terça-feira, 14 de julho de 2020

Witzel aposta na via judicial


                      

       Desgastado politicamente, o governador Wilson Witzel - o processo de impeachment foi iniciado há cerca de um mês, com o voto favorável na Alerj de 69 dos 70 deputados.
           Utilizou-se a emergência sanitária da crise da Covid-19. Embasaram o processo as denúncias referentes a supostos desvios por meio de contratos firmados com a Secretaria de Saúde.

            De acordo com o Ministério Público, há indícios de participação ativa de Witzel - e de sua esposa, que é advoga atuante - quanto ao conhecimento e ao comando das contratações. Nesse contexto, em fins de maio, durante a operação Placebo, a Polícia Federal apreendera o celular e o computador do governador.
              Um ativador da fraude está na dispensa de licitação, instituída sob o pretexto da urgência motivada pela crise na Saúde diante da epidemia. Tal "abertura", aguçando cobiças fraudulentas vem sendo rotineiramente explorada por administradores sem escrúpulos que se escondem atrás do biombo de suposta emergência, que escancaria a porta aos "lucros" sem medida.

                 Fraco politicamente,  Witzel, um ex-juiz, estruturou  forte equipe de advogados. Na área criminal, o governador  é assessorado  pelo advogado Roberto Podval - que já teve como cliente o ex-ministro José Dirceu - além de Ana Tereza Basílio e Manoel Peixinho.
                  Duas semanas atrás, a defesa do governador já havia sinalizado que estratégia pretende adotar.  Os advogados encaminharam à Alerj pedido de suspensão do processo, argumentando que não havia elementos concretos (faltaria, supostamente, materialidade) que venham a incriminar Witzel.            
                Diante do pedido, a comissão da Alerj, que trata especialmente do impeachment, concordou em suspender a contagem dos prazos enquanto aguarda queo STJ envie a cópia dos inquéritos que resultaram na operação que atingiu o governador.

                    Pensando tratar-se de uma premissa do processo, a Alerj cometeu o erro de confiar na suposta condição, eis que o STJ recusou-se a compartilhar as informações, alegando segredo de Justiça. Mesmo assim, a Comissão da Alerj resolveu retomar os prazos, intimando a Witzel que apresente sua defesa até o fim de julho.
                      Como politicamente, não há quem na Assembleia tencione  defender Witzel - a ausência de qualquer voto contrário na Alerj, na apresentação da denúncia mostra a solidão política do governador.Se o processo, com as informações públicas disponíveis já seria cabível de embasa-mento - como a petição inicial da denúncia da Operação Favorito, através do MPF, e a decisão de Benedito Gonçalves (STJ), no pedido de busca e apreensão, realizado em maio último.
                          Por outro lado, a negativa do STJ em compartilhar informações poderá servir para a defesa de Witzel. Mutatis mutandis, até o presente não apareceu nada que caracterize a prova irrefutável (smoking gun). Nesse sentido, a defesa bate na tecla de que não há nos autos elemento capaz de justificar e sustentar acusação com base em meras ilações.
                       Os advogados de Witzel questionam o rito adotado pela Casa. A expectativa é que a defesa continue buscando brechas para desacreditar o processo.
                                A Alerj seja a Lei Federal 1.079/1950, e a súmula vinculante 46 do STF. Juntas, tais determinações prevêem  que cabe à União legislar sobre crimes de responsabilidade, assim como definir o rito do impeachment dos governadores. Sem embargo, a despeito que a legislação federal contemple o caso Witzel, a inexistência de uma regra estadual pode ser utilizada como oportunidade para questionar o encami-nhamento do processo, máxime no que tange  a detalhes da tramitação. Bons advogados - no caso, os de Witzel - sabem que nessas causas, a dubiedade pode funcionar em favor do governador.
                                      Os advogados do governador não desconhecem  que para a salvação nos casos de impeachment, a judicialização do processo pode levar o interessado à salvação, como no caso paradigma  de João Capiberibe (AP), em 2000.
                                      A fraqueza política do Governador, nessas circunstâncias, pode transformar-se em chave de salvação in extremis.              
                               Caso os deputados aceitem a denúncia, se passará aos finalmente, até ser julgado por tribunal misto, constituído por parlamentares e desembargadores do Tribunal de Justiça. A impressão geral é que a decisão sobre o afastamento definitivo está nas mãos do Tribunal.
                                          De um certo modo, quando menos penetrável o julgamento, mais provável se configura  a salvação do governador.  No entanto, se ulteriores detalhes negativos para o governador vierem a lume, os pratos vão pender sempre mais na balança da opinião pública de forma contrária àquela pela qual lutam os advogados de Wilson Witzel.

( Fonte: Folha de S. Paulo )

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