segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Pela Lava-Jato e contra Renan ?

                              


         Milhares de pessoas foram às ruas em todos os estados e no Distrito Federal contra as mudanças no pacote anti-corrupção. Também foram objeto de protesto e repúdio os ataques a Lava-Jato pelo Congresso.
         Em particular, os manifestantes elegeram como alvo o presidente do Senado, Renan Calheiros, autor do projeto que pune o abuso de autoridade de juízes e promotores. Tampouco foi poupado o Presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia.

        A impérvia atitude de Renan Calheiros espanta pela sua postura arrogante, quando este senhor recebeu, através do Presidente Michel Temer,  "apelo institucional" da presidente do Supremo Tribunal Federal, Ministra Carmen Lúcia, para que lhe fosse transmitido e ao Poder Legislativo solicitação para que não discutisse, nem votasse, o projeto que torna crime o abuso de autoridade de juizes  e membros do Ministério Público.
         No sentir da Ministra Carmen Lúcia, tal poderia criar uma grave crise entre os Poderes, com consequências imprevisíveis.

         O Presidente Michel Temer procurou no mesmo dia o Presidente do Senado, Renan Calheiros.
           No entanto, o apelo presidencial caíu em ouvidos moucos e não produziu qualquer mudança de atitude do Senador Renan Calheiros, que se manteve irredutível.
            Temer, que se tem por conciliador, destacou na oportunidade que respeitou a decisão de Renan de ter prosseguido nas tentativas para votar a matéria.
             E assim continuou o Presidente da República: "Por temperamento, não tenho por hábito constranger ninguém.  Como presidente da República é imperioso que eu respeite as decisões e a independência de  outros Poderes.  Aliás, essa também foi a preocupação da ministra Cármen Lúcia ao fazer esse apelo. Sendo assim, tive a cautela de não insistir no assunto (meu o grifo).

              Alvo de onze inquéritos e desde quinta-feira, uma ação penal, Renan Calheiros lidera cruzada pela aprovação de nova legislação sobre "abuso de autoridade", que atingiria juízes e integrantes do Ministério Público. Além de autor da proposta, apresentada em julho, Renan deu máxima celeridade à votação do tema. Contrariou, inclusiva, a posição do primeiro relator, o Senador Romero Jucá, que defendia que a votação só ocorresse ao cabo da Lava-Jato.  Alçado a líder do Governo, Jucá deixou a relatoria da dita legislação, que foi entregue ao Senador Roberto Requião, notório defensor de tais medidas.
                 No entanto, o ardor de Renan Calheiros foi muito além.  Ele viu oportunidade na última semana de colocar em votação a versão desfigurada das medidas contra a corrupção, que fora aprovada na madrugada de quarta-feira pela Câmara. Por meio de emenda, os deputados também incluíram artigo sobre o "crime de abuso de autoridade" por parte de juízes e integrantes do MP. 
                 Diante disso, os integrantes da Força Tarefa da Lava-Jato reagiram e afirmaram que, se a proposta entrasse em vigor, haveria a renúncia coletiva dos investigadores.
                 A grande preocupação, inclusive de advogados que usualmente militam no campo oposto  ao dos integrantes da Força-Tarefa, é com a possibilidade de a proposta ser usada para coagir  magistrados e procuradores, uma vez que os supostos crimes de "abuso de autoridade" são propositalmente genéricos, como a atuação "de modo incompatível com a honra,  dignidade e decoro" e "com motivação político- partidária."
                   Apesar das críticas, em um frenesi Renan se mobilizou na quarta-feira para aprovar requerimento de urgência que permitiria a análise imediata da proposta vinda da Câmara.  Diante da reação dura de muitos Senadores,  e da mobilização nas redes sociais, o requerimento acabou sendo rejeitado.
                    Dessarte, a medida que fora aprovada pelos deputados vai tramitar normalmente nas Comissões do Senado.  Sem embargo, já amanhã o plenário do Senado deve começar a analisar a proposta de Renan. 
                     Diante da relativa pasmaceira,  nesta quinta-feira, em audiência no Senado, o Juiz Sergio Moro voltou a criticar  a votação de tal medida neste momento e encareceu que, pelo menos, se coloque uma emenda ao texto declarando que não pode ser considerado abuso a diferença de interpretação da legislação.
                   Tudo isso sob a presidência de Renan Calheiros - que acaba de ser declarado réu pelo Supremo, embora por intervenção do aliado Dias Toffoli a condição de réu não o impedirá de continuar presidente do Senado, nem de ocupar interinamente a presidência da república. Por meio de comezinho pedido de vista - sem adentrar em qualquer mérito - Toffoli impediu que pudesse vigorar desde já a medida do STF que declara que, enquanto réu, Renan Calheiros não poderia continuar na presidência do Senado, nem assumir interinamente a presidência da República.
                    Entrementes, como se vê acima, Sua Excelência Michel Temer, o Presidente da República, conciliador por temperamento, prefere não intervir na questão em discussão... Será que não há qualquer limite para a postura conciliatória de Sua Excelência?
                    Nem com Hannibal ad portas haveria motivo para tomar medidas em prol da salvaguarda da República?



( Fonte: O Globo )

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