quarta-feira, 1 de abril de 2015

Levy e o Senado


                                        

      Com relação ao escarcéu levantado pela difusão de recente comentário do Ministro da Fazenda sobre a Presidente, que a Folha, à sua maneira, tratou com sensacionalismo, a presidente faz por merecer um duplo elogio.

      Soube encaixar o suposto golpe, além de desangrá-lo nos seus eventuais reflexos.  

      Por outro lado, serviu-se da posse do ministro Edinho Silva, na Secretaria da Comunicação Social, para fazer outro pronunciamento com oportunidade.

      Lembram-se daquele insano projeto de Franklin Martins que visa, em moldes chavistas, ao controle da mídia?  Esse plano, acariciado pela esquerda do PT, paira desde muito, como aquelas nuvens escuras e pesadas, que se aferram ao horizonte, como a anunciar do mau tempo as intempéries. Lula o empurraria com a barriga, e o Dilma I o manteria em vida, chegando mesmo a sinalizar-lhe como medida futura.

      Agora, no entanto, valendo-se da posse ministerial, Dilma II afirma que seu governo, em nenhuma hipótese, fará algo que possa “impedir a livre manifestação das pessoas e a liberdade de imprensa”.

      “Somos contra a censura, a autocensura, as pressões, os lobbies e os interesses não confessados que podem coibir o direito à livre manifestação e à liberdade de imprensa. Por isso, mais uma vez, aproveitando a posse de Edinho Silva, reitero que nós não temos e não teremos, sob nenhuma hipótese, sob nenhuma circunstância, qualquer ação no sentido de coibir, de impedir a livre manifestação das pessoas e a liberdade de imprensa.”

        Edinho Silva, tesoureiro da campanha de Dilma à reeleição, ex-deputado e alinhado ao ex-presidente Lula, que esperava a sua nomeação, tem bom trânsito com a Presidenta. A conciliação é uma de suas características. Assume o posto no lugar de Thomas Traumann, que saíu após vazamento de documento que classifica a comunicação do governo como ‘errada e errática’.

        Nesse quadro de relativa distensão, se insere a ida do Ministro da Fazenda, Joaquim Levy ao Senado. A imprensa torceu, por antecipação, o nariz para esta nova presença de Levy no Congresso,  como se o cargo do principal auxiliar econômico-financeiro da Presidente não fosse político além de técnico.

        Apesar de ainda jovem, Joaquim Levy tem demonstrado liderança na sua área e capacidade de lidar com efeitos acidentais e supervenientes dos seus vários papéis. Ricardo Noblat, na sua coluna, historiou as diversas oportunidades em que as suas observações mereceram reparos. Mas elas não são bisonhas calinadas, mas em geral comentários que se mostram lados contestáveis, também encerram opiniões de especialista na matéria. E se podem carregar do abrasivo da relativa juventude, encerram igualmente competente conhecimento da matéria.

        Entende-se perfeitamente neste avatar a sua crescente utilização por Dilma II. Como Ministro da Fazenda, ele é valor que se alevanta em páramos antes marcados pelo timorato apego às idiossincrasias presidenciais.

        Por outro lado, como é o atual guardador da chave do Tesouro, ao invés de mandar prepostos, a Presidente da República mostra o correto entendimento de confiar as questões da Fazenda a quem delas tem a visão mais abrangente e articulada.

        Para entrar na faixa de onda da política, não há melhor intermediário de que o seu fautor e responsável. Nesse presidencialismo parlamentarista que ora vivemos, nada mais ajuizado e objetivo de que entregar o pacote nas mãos de quem o fez. Se conjugado o saber técnico à habilidade política, saberá até que ponto a complementação e a adequação relativa serão possíveis e factíveis.

         Na sua coluna, Míriam Leitão, cujo saber técnico todos apreciamos e valorizamos, enfatiza a sua capacidade de achar o melhor argumento possível para cada reforma: (a) proposta com mais dificuldade de acesso ao seguro desemprego (em vez de seis meses, dezoito meses) o Ministro explicou que é uma forma de combater a alta rotatividade do trabalhador, ruim para a competitividade; (b) na mudança radical da política do BNDES, Levy explicou que os empréstimos para os bancos públicos chegaram a R$ 460 bilhões e que são emprestados a taxas abaixo da inflação para grandes setores. Para ele, esta medida precisa ser alterada. A dívida externa não cresceu, mas a dívida interna cresceu na medida da expansão do crédito ao BNDES.

        Para cada uma das medidas do ajuste, ele tinha um slide e boa argumentação. Porque o risco, repetiu, é o Brasil perder o grau de investimento:

        “Há o risco de perdermos o grau de investimento. Temos de estar atentos. Agirmos de maneira rápida porque o custo vai ser para todos, inclusive o empregado. Para a preservação do emprego é preciso reduzir a dívida pública.”

         Diante do slide que mostrava que o país está a um passo de perder o grau de investimento, disse Levy: “Nós temos que manter a classificação e caminhar para a esquerda em direção ao A (melhor classificação). Sempre para a esquerda.”

         Ao cabo, embora lhe registre a habilidade e simpatia na apresentação, a colunista econômica de O Globo evidencia a incerteza e o grão de sal do pessimismo, que é próprio de jornalista.         

         Como diria o triúnviro Cesar, ao cruzar o Rubicon, alea jacta est[1].

         De qualquer forma, a presidente Dilma Rousseff acertou ao delegar ao Ministro Levy a sua representação no Congresso. O que será feito a seguir depende de Suas Excelências.

          Para bons entendedores, nesse nosso súbito presidencialismo parlamentarista, explicações redondas e não meias-palavras deveriam bastar.

 

( Fontes: O Globo, Coluna de Miriam Leitão, Folha de S. Paulo )



[1] A sorte está lançada.

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