sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Mudam os ventos ?

                                        
         Como interpretar a aceitação da denúncia feita pela Procuradoria Geral da República de Renan Calheiros, Senador pelas Alagoas, do PMDB, que surgira faz tempo na política com o grupo do então presidente Fernando Collor, o primeiro a sofrer impeachment pela questão do Fiat Elba?
        É de causar espécie o tempo transcorrido para que Sua Excelência se tornasse réu. Ainda por cima, há questionamentos generalizados sobre a demora da PGR em apresentar a denúncia (levou cinco anos).
        De qualquer forma, se muitos juízes avaliaram que a denúncia não era um primor (Teori Zavascki, Carmen Lúcia e Luiz Fux), outros, como Luís Roberto Barroso e Rosa Weber a acharam aceitável, como também o próprio relator, ministro Edson Fachin.
       Houve uma trinca de ministros, Dias Toffoli, Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski, que discordou. Aliás, Toffoli se valera anteriormente do notório recurso do 'pedido de vista' do processo, para sustar a  votação pelo Supremo de que réus não possam entrar na linha sucessória constitucional (a Corte, em sua maioria, já aprovou a proibição de que réus do Supremo não possam entrar, mas o estranho pedido de vista de Dias Toffoli impede que vire norma uma disposição tão lógica quanto éticamente válida).
        O recurso do pedido de vista carece de ser regulamentado pelo Supremo. Tem havido abusos - existiria um pedido que chegou a durar mais de ano - e de toda forma, se a vista do processo é admissível, por motivos tautológicos, o que não o é, constitui  o seu abuso, em que a vista do processo não passa de  expediente de subtraí-lo a que a maioria da Corte chegue a uma decisão. Carmen Lúcia me parece presidente com autoridade e firmes princípios éticos para enfrentar esse vespeiro.
         O STF é uma corte de respeito, e o pedido de vista deve servir ao real propósito de informar-se melhor. De qualquer forma, não é sério que ministros dele se sirvam, sem o limite de qualquer prazo. Um mês seria o tempo máximo de subtrair a questão ao exame da Corte.
         Os abusos no pedido de vista têm de ser coibidos. Salvo pelo gongo de Toffoli,  Renan Calheiros pode continuar a agarrar-se à prestigiosa curul da  presidência do Senado.
         Seria melhor que, como já o deseja a maioria de nossa Suprema Corte, Renan, ao virar réu, fosse afastado da presidência. São claros os motivos que tornam essa saída da presidência como a consequência natural.
         Mas será que Renan  ouvirá esse surdo clamor?


( Fonte: Folha de S. Paulo )                                           

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