
em que prevalecerá a política de Breno, o chefe gaulês que respondeu aos
pedidos de clemência dos romanos - ainda fracos - com o dito "vae
victis" (ai dos vencidos).
Pena por isso que ao povo
sírio resta ainda muito sacrifício e ocasiões como a descrita acima, por haver
o presidente Obama acreditado por demais na diplomacia sem o aporte da força
armada.
Não é que pretenda
transformar esse bom presidente americano - e as suas qualidades hão de crescer
ainda mais diante de quem lhe sucede - em responsável por tudo no Oriente
Médio.
Mas dada a lição de
Aristóteles de que a virtude está no meio, talvez Barack Obama haja errado nos
graus que atribuíu à diplomacia, acreditando, em certas situações, que ela
pudesse dispensar o aporte das armas.
Não é evidente que o povo
sírio já sofreu em demasia. Não se resolverá a questão dos refugiados na Europa
- tão inserida no problema da guerra na Síria - se permitirmos que se instale
em Damasco a versão segunda do Tirano Bashar.
Pena que como preceptor
democrático falte muito aprendizado a gospodin Putin. Mas não será por insana política de terra arrasada e de perseguição
dos vencidos que se construirá um futuro vivivel, com o retorno de muitos
desses refugiados para a Síria.
( Fontes: O Estado de S. Paulo, The New York Times )
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