O que, de início, surpreende é o viés
da CIA (Agência Central de Inteligência): não foi apenas para
criar o caos durante a campanha presidencial americana que os hackers russos intervieram. Segundo a
avaliação da CIA, tal intromissão foi realizada com o escopo específico de
fazer Donald Trump Presidente.
Por quê o Presidente Barack
Obama - a quem as avaliações da CIA são repassadas durante os briefings na Casa Branca - não julgou
oportuno referir essa posição do principal órgão de inteligência americano? É pergunta
difícil de responder, que talvez tenha algo a ver com a discrição do 44º
presidente.
Como tudo que diga respeito a tal tipo
de informação - que é baseada em dados circunstanciais, o que para alguns não
serve para embasar juízos mais sólidos - ela é sujeita a discussão.
Muitos acreditam que os russos
procuraram ajudar Mr Trump - conforme as instruções recebidas do seu chefe
supremo - e por isso faz muito sentido a análise feita pelas agências
americanas. Sobravam motivos para tanto.
Não surpreende tampouco que Mr Trump
tenha buscado tirar credibilidade de tais avaliações, e para tanto se valeu do
famoso erro da CIA de 2002, em que afirmara dispor Saddam Hussein das famosas
armas de destruição em massa (WMD).
O que atrapalha a versão do
Presidente eleito é que existem discordâncias ... dentro de seu próprio
partido, como a do Senador John McCain, que acusa os russos de interferência.
Por sua vez, o Deputado Adam
B. Schiff, da Califórnia, o democrata sênior no Comitê de Inteligência
da Câmara, afirmou que está publicamente comprovada a ajuda para "o mais
ostensivo candidato pró-Rússia na história."
Como
já referido anteriormente pelo blog,
os hackers russos acessaram tanto
documentos do Comitê Republicano, quanto do Democrata, mas ó mistério,
preferiram só divulgar aqueles do Comitê Democrata...
Há vários episódios no passado,
que motivaram acusações do Governo russo - e de gospodin Putin, em especial - contra a Sra. Clinton. Assim, Putin
acusou Hillary de instigar os protestos
em 2011, quando os demonstrantes escandiram "Putin é um ladrão" e
"Rússia sem Putin".
Também o Kremlin culpou a Sra. Clinton, e outras autoridades americanas, de
encorajar revoltas anti-russas como a Revolução
Rosa na Georgia (2003) e a Revolução
Laranja, na Ucrânia (2004). O que não passara de campanhas pró-democracia,
Putin via como intrusão na esfera de influência russa.
Há também interpretações
discrepantes quanto à visão dos serviços especializados estadunidenses. Assim, para o F.B.I. os serviços russos teriam uma combinação de objetivos: prejudicar
a Sra. Clinton, e sabotar as instituições democráticas americanas. Se uma das
metas seria a de instalar Mr Trump na Casa Branca não fica claro...
Por outro lado, ainda segundo
tais fontes, as conclusões da CIA tenderiam a ser mais matizadas do que aquelas
publicadas pela mídia.
O F.B.I. demonstra preocupação bastante
com a influência russa na eleição - e possíveis conexões com a campanha de
Trump - a ponto de ter brifado líderes no Congresso. O então líder da minoria no Senado, Harry Reid[1]
(Dem.-Nevada) pressionou o FBI para que investigasse mais, e chegou a acusá-lo
de não divulgar informação importante que poderia envolver a Rússia.
Mas as suspeitas do FBI
diminuíram quanto a um esforço de Moscou para ajudar Trump. O tema não foi
esclarecido pela direção do FBI.
Agora, com uma briga dos dois
partidos sobre qual o papel desempenhado pela Rússia para influenciar a
eleição, é possível que haja apoio na Colina do Capitólio para montar uma
investigação congressual...
( Fonte: The New York Times )
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