quinta-feira, 9 de abril de 2015

A liquefação do Segundo Mandato

                                     

               Reeleita com três por cento de maioria, através da votação do Nordeste e do Norte do Brasil – o que representa, em grande parte, o aporte da Bolsa-Família – o segundo mandato de Dilma Rousseff surgiu como resultado de eleição apertada, porém inconteste na afirmação da vontade majoritária do Povo brasileiro.

              Sem embargo, a opinião pública, nos escassos meses subsequentes, foi afrontada pela exposição de mentiras e falsidades da candidata do PT, na sua propaganda política, orientada pelo experto marqueteiro João Santana. Ajudou deveras na desconstrução da candidata Marina Silva, a série de mentiras (nas próprias palavras da então representante do PSB) que foram lançadas pela publicidade da Presidenta contra Marina.  Tais mentiras ou deformações não puderam ser contestadas de forma efetiva por uma série de circunstâncias adversas:      o megatempo eleitoral da candidata do PT contra o ridículo espaço dado à representante oposicionista; a negação pelo TSE de direito de resposta de Marina contra assertiva manifestamente falsa da dílmica propaganda (dar autonomia ao BC seria tirar a comida da mesa do pobre...); e o pouco tempo da candidata do PSB contra o excesso de tempo da candidata à reeleição. Nesse contexto, diante da postura do TSE, pareceu à publicidade de Marina inútil postular outros direitos de resposta.

                  O PT tem dado muitas provas de que teme  Marina Silva como candidata. Prova disso esteve na contestação ao registro do partido Sustentabilidade, com muitas firmas contestadas pelos cartórios eleitorais do ABC, em que não é mistério a grande presença do PT na área. Há indicações de que a Rede Sustentabilidade deva encontrar óbices para o registro pelo TSE mais uma vez. Será motivo de espécie que tais dificuldades repontem, a fortiori pelas seguintes razões: na terra da proliferação partidária – e disso o eleitor tem provas por submeter-se a propagandas dos 32 partidos já acreditados legalmente, muitas de pobreza vizinha da indigência na expressão de ideias e programas. Será que o veículo proposto por Marina provoca temor pelo caráter carismático da candidata, sua oposição visceral ao PT, pela honestidade dos princípios, e pela circunstância de sua progressão inatacável na política, e não por último, pela origem indígena e afro-brasileira?

                 Mas deixemos o parêntesis de Marina – como uma oportunidade perdida desta feita, o que não quer dizer que a sua ida para o Palácio do Planalto esteja vedada – e lancemos um olhar sobre a desconstrução do segundo mandato de Dilma Rousseff.

                 A  crise por ela enfrentada, os panelaços que se sucedem, o êxito inconteste da primeira manifestação nacional do Fora Dilma!, e a perspectiva de outras, como a marcada para este fim de semana, não bastariam para explicar a série de erros consubstanciado no início deste segundo mandato.

                  Obtido pelo que foi definido um estelionato eleitoral – as mentiras de sua propaganda do primeiro e do segundo turno que só o pós-eleição desvendaria  - cresceu com a impopularidade da reeleita Presidente o espectro do impeachment, que é alimentado pelo escândalo da Petrobrás e os sucessivos desmentidos pela realidade dos fatos de suas assertivas nos debates e nas promessas eleitorais.

                  No  entanto,  a desconstrução da Presidenta tem recebido uma preciosa ajuda da própria mandatária, em uma sequência de erros e de escândalos que lhe tem corroído com inaudita rapidez os totais da respectiva popularidade, hoje refletidos pelo Datafolha e o Ibope em números que a põem na incômoda companhia do antecessor  Fernando Collor.

                 Por outro lado, nunca um presidente se tem mostrado tão inepto no exercício das próprias prerrogativas. O último erro esteve na maneira em que conduziu a exoneração de Pepe Vargas no intuito de indicar a Eliseu Padilha.  Agindo de forma desastrada, deu oportunidade a que este último recusasse a oferta presidencial, o que um Primeiro Mandatário deve sempre evitar, menos por orgulho próprio, do que pela preservação da dignidade das respectivas funções e de sua atribuição de nomear ministros.

                Esse conjunto de trapalhadas – que vem caracterizando a sua ação em muitas oportunidades – levou a um resultado inesperado e inaudito. Dilma confiou ao Vice-Presidente, o tarimbado político peemedebista Michel Temer, a função da articulação política.

                Não é pouca coisa. Temer é o sucessor natural da Presidenta, e pela sua posição no PMDB pode agora exercer ainda mais poder de o que vinha fazendo. Não é por acaso decerto que o sardônico Chico Caruso, em sua caricatura hodierna, pinte Michel Temer empertigado e envergando a faixa presidencial...

                Como isso vai terminar só Deus sabe.  Vemos a Dilma como um fantasma da afirmativa e tonitruante Presidente do primeiro mandato.  Cercada pela Casa Civil, em que o amigo Mercadante tem funções administrativas, e vendo ao longe a mirífica base partidária despedaçada ao sabor da má política e por força de adversários com fins próprios e considerável experiência no mister – Renan Calheiros no Senado e sobretudo Eduardo Cunha na Câmara – lá se vai o sonho da maioria-carimbo, servil ao Planalto e a seus planos.

                 E reconstituindo a velha imagem do retrato de Dorian Gray, quem se animaria a negar que a anterior, decidida e resoluta Presidenta como que desapareceu, e no seu lugar aparece senhora subitamente envelhecida, com o esgar de quem teme aparições ainda piores, e que é uma sombra do passado.

                 Quanto ao presente, colecionando votos negativos em Congresso onde o PT e Lula acreditavam terem eleito sólida  maioria, resta a fímbria de esperança, que a todo mortal é concedida...

 

( Fontes:  O  Globo, Folha de S. Paulo )

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