segunda-feira, 7 de abril de 2014

Dilma ou Lula ?


                                              

         Os meus leitores saberão que muito aprecio a coluna semanal de Ricardo Noblat em O Globo. Mas talvez terão igualmente presente que procuro sempre pautar-me pelo velho ditame Amigo de Platão, porém mais amigo da verdade.
         Em sua crônica de hoje, “O Adversário de Dilma”, Noblat aponta Lula como o principal rival da presidente na próxima eleição. Pode ser verdade.Lula pintara Dilma como a grande administradora.

         Apresentou-a como a gerente ideal, que contribuiu para o êxito de seu governo. Diante de seu desempenho e o desencanto do eleitorado – como cita Noblat, em cerca de ano cresceu de 34% para 63% o percentual dos que dizem que Dilma faz pelo país menos do que eles esperavam – é natural que se preocupe com um eventual malogro, que poria abaixo toda uma construção de poder que está aí para quem quiser  ver.     Como toda criatura, Dilma tende a afastar-se do criador. Se pleiteou o cargo, uma vez eleita o quadro muda. Dentro da maioria governamental, tampouco surpreende que surjam dois campos, uns favoráveis à criatura, outros ao criador.

         O PT atravessa uma crise e não adianta empurrá-la só para o colo de Dilma. Os desacertos na Petrobrás remontam à administração de Lula, embora, como se vê no escândalo da refinaria de Pasadena, muita vez a responsabilidade é partilhada.

         Aliás, quando se fala de crise, a singularidade deve ser evitada. O poder afetou deveras o Partido dos Trabalhadores. Sua capacidade de corromper é um triste lugar comum – e como diria Lord Acton o poder absoluto age de forma ainda mais abrangente.

  
          O PT virou uma caricatura do partido ético e intransigente na oposição, que se recusou a assinar a Constituição Cidadã, e tudo fez para inviabilizar o Plano Real. Estava errado ? Sim !  Mas o lado bom é que o fazia por princípio, e nesse contexto carecia de ser respeitado.

 
          Noblat pinta Dilma como alguém que deseja continuar a sua obra. Ora, a impopularidade e a indisposição que afeta o governo foram criadas por quem ?  A inflação está aí por qual razão ?  Claudica o nosso anterior prestígio econômico por que motivo?  Não será pela gastança desordenada, pelos atrasos nas obras e nas realizações,  com o consequente descalabro fiscal, que as manipulações e as ficções contábeis, ao invés de esconder, ressaltam ainda mais, com a consequente retração dos investidores e   o rebaixamento na nota das agências de avaliação de risco ?

         
         Não é só o mercado mas a  opinião pública que sente os efeitos do desgoverno, seja na menor atração de nossa economia (o que se reflete no desempenho e no agravamento dos problemas nos diversos balanços), seja na volta da sopa dos índices e no começo, por ora ainda discreto, do trabalho da detestada maquininha remarcadora .

       
         Assim, não me venham dizer que Dilma coitada nada tem a ver com o que aí está,pois seus índices patinam ou mergulham. Lula pode não ser a solução, mas como chefe máximo do Partido dos Trabalhadores teme  pela eventual perda do poder e a consequente decadência (que se traduz em perda de influência ).

  
          Por isso, se sentir que Dilma não tem mais condições de garantir  tudo o que aí está, Nosso Guia hesitará porventura em responder ao clamor que só ele distingue claramente vindo das bases e dos companheiros, e, em sacrifício supremo, submeter-se ao combate político e ao temível juízo das urnas ?  Se for para salvar o PT de algum trânsfuga que venha pôr toda essa faina – e toda essa rede de influência e poder – em perigo, será lícito duvidar que não trepidará por um átimo em submeter a tal chamamento, dando mais uma vez prova de seu desprendimento ?

 

 

(Fonte:  ‘O adversário de Dilma’, de Ricardo Noblat (O Globo)  )    

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