domingo, 13 de abril de 2014

Colcha de Retalhos B 14

                                

Controle do IBGE?

 
       Como se acentua na imprensa, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) tem respeitabilidade e credibilidade. Essas características não caem do céu, mas são o resultado de longa trajetória (de 143 anos) de  trabalho sério, abrangente e veraz.
        Pois, ora vejam só. A Senadora pelo Paraná, Gleisi Hoffmann, com a sua angelical fisionomia, de volta ao Senado, já começa a aprontar das suas. Vinda da Casa Civil de dona Dilma, habituada talvez a gerenciar o executivo com a proverbial delicadeza da Presidenta, fez requerimento que põe em dúvida a capacidade do Instituto de fornecer os dados de renda domiciliar per capita, que balizaria a distribuição dos recursos do Fundo de Participações dos Estados.

       No ‘pedido de informações’, feito por Gleisi e dirigido à Ministra do Planejamento, Miriam Belchior, se pede que a metodologia de cálculo da Pnad contínua seja submetida ao Senado e aos governadores, e não apenas aos atuais, mas também os futuros, sob a justificativa de que eles terão de gerir as contas públicas com os recursos pelo novo critério, que foi fixado pela lei complementar 143.

       Não é pedido inocente, porém. Os dentes logo aparecem: “uma variável chave com esta não pode ser pautada apenas por decisões do órgão de  estatística (meu o grifo) e se ajustar a uma pesquisa que não foi pensada especificamente para esta variável”. Em seguida, as razões se vão desnudando ainda mais: “considerando que este é um ano eleitoral, este processo, que deverá se iniciar o mais rápido possível, deverá ser apresentado aos próximos governadores, quando eleitos”.  (Gleisi Hoffmann (PT-PR) pensa eleger-se governadora do Paraná).

      Infelizmente, a presidente do Instituto, Wasmália Bivar, não mostrou a têmpera de antecessores seus. Diante de tais questionamentos, Wasmália e o Conselho Diretor resolveram suspender a pesquisa. Esqueceu-se, porém, conforme admite, de consultar o corpo técnico. Ao admitir a ingerência política, logo se defrontaram com as renúncias da diretora de pesquisas, Marcia Quintslr e a coordenadora-geral da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (Ence), Denise Britz.

      Na sexta, a presidente Wasmália Bivar passou mais de quatro horas reunida com dezoito coordenadores e gerentes técnicos, que ameaçaram abandonar suas funções caso a suspensão da pesquisa não fosse revista. Embora o encontro tenha terminado sem que nada se resolvesse, a direção do IBGE informou que a reunião foi ‘positiva’ e as conversas serão retomadas na semana entrante.

      Assinale-se que já houve duas divulgações da pesquisa, e a próxima seria em junho.

      É importante ter presente o que ponderam os técnicos: “Tal decisão (a suspensão da pesquisa) torna-se ainda mais grave por ter sido tomada sem consulta à equipe técnica e apesar de a Diretora de Pesquisas (Marcia Quintslr) ter se manifestado contrariamente à suspensão da divulgação.”

      O Governo Dilma e seus aliados no Congresso, como se assinala em O Globo, e como se já não lhes bastassem as quem tem pela frente, decidiram criar nova fonte de confusão, o IBGE.

       Apesar das contorções da linguagem e o juridiquês, tudo isso tem óbvia origem, que é a irritação da base com os resultados apurados em decorrência das políticas de governo. A velha censura levanta a sua cabeça.

       E como já dizia o Evangelho: dize-me com quem andas e eu te direi quem és. Cada vez mais, o petismo no poder se alia gostosamente ao chavismo de Maduro e ao peronismo kirchnerista. Ambos são disfuncionais, coisa que até há pouco o Brasil não era.

      É difícil de entender, mas pelo visto o abraço (sufocante) do companheiro nas vascas do afogamento se está tornando uma dílmica opção. Por quê ?  não sei. Talvez fosse o caso de perguntar à angelical Gleisi Hoffmann.

 

Sombrias Perspectivas

 
       Miriam Leitão, com a sua habitual clarividência, resume as previsões prevalentes no atual momento. Boas para o mundo desenvolvido (forte recuperação da superpotência e a Europa se livra do vermelho), enquanto o Brasil patina.

       Com efeito, o Brasil tem crescido menos do que a média mundial desde 2011. Em 2013 e 2014 não deve ser diferente. E há outras sinalizações que preocupam: a China continua liderando o crescimento, mas há temores que a RPC não cumpra a meta de 7,5% neste ano. Dada a nossa dependência da economia chinesa, isso não é bom para a balança comercial do Brasil.

        Por outro lado, com o reforço das economias desenvolvidas se segue o aumento das taxas de juros e, em especial, maior aversão ao risco no mundo. Diminui a atração dos mercados alternativos, e, em consequência, as correntes de recurso.

       A par disso, avulta o problema da inflação reprimida. Com o controle dos preços administrativos, e o sistemático adiamento das reformas e dos ajustes (correção dos preços da energia elétrica e da gasolina), aumenta a pressão sobre a carapaça da estabilização artificial.

        Outras estrelas repontam, como o México, com inflação menor (3,8%). A nossa continua batendo no teto do máximo previsto, mas o céu não se desanuvia e a tendência é para mais.

         Enquanto isso, o Brasil que não há muito repontava como a economia mais promissora (superávamos então o Reino Unido).  Agora, ao invés, já se fala que seremos ultrapassados pela Índia...

          Se todos crescem, e nós ficamos para trás, alguma razão deve haver...

 

 E a Petrobrás, hein ?

 
        O Brasil é um país muito, mas muito  tolerante mesmo. Em qualquer outro,  a gestão irresponsável da Petrobrás – gestão esta determinada não pela direção de Graça Foster, mas pelo Palácio do Planalto – teria provocado consequências em termos de prévias eleitorais assaz mais portentosos e maciças.

        Sempre considerada a nossa jóia da coroa, de repente, como se fora uma gigantesca OGX, o seu valor de mercado começou a liquefazer-se.

       Se assalta ao bom senso que se queira um preço administrativo para a gasolina fundado em exigências demenciais de que uma empresa determinada venha a bancar, com gravosos prejuízos sucessivos, o preço da gasolina, infelizmente não se pode inculpar a administração da Petrobrás de conjuminar essas demenciais estratégias. Colocada diante de um tal absurdo, a presidente Graça Foster só tinha uma opção. Se não a empolgou, não cabe a nós erigir-nos em juiz. Mas há certas coisas que por contrariarem a boa norma e a correta avaliação, não podem, s.m.j., ser toleradas. Com a continuação, evaporam-se as razões de un gran rifiuto.

       Somente agora, por uma série de escândalos, se vai corrigindo, de forma orwelliana, a história recente da Petróleo Brasileiro S.A. Os percalços não provêm apenas de um passado recente. Cabe incluir a estranha compra da refinaria de Pasadena. O caso ainda fica mais estranho quando a direção anterior, com a cara mais limpa desse mundo, se atreve a justificá-la.

       De ação preferida no mercado brasileiro, subitamente o chão caíu para esse papel, antes considerado não só o mais seguro  no céu de Pindorama, senão o mais vantajoso pela sua promessa de solidez e contínua progressão no valor de mercado.

       Confrange, dessarte, que a grande empresa  Petrobrás passe do pedestal  de 12° entre as gigantes mundiais,  para um ridículo, quase OGXiesco chão de 120° !

       Como se tenciona qualificar uma empresa que de 2010 para cá despencou em  50% de valor de mercado ? Hoje está orçada em R$ 179 bilhões contra os R$ 380 bilhões, no último ano da presidência Lula da Silva.

       Tão só a fabula OGX, de Eike Batista,  apresenta totais que rivalizam com os da Petrobrás: de R$ 13,4 bilhões caiu  94,5% . De segunda empresa petrolífera no Brasil, atrás apenas da Petrobrás, está em concordata, e tem um novo nome, e a cotação do título só pode ser vista como um convite à aventura, mas do gênero rough  (áspero, e põe áspero nisso).

 

( Fontes: O Globo, Folha de S. Paulo )

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