quinta-feira, 24 de abril de 2014

O PT e o Poder

                                          

         Para o observador da política, a trajetória no Poder do Partido dos Trabalhadores tem deixado marcas que o distinguem de modo pesado de sua postura ética anterior, seja no que concerne a seus membros, seja no que tange à apuração de fatos contenciosos.

         Quando na oposição,  o PT era aguerrido, doutrinário,  zeloso e intransigente, tanto no que concerne ao comportamento de seus membros, quanto às questões políticas e doutrinais.

         Ao ser ultimada a Constituição de 5 de outubro de 1988, todos os seus membros, a contar do prócer Luiz Inacio Lula da Silva, se recusaram a subscrevê-la. Depois, voltaram atrás, e as assinaturas apareceram no documento. A esse respeito, é uma das estranháveis características dos flexíveis costumes brasileiros a possibilidade de voltar atrás e de fazer parecer o que não foi (i.e., que as assinaturas agora apareçam como se tivessem sido apostas no primeiro dia).

        Há vários outros exemplos de radicais mudanças de rumo do PT, quando passou da planície para as alturas do palácio. Opuseram-se encarniçadamente ao Plano Real, como se fora empulhação, assim como, mais tarde à Lei da Responsabilidade Fiscal, chegando a extremos nessa negativa política (hoje, o governo petista adotou um facilitário no que tange à L.R.F., o que leva a enfraquecer esse indispensável mecanismo de controle).

       E quanto ao Deputado André Vargas, ex-Vice presidente da Câmara (nessa condição alçou o braço para provocar o Ministro Joaquim Barbosa, numa atitude que feria o decoro parlamentar) ? Também aqui está muito longe a atitude altaneira do partido radical e com reduzida bancada, que não hesitou em expulsar um punhado de membros, por favorecerem, nos anos oitenta, a candidatura de Tancredo Neves por via indireta à presidência da república.

      Eram motivações doutrinais, que traduziam a rigidez de princípios do Partido dos Trabalhadores. Zelosos, não admitiam tergiversações, mesmo que refletissem o sentir da Nação, que, na prática, tornava direto o processo eletivo indireto que ungiria presidente aquele a quem seria negado, depois da longa caminhada, pisar na terra prometida.

      Há porventura alguma semelhança entre esse comportamento de cavaleiros sem medo e sem censura (sans peur et sans reproche), com as patacoadas que na atualidade nos proporciona a direção do Partido dos Trabalhadores, enquanto majoritário e no exercício do máximo poder (desde 2003, com Lula da Silva; e continuando, desde 2010, com a sua sucessora, Dilma Rousseff) ?

      Bastam dois episódios para frisar essa radical transformação. Antes magros e austeros, hoje nédios e acomodatícios.  Com definiríamos a postura da direção petista: queixosa, diz que ‘esgotou argumentos ‘ pela saída do deputado André Vargas do P.T. Ao invés da fronte altaneira do pequeno partido doutrinário, que punha na rua os seus membros que divergissem acaso da orientação petista, assistimos agora a um espetáculo que mostra uma direção que, por motivos ignotos, vacila em tomar a atitude drástica. Ameaçado de ‘pagar o pato’ – e o dito é do prócer Lula da Silva – por motivos não revelados, o presidente Rui Falcão, em veste de pedinte, apenas declara que já “esgotou seus argumentos” pela renúncia imediata do deputado André Vargas.

          O presidente petista acrescenta que falou a respeito com o ex-presidente Lula e se reuniu com a presidenta Dilma. Qual a semelhança da postura petista de hoje, com a do passado?  Ou talvez melhor colocando: há porventura alguma parecença?

         Também no que tange à busca mais ampla da verdade, o PT, com o auxílio da chamada base de apoio, tentou desvirtuar a CPI para apurar as irregularidades na Petrobrás.

         E não é que a Ministra Rosa Weber – que foi indicada à Corte por Dilma Rousseff – determinou CPI exclusiva para investigar a estatal e “não com o objeto alargado do requerimento 303, de 2014 (da base governista), e sim com o objeto restrito proposto no requerimento 302, de 2014 (da oposição)”. Essa medida, determinada pela Ministra, tem caráter provisório, até que a liminar seja julgada pelo plenário do Supremo.

        Como se vê, também nesse episódio, o PT se empenha em dificultar a divulgação e a avaliação da verdade no que respeita aos desmandos de que vem sofrendo a Petróleo Brasileiro S.A., por força do aparelhamento partidário a que foi submetida (como a mor parte das instâncias governamentais, desde que o PT se apossou do ambicionado poder).

                                                                                         (a continuar)

 

( Fonte:  O  Globo )     

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