terça-feira, 28 de abril de 2015

Dilma tem perfil ?

                                          

        A poucos terá escapado mais um fenômeno – e quê fenômeno! – na política nacional. Não me reporto a Lula da Silva, que quer despontar como o novo valor do Partido dos Trabalhadores para a próxima eleição presidencial.

        Sem desdouro para Lula, a bola da vez neste momento é Dilma Rousseff. Talvez o maior erro que cometeu – excluída a aceitação da presidência, em 2010 – foi a sua escolha de pleitear o segundo mandato.

        No primeiro quadriênio, a húbris pontuou alto, chegando a investir contra o vernáculo, ao inventar-se o horrível neologismo presidenta com que julgou oportuno celebrar a própria feminilidade no Palácio do Planalto.

        Salvo os áulicos de plantão – e a velha marchinha já cantava  o cordão dos puxa-sacos – esse estranho termo ali ficou com a sua incômoda presença palaciana. Mais um capricho afirmativo. Já na pré-eleição o povo nordestino preferiu chamá-la de  mulher do Lula, expressão decerto mais veraz, enquanto igualmente refletia o caráter impositivo, sem qualquer contribuição da candidata. Ao elegê-la, o Brasil mostrou que ainda não superou a fase do paternalismo coronelístico.

       Espalhada para os trouxas e os crédulos de plantão como espécie de primeiro-ministro  - um pouco no modelo de o que teria sido José Dirceu, que não se pejou de declarar alto e bom som – no meu Governo – em seu discurso de despedida, enxotado que fora pelo Mensalão,  na verdade Dilma Rousseff  foi na Casa Civil apenas  chefa de gabinete de Lula.

       Selecionada pelo presidente para sucedê-lo, menos por suas qualidades, do que para impedir que lá se sentasse algum medalhão do partido que pudesse fazer sombra ao fundador do PT, Dilma, chegado o tempo desse presente de grego dado por Fernando Henrique à política brasileira (i.e., a reeleição), preferiu ir em frente e desconhecer a vontade do seu criador.

       A conjunta ironia – tanto na indicação de Lula (que ele pensara fosse muito esperta), quanto na força intrínseca da presidente em funções para postular o continuísmo – teve grande eficiência em afastar o seu padrinho, e garantir  a própria  eleição.

       Foi apertada a sua vitória – apenas 3%. Foi suficiente para vencer o desafiante Aécio no segundo turno. O importante  para ela fora lograr afastar Marina do segundo turno (dado o justificado temor que os petistas nutrem pela carismática acreana).

       Lula tudo fez para dissuadi-la da nova candidatura. Ele tinha toda a razão, mas as cartas na mão de Dilma eram mais fortes. Apesar da gestão temerária ou quase no primeiro mandato, a sorte da presidenta foi de que o magno escândalo do Petrolão ainda não estourara pra valer.

       Por outro lá, com muita cara de pau, boa dose de cinismo e a mirífica ajuda do mago João Santana, ela conseguiu o quase impossível – que o baú dos erros do primeiro mandato tivesse diferido o seu estouro.

       Para o eleitor, a verdade chegou com atraso. Só mais tarde a ficha cairia. Ninguém gosta de ser feito de trouxa, e foi este o sentimento da grande maioria dos votantes pró-Dilma.

       Com os escândalos espoucando, Dilma foi encolhendo politica e administrativamente. De repente, todos se lembram dos meses finais de José Sarney, em que a impopularidade o expulsava das ruas e de aparições públicas.

       Afirmativa, grosseira, impiedosa, recordista (no primeiro mandato) de mensagens sob qualquer pretexto na tevê,  eis que aquela que fazia ministros chorarem, ou que os mimoseava com palavrões,  ou que até se empenhava em batalhas de cabide – como  nos conta Ricardo Noblat -  de repente, a casa cai e tudo muda. E a sorridente da segunda posse, emagrece de chofre e a fisionomia está mais para Almodóvar e mulheres no limite do ataque de nervos.

       Escolhendo gente menos pela qualidade do que pela incoercível vontade de agradar – que é do feitio do fâmulo e do favorito da vez – não é que  no maldito segundo mandato tudo começa a dar errado? Das mãos se vão os anéis, enquanto os velhos amigões desaparecem dos postos de mando no Legislativo. Desafetos lhe são empurrados goela abaixo, e ela já não manda mais no Congresso...

        Quem se acreditara muito popular, se vê obrigada a recolher-se. Encolhe o seu poder, pois o presidencialismo vira parlamentarismo caboclo. E a antiga força e prepotência, ei-las transformadas em fraqueza e humildade forçada.

        O velho Economist, este nosso desafeto de plantão na imprensa mundial, se diverte com a sua condição de mandatária sem prestígio e sem poder, ainda que exagere, pois Dilma ainda não pode ser comparada aos presidentes da França na Terceira República, quando moravam no Palácio Elisée,  e inauguravam exposições  florais...

       Por último, Dilma que antes forçava a barra, e vinha discursar na tevê a propósito de quase tudo, eis que renuncia a falar na Data universal do Partido dos Trabalhadores, também conhecida como o Primeiro de Maio ...

       Agora, são os panelaços que a fazem apequenar-se ainda mais.

       Dilma Rousseff, a Presidenta, o terror de Ministros, secretários e secretárias, não é que perdeu o perfil?

 

( Fontes: O Globo, Coluna de Ricardo Noblat, Folha de S. Paulo )  

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