terça-feira, 15 de abril de 2014

A Chapa Eduardo - Marina


                           

      A recusa pelo TSE da Rede Sustentabilidade se deveu a dois fatores básicos: o atraso na documentação burocrática pela Rede (enquanto siglas sem qualquer carisma, como o Pros, atendiam à letra das solicitações) e a operação nos cartórios do ABC recusando milhares de fichas de eleitores da futura Rede.
     Com a honrosa exceção do Ministro Gilmar Mendes, o colégio do TSE preferiu ater-se à letra da lei, optando por negar validade ao requerimento de licença para o que seria o partido de Marina.

    Afastou-se dessarte a possibilidade de que Marina Silva obtivesse legenda própria. Este percalço favorece notadamente à candidata do PT, eis que Marina continua – em hipotéticas formulações em que concorreria como cabeça de chave – a colocar sistematicamente Dilma em segundo turno.

    Não há negar que, com a erosão sofrida nas suas preferências, outros candidatos poderiam igualmente levar a presidenta ao segundo round.  Sem embargo, tanto Aécio quanto Eduardo não ganharam até agora a propulsão indispensável para levar Dilma ao mano a mano final.

   Essa distinção só tem cabido a Marina.  Vê-se, assim, quão atilada foi a criação de condições para que Marina não dispusesse de partido próprio. Pela perfeição do golpe, ele  traz consigo a sua própria assinatura. Contudo – e nisto está outra marca da destreza de seu fautor – não há certeza objetiva e à prova de contestação jurídica desse magistral lance político (se abstrairmos o aspecto ético, mas quem se importa com isso em país onde até um jogador de futebol proclama que ‘roubado é mais gostoso’ ) ?

    Dado assim o vício redibitório, se parte para a emenda. Colocá-la de vice na chapa de um candidato novo, promissor, com boa ficha administrativa, mas ainda muito verde (sem trocadilhos, p.f.) para enfrentar a divisão dos pesos pesados, seria a estratégia ersatz recomendável. Como se sabe, durante a última grande guerra, por sua falta de acesso às matérias primas, a Alemanha ficou despojada de produtos essenciais.  O jeito para o engenho germânico foi criar produtos artificiais substitutos (daí o nome ersatz) para que o súdito do Reich enfrentasse a falta do produto.

    Mas aí é que mora o problema. Apesar de toda a habilidade, o produto em questão seria sempre uma versão inferior do original.

    Na foto, Marina e Campos aparecem sorridentes, eufóricos mesmo. A mesma reação do assessor de Campos. Entrementes, o de Marina, está sério. Será que desconfia da eventual capacidade de Marina de transferir seu cabedal de sufrágios para o novel candidato?

    O Vice sempre será encarado como acompanhante discreto do candidato cabeça de chapa. Como se logrará convencer o eleitor de que sufragando Eduardo Campos, ele está, na realidade, ou votando em Marina, ou o faz na convicção de que a voz de Marina será relevante e até prevalente no novo governo?

     Tais transfusões se afiguram complicadas e pouco verossímeis no mundo real. Como um governador conhecido pela forte personalidade passará a levar em conta e até seguir a palavra de Marina?

      Assim, malgrado as dificuldades enfrentadas por Dilma Rousseff, e  sua incrível sangria de popularidade (que ela deve, basicamente, a seus erros e foram muitos), ainda continua difícil prognosticar vitória de candidato de oposição.

      Aécio entrou na disputa guindado pela facúndia e a boa administração em Minas. Fala bem o neto de Tancredo. Mas cometeu alguns erros antes de apoderar-se da chapa do PSDB, e quiçá o mais pesado foi ter dado a impressão para gente do ramo de que, seja por omissão, seja por comissão, não terá contribuído, em passados pleitos, para viabilizar a vitória do companheiro de legenda José Serra. Em assim procedendo, contrariava as lições de seu avô. As acusações, de resto, podem ser infundadas e até  injustas.  Mas a impressão, de algum modo, ficou.

      Em resumo, poderá uma sombra constranger Dilma Rousseff a passar, por segunda vez, pelas forcas caudinas do segundo turno?  Pela sua atuação desastrosa no primeiro mandato, a resposta é sim. Se é para vencer ou não, isso dependerá da capacidade do candidato em convencer o povo brasileiro que ele tem força e programa próprios.

 

(Fonte subsidiária: O Globo)

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