terça-feira, 21 de abril de 2015

O Flagelo da Partidocracia

                 
 
         Como está hoje a terra brasileira, é dolorosa faina descrevê-la.  Parece difícil encontrar instituição que nos dê exemplo de que possamos orgulhar-nos.

         Infelizmente, Congresso e Presidente acabam de nos dar mais um presente de grego. O Legislativo deve acreditar-se como de grande mérito, pelo amargo preço que por ele pagamos. A semente do mau exemplo vem de longa data, com as diárias em dobro do tempo da fundação da nova Capital, supostamente para adoçar a pílula  da transferência da velha capital, o Rio de Janeiro, para a poeira e a precariedade da novacap.

         Não surpreende que, malgrado o passar do tempo e as melhores condições de Brasília, o absenteísmo em Câmara e Senado se tornou a regra. Esse Congresso, entra governo, sai governo, continua o mesmo. O centro de sua atividade são as quartas-feiras. A terça é o dia da chegada, e a quinta, o da partida. A farra das passagens continua, farra esta que se estende à representação de Brasília, como se os deputados distritais carecessem de mais esta prerrogativa. Há um único deputado na representação do Distrito Federal, que recusa tais vergonhosas vantagens. Mas é andorinha solitária, que não move nem comove o resto da bancada.

         Como se tal não bastasse, o nosso Poder Legislativo, se é um dos que menos trabalha, aparece como dos mais bem apaniguados. Junto dele está o italiano, que também custa muito ao próprio Erário, embora talvez trabalhe um pouco mais, pois é difícil concorrer com o fazer nada ou muito pouco do parlamento tupiniquim.

         Se alguém de outro tempo aportasse ao nosso país, o surpreenderia o mau estado de nossas instituições. Aqui como na Chicago dos anos trinta, o mais predomina. Mas decerto ele nada tem a ver com algo de bom, que se traduza em esforço, trabalho, dedicação. Nos dias que correm, aludir a tais conceitos, é incorrer (sem trocadilho) no risco de ser rodeado por risotas escarninhas, pela troca de entr’olhares dos chamados cognoscenti. Em termos de alças salariais, dá triste exemplo a pressa do Supremo Tribunal Federal, ora encabeçado pelo Ministro Ricardo Lewandowski, com a sua presteza na proposta de atualização dos gordos vencimentos dos membros de nossa mais alta Corte. E, dado o sinal, logo acorrem nessa progressão as outras cortes, tanto as superiores, quanto as inferiores, em volúpia que nos recorda os bons maus tempos da inflação, que em má hora nos regalou de volta a Presidenta, posta em tal poleiro por decisão de D. Lula da Silva, primeiro e único. [1]

         Assim, em tempo de corrupção – e que dúvida se pode ter, pois na série maldita do Mensalão, vem agora o Petrolão, com todo o estrago moral e material que imaginar-se possa na terra de Pindorama. O que esse novo Baal vai exigir como carne sacrificial para que a sua pantagruélica fome seja por um tempo saciada, só está escrito nos escaninhos da sorte madrasta.

         Todos os que ora mandam, se declaram sem culpa, abusando quiçá da corroída regra da presunção de inocência. Pode igualmente despertar espécie que os que mandaram antes não dão impressão de desejarem a correção dos costumes, tal a pressa com que acorrem uns a dizer, sem serem para tanto chamados,  que isto ou aquilo não é crime de responsabilidade.

          Mas decerto vivemos em época madrasta, que me recorda avoengo que sardônico dizia aos seus próximos - não chorem muito pelo que lhes ocorre, porque as coisas podem ainda piorar. Não é que a velha regra se confirma?  Nesse incrível país dos trinta e dois partidos – diabólica fórmula que está por trás da armação dos trinta e nove gabinetes, reeditando um país de opereta em que nada é sério, a começar de seus mandantes.

         O mais continua, pois, a ser a grande fórmula dessa medíocre república, que semelha ocultar-se no número para encobrir a própria inutilidade em termos de o que ter possa de interesse público.

         Que a Presidente Dilma Rousseff não se anime a tomar grandes providências, é até compreensível pela sua esquerda posição de dependente de  Congresso que a sua chapa terá ajudado a eleger. Dizem que terceirizou o governo e que não tem autoridade para propor a essa maioria, hoje subordinada a Eduardo Cunha, qualquer medida que possa melhorar o que aí está.

        Na história da República será difícil encontrar Administração que se tenha desmoralizado tão rapidamente quanto esta.

        Hoje, no dizer de um sarcástico embaixador, ela terá dificuldade em receber com presteza o bom e velho cafezinho, que se servia às autoridades.

        Mas na escadaria que leva ao HadesCaronte está de férias – ainda se encontram propostas condizentes com a atmosfera política atual. Sem qualquer pejo – ou eventuais pruridos republicanos de algum respeito – a Presidente Dilma Rousseff sancionou sem vetos o aumento triplicado  dos fundos de todos os partidos – importantes, nanicos, de aluguel ou de vá-lá o que seja – para engordar-lhes as vácuas inserções nos anúncios que situam sempre nos melhores horários, para assim mostrar ao Povo Soberano quem realmente manda neste país que cada vez mais parece ou de opereta, ou de fancaria.

 

( Fontes:  Folha de S. Paulo,  O  Globo) 

 



[1] Conhecedores (italiano).

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