quinta-feira, 9 de abril de 2015

A Inflação Assusta


                                           

         Como o leitor do blog se há de recordar, atravessei todo o primeiro mandato de Dilma Rousseff a reportar a crescente ameaça da inflação.

         A princípio a novel presidente parece ter acreditado que seria possível controlar a carestia com frases de efeito (ou que julgava serem de efeito), em que afirmava, em tom retórico, que não seria admitida por seu governo a volta da inflação.

         Trocando em miúdos, Dilma acreditava – ou desejava fazer acreditar – que para manter o maldito dragão à distância, bastariam frases peremptórias, em que explicitava a sua postura política de não admitir de forma alguma a coexistência com essa besta-fera que fora tão presente em décadas passadas. E, como se tal não fosse bastante, tratava de enxertar enérgicos adjetivos às fórmulas encantatórias, com que o seu retórico combate à carestia surgisse da forma mais enérgica possível.

         Ora, nós sabemos bem, que muitas coisas não funcionam contra a inflação. A par dos programas heterodoxos, tampouco afetam o dragão as enfáticas fórmulas de linguagem. Para ser justo, creio que nem ela acreditava na eventual força desse combate através da retórica. Para as gerações, como a nossa, curtida por essa luta sem fim contra um processo que corrói tanto o dinheiro do povo, uma tal assertiva há de provocar seja um sorriso irônico, seja um esgar de mau humor, seja até um sonoro palavrão.

         Não há nada mais firmado e estabelecido do que a responsabilidade de Dilma Rousseff em desmantelar o Plano Real e, sobretudo, trazer de volta o dragão.

         Não foi do dia para a noite, e nem faltaram advertência, que foram crescendo no respectivo diapasão, à medida que se concretizava o esdrúxulo resultado de destruir uma conquista da nacionalidade – que foi o Plano Real – e trazer, como consequência lógica e siamesa, o retorno da carantonha inflacionária, tão bem retratada pela remarcação frenética nos supermercados, pela exploração desenfreada nos diversos serviços, e pelo cruel encolhimento da renda e dos salários das classes remediadas.

         Quando penso nesse desastre que devemos agradecer a Dilma Rousseff – que além de ser proclamada mãe do PAC, goza agora do pleno direito de intitular-se quem nos trouxe a inflação de volta.

         Não é coisa  que se goste de reivindicar. Esse estigma do Dilma I  continua a incomodar-nos, nos primeiros vagidos do Dilma II.

         As novas da imprensa são acabrunhantes. Assim, o IPCA (índice de preços ao consumidor) fechou o mês passado em 1,32%, o patamar mais alto para um mês de março desde 1995. Naquele ano, é bom lembrar, a perspectiva era de tempos melhores, pois o país mal saía da hiperinflação, e adentrava o Plano Real (rejeitado, como é notório, pelo PT). De resto, esse partido  nunca nele acreditou, chegando a contestar-lhe a sua chave de abóbada, a Lei da Responsabilidade Fiscal, no Supremo Tribunal Federal (no Dilma I começaria obra cara ao PT de então de desestabilizar a LRF...) .

           E continuemos com a maldita sopa de números. A inflação de março foi a maior desde fevereiro de 2003, que foi de 1,57%, sendo esta um efeito pós-posse de Lula, com a povoação nervosa sobre a posição do novo governo com relação ao Plano Real (que tanto combatera no passado).

           Mas as más notícias não ficam só por aí.  A inflação acumulada em doze meses chega a 8,13%, que está mais uma vez acima do teto da meta fixado em 6,5%...   

           A inflação se acerca perigosamente dos 10% (dois dígitos), o  que representaria  um senhor empecilho para o crescimento econômico.

           E note-se que a carestia se expressa em mais de uma maneira. Em um clima de alça, os serviços de hoje e do passado inflacionário tinham o vezo de recorrer a incrementos de dez por cento, para proteger-se do dragão. Na verdade, com bem se sabe, estamos em jogo de tolos, em que mesmo os mais espertos são punidos  pela carestia.

            Ao aumentar, de orelhada, os preços, eles criam novos parâmetros – a inflação de dois dígitos e ei-nos de novo na maldita ciranda, em que os nossos salários congelados continuam na melancólica baixa de poder aquisitivo, e todos os outros fenômenos correlatos dessa praga reaparecem.

            E a quem devemos a inflação? Se me permitem completar o número de suspeitos, eu os resumiria a dois:  Dilma Rousseff, que por uma política insana, nos trouxe de volta para a ciranda; e  Lula da Silva, por tê-la recomendado para a Presidência,  pensando recandidatar-se em 2014. Apesar de reeleita, Dilma nos deixou má lembrança do primeiro mandato, a começar pela carestia. Lula, então com o  poder  de eleger postes, deveria ter submetido ao nosso Povo candidato que melhor enfrentasse o desafio Brasil.

 

( Fonte:  O  Globo )    

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