quinta-feira, 9 de julho de 2020

Os Limites da Fantasia


                    

        Qual será a reação do Presidente Jair Messias Bolsonaro quando se tornar corriqueira a verdade de que ele não é o Super Covid-19 que acreditava ser, acima da realidade e das fantasias populares?
           Cercado pelo seu gabinete, não do Dr. Calligari - eis que não é afeito a fantasias do cinema - mas daquele ódio mofino que, de uma forma estranha, convive com manifestações próprias desse submundo, não terá sido de todo surpreendente que o ex-capitão tenha pensado em estar acima das humanas contingências desse árido mundo do coronavírus.
  
          Em toda a panóplia de suas aparições públicas, no palco da extrema exposição presidencial, havia um segredo guardado a sete chaves, vale dizer, o mito da sua incolumidade, narrativa essa que ele pensaria transmutar em força especial.
             Pois ele não chamara à toa de gripezinha este flagelo, que hoje macabramente se aproxima dos setenta mil mortos - estamos na tabela do consórcio de órgãos de imprensa - como se lograsse apequená-la e em a menosprezando, mostraria ao mundo brasileiro que o Super-Bolsonaro crescia diante desse fantasma para tanta gente, seja infectada, seja não, e assim melhor afirmasse a respectiva dominação?

               Pois a sua presença, ignorando as mais das vezes a máscara protetora já não constituia a sua própria afirmação diante de um contágio que, sabe-se lá por quê, ele acreditava impossível, e que cuidava sempre no próprio gestual de contrariar e, mesmo, de afrontar, como se fora o toureiro que dá as costas ao touro?
                 O gérmen do fracasso de uma estratégia se acha na própria húbris, na falsa sensação de poder inconteste que essa sensação transmite. Creio que foi a Folha que passou em revista as últimas jornadas do Presidente antes de cair sob o contágio, que hoje já atinge a um milhão e setecentos e dezesseis mil, e cento e noventa e seis brasileiros.
                 É um número decerto grande e tem dentro dele muito de desrespeito às regras do necessário isolamento.  A assertiva do presidente como o anti-Covid, atitude essa que não trazia consigo uma postura de respeito à ciência e às necessárias precauções de isolamento  que essa situação determinava.  Bolsonaro pensava poder diminuir o vírus, enquanto a sua atitude encarnava a postura negativa de menosprezo ao novo coronavírus. 

                         A sua imprudência em tornar o "desafio" demasiado insistente e aberto cuidou de ser instrumental no próprio desmonte dessa atitude, que ao ver-se negada por um contágio inesperado, tratou de correr para o Hospital das Forças Armadas.

                         O ferrabrás estava nu.

                         Seria de desejar que essa peripécia humanize o personagem. Dada a sua condição, ele pode reagir diante desse desafio de uma forma pró-ativa, cuidando de colaborar na campanha contra o flagelo. Se o vestirem os panos de uma nova postura, em que se assume a necessidade de liderar a campanha contra a pandemia, e através disso a convicção de que não será um mero combatente a mais, porém alguém capaz de reconhecer os próprios erros e a necessidade de, através da enfermidade, ganhar um novo  pró-ativismo, que não desdenha a luta, e, por conseguinte a oportunidade de aglutinar forças  para enfrentar, agora já marcado pela adversidade,  na melhor maneira de assumir o bom combate, que é o de arrostar tal flagelo, de uma postura presidencial de liderança e de consequente firmeza.

( Fontes: O Estado de S.Paulo, Folha de S. Paulo )   

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