Pelas escolhas que
fez, a Administração Obama chega ao final das hostilidades, em posição mais de
assistente do que de participante. A opção que o 44º Presidente fizera no
início de seu segundo mandato, enjeitando a proposta dos chefes de Departamentos
voltados para o exterior, determina a involução do conflito, com a crescente
presença da Federação Russa, de Vladimir Putin, no cenário bélico.
Bashar al-Assad, ao viajar para
Moscou, para apresentar ao Senhor de todas as Rússias o seu pleito e súplica,
sabia que gospodin Putin passaria a ter a última palavra em tudo
o que lhe aprouvesse, no que concerne à sorte de seu país, então despedaçado e
muito, pela própria inépcia do sucessor de Hafez al-Assad. Doravante, o domínio
alauíta só teria possibilidades de reafirmar-se com a boa vontade do Senhor do
Kremlin.
Dessarte, ao fazer a longa viagem à
Corte do frio e ambicioso Vladimir Vladimirovitch, ele, como os antigos
potentados africanos que subiam os degraus do Senado para suplicar ser acolhidos
como vassalos de Roma, bem sabia que não tinha outra opção, nem outro caminho,
que o da submissão ao seu Novo Senhor. Por incapaz e falto de habilidade
política, desperdiçara os trunfos que o próprio Pai lhe passara, e agora só lhe
restava confiar o respectivo destino àquele que doravante ditar-lhe-ia as escolhas e posições.
Putin, que sonha recuperar a primeva
preeminência da União Soviética, colheu a oferta com o gesto largo de quem vê
na virtual abjeta deposição da respectiva soberania a oportunidade grande, que
guardadas as aparências de avidez, já prelibava a ocasião rara de empunhar mais
uma base para o reforço do respectivo poder (hoje dispõe de um porto de aguas
quentes no Mediterrâneo Oriental e grande base aérea).
Passados uns poucos anos, a
dependência do leão da Síria está mais fincada. A vitória sobre os
guerrilheiros livres e a tomada de o que resta da antes segunda cidade da
Síria, Aleppo, já pode ser havida como a inelutável consequência, tanto da
incapacidade da diplomacia de Obama assegurar-lhe qualquer proteção, quanto da calamitosa
situação militar, que é triste consequência da falta de visão estratégica de
Barack H. Obama, que chegara a pensar, tolo
que foi![1],
na capacidade da Superpotência controlar os eventuais excessos através da
diplomacia... A História, essa por vezes severa mestra de governantes, ensina
que, assim como alguém despojado de força não dispõe de qualquer poder de
persuasão, muito menos para quem pretenda pairar sobre um conflito, e tentar
controlá-lo apelando para a diplomacia.
A história ensina que só a força
militar pode discutir sobre eventuais condições de paz. Os tratados em Genebra não passarão de papéis
inconsequentes, se não se traduzirem na capacidade de que se tornem realidade.
Caso contrário, eles serão as cruzes das malogradas tentativas que transformam
o Palais des Nations em cemitério de
causas esquecidas.
O realista Putin só dá atenção a
quem tenha presente o velho ditado: se queres a Paz, prepara a Guerra.
O fracasso de Barack Obama nesse
particular quem o está pagando e muito caro é o povo sírio, submetido a
incessantes bombardeios com barrel-bombs
(petardo explosivo, com todo tipo de metal que malgrado defeso pela lei da
guerra, vem sendo empregado pela aviação síria, segundo se afiança). Tampouco é
segredo que Aleppo venha sendo submetida a um tapete de bombardeios, que não
poupa nem hospitais.
A aviação americana trata de preparar a próxima
queda do Exército Islâmico, colocando as remanescentes cidades que permanecem sob
o cruel poder do califa al-Baghdaadi
a sustentados bombardeamentos. Pelo seu banditismo e pelos vis métodos
empregados, o E.I. decretou a própria destruição. No entanto, cabe perguntar
porque valer-se de barrel bombs e da
destruição de nosocômios e outros abrigos em Aleppo, que já virou uma chaga
aberta, que deve achar melhor cair sob as botas dos soldados do leão Bashar[2], do que sofrer tais
ataques.
Dessarte, a paz não está longe
da Síria. Mas os padecimentos desse povo, que se excitam por vezes a terna
compaixão do mundo civilizado - como através da foto de Aylan Kurdi, menino de três anos encontrado afogado em praia da
Turquia - se mostram a cruel amplitude
desse fautor de mortes, não pode viver sob a empresa do efêmero.
A abortada revolução síria,
essa infernal produtora de desgraças, doenças de toda sorte, de deslocados e de
incontáveis refugiados - o que um desafio sem fronteiras, como se depara nas
multidões que atravessam a Europa, ladeados pelo arame farpado de novos regimes
que nos relembram os velhos do intermezzo
entre Primeira e Segunda guerras, com o neo-fascismo vendendo saúde, enquanto
barcaças e botes buscando atravessar o Mediterrâneo preparam a seara
inexgotável dos afogados.
Em termos de mesquinharia,
a palma vai para o regime neo-fascistóide de Viktor Orbán, na Hungria, embora a
concorrência nesse campo seja grande. Pelo fato de haver acolhido uma vaga de
cerca um milhão de refugiados, a Alemanha de Frau Angela Merkel, por sua
coragem, enfrentou séria crise no próprio país.
Tudo isso mostra uma crise
descomunal de refugiados, produzidos em grande parte pelo inferno do conflito sírio,
que nesta semana completa cinco anos. Atualmente, eles são 4,8 milhões em
países vizinhos ( Jordânia, Turquia, Grécia) e 900 mil na Europa (Alemanha).
Eles são repelidos na Hungria, na Croácia, tem o ingresso barrado pela
Inglaterra e vagam pela França.
A melhor solução para a
presente crise de refugiados está na paz da Síria. Infelizmente, esta paz surge
hoje naquele país como a paz dos... cemitérios. No entanto, apesar da ditadura
de Bashar, ainda a solução com maiores possibilidades está em trazer de volta
àquele país as imensas levas que foram criadas pela irresponsável crueldade do
ditador al-Assad. Como a definição de Churchill sobre a democracia - o pior
regime existente, excluídos todos os demais - ele também vale um pouco para
encarar como a solução menos ruim a relocalização - mas em condições dignas -
do povo sírio na sua terra.
O egoismo que é a
política mais em voga na atualidade - e a presença de Mr Donald Trump, dom
proporcionado à América (e ao mundo) pela estranhíssima atuação do chefe do
FBI, Mr James Comey (V. meu blog de ontem, 7 de dezembro - O grande eleitor de
Donald Trump) coloca diante de nós essa enorme pedra - o egoismo dos povos
modernos. Não é só decerto um trabalho de liderança, mas a boa vontade aí
entra, em grandes doses, se se ambiciona algum sucesso. A própria Merkel se tem
empenhado em uma política sensata de acolhimento - e os perigos desse desafio
são claros, como foi a queda da popularidade de Frau Merkel, que ela parece
estar ora em condições de superar.
E pensar que o
Presidente Barack Obama, com um pouco mais de visão e quiçá de outras
qualidades, teria criado melhores condições de encaminhamento a um final
pacífico do drama sírio, possivelmente com o afastamento do principal fautor do
problema...
( Fontes: Homero,Winston Churchill, Carlos Drummond de
Andrade, The New York Times)
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