Diante das
perspectivas, mais uma vez entrou em cena a turma do deixa disso, e tudo ficou
(ainda que mais ou menos) como dantes em nosso quartel de Abrantes.
O deixa-disso
junto com a composição tem por vezes mais força do que a própria da Lei. Não é
que o Brasil tenha horror a brigas, mas talvez exista um traço conservador que
muita vez prefere a certeza de uma composição com ganho menor do que um
enfrentamento com resultado imprevisível.
Isto não é de
hoje. Veja-se, por exemplo, a batalha de Itararé, aquela que não houve, e que,
sem embargo, selou o fim da República Velha.
Feitos os
cômputos, a decisão dos dois lados então pendeu para a revolução saída do Sul.
O cardeal embarcou no carro com o carrancudo Washington Luiz, que partiu para o
exílio, sem que do decisivo encontro às portas da província de São Paulo
houvesse mortos a registrar.
Não sei de
onde saíu essa inclinação para uma fria contabilidade, com a consequente
vitória incruenta de uma das partes.
Mutatis
mutandis, a crise entre Senado e Supremo tampouco exigiu sangue, ou a perda
da face dos eventuais contendores. O
Presidente Michel Temer contou com a preciosa intercessão de dois
ex-presidentes, para a turma do Deixa disso.
Assim, o
presidente em exercício colheu o apoio de dois ex-presidentes, Fernando
Henrique e José Sarney, que na discrição dos telefonemas articularam a solução
da crise.
Ajudou o
caráter monocrático da liminar do Ministro Marco Aurélio Mello, que ordenara o
imediato afastamento de Renan Calheiros.
Preferindo
ficar com o que se conhece, apesar de suas características, de o que a
incógnita de uma reviravolta, não terá sido muito difícil convencer alguns
ministros a aceitar uma solução de compromisso, em que, a gosto da
nacionalidade, se evitam as peripécias (no helênico sentido das imprevisíveis
cambalhotas), e se fica com um remendo da prévia situação.
Aí se
encontra a preferência da gente brasileira pelo status quo, que norteia o sentido de composição que, volta e meia, reponta na História do
Brasil (esta mesmo, com letra maiúscula).
A turma
do jeitinho - este que expertos estrangeiros prognosticam o desaparecimento
daqui a dez anos - alisa as vaidades e valoriza a composição. Apesar de que
tudo pareça ficar na mesma, não é bem assim. A magna batalha de Itararé -
aquela que não houve - abriu espaço para um curto governo de quinze anos.
Agora, não sejamos tão sanhudos nessa projeção histórica, mas com o material de
que dispomos, e trabalhando com desafios conhecidos, o resultado tenderá a ser
mais manejável.
E é este
traço da nacionalidade que vai, ainda que por linhas tortas, compondo e
desenhando, e se bem que com as inevitáveis rasuras, o retrato de futuro menos
incerto e, esperemos, mais manejável.
( Fontes: O
Globo, Folha de S. Paulo )
Nenhum comentário:
Postar um comentário