sábado, 31 de dezembro de 2016

Notícias de Fim de Ano (3)

                              
Meio Ambiente


             Não se deve negar  que o Governo Michel Temer tem uma certa coerência. O problema é que esta característica pode ser aplicada com fins negativos.

              Não faz muito este blog se ocupou de um projeto governamental - e que eu saiba, ainda não implementado - que endurece a questão das reservas indígenas, mas não no bom sentido, de favorecer a minoria indígena com a segurança no campo. Pelo que se depreende do brouillon (esboço) de decreto, a sua publicação não será exatamente objeto de aplausos dos setores que defendem a causa indígena. Como está, o tal projeto parece ter sido realizado por áreas proximas ao ruralismo...

               Mas os sinais ruins não param por aí. Como oportunamente noticiou na sua coluna Miriam Leitão, recentemente o governo Temer cometeu a provocação de reduzir a área de uma floresta nacional, exposta e vulnerável à grilagem. O incrível propósito é beneficiar grileiros que invadiram terras protegidas. É uma cessão mais do que aética e na verdade imoral e acintosa, eis que favorece a tal gente que não vai demorar muito em invadir mais e mais terras nesta mesma área. O Governo Federal não poderia mandar um pior sinal do que esse. Sabemos o quanto o Pará tem sofrido com a grilagem e a que ponto já avançou o desmatamento nesse estado amazônico.

                 Como bem sublinha Miriam Leitão, "o desmatamento se alimenta de sinais de fraqueza ou de cumplicidade do Estado."  Assim, "quando o governo reduz os recursos para fiscalização e controle, como fez o (desastroso) governo Dilma, e dá sinais em seguida de que vai anistiar quem grila, confirma a ideia de que o crime compensa." Esta senhora, que uma manobra inconstitucional permitiu conservasse os seus direitos políticos quando era cassada pelo Senado Federal, agora pôde ver que o seu Vice de certo modo segue os seus passos: "A mesma floresta de Jamaranxin já havia sofrido perda de tamanho na administração passada, mas nada se compara ao que o governo Temer fez:  reduziu por medida provisória em 43% o território da Floresta Nacional, aceitando a presença de produtores que mantêm na área 110 mil cabeças de gado." A alegação desses grileiros que já estavam lá quando a dita Floresta Nacional foi criada, "quem acompanha o desmatamento na Amazônia sabe que não é verdade. Eles ocuparam porque  o governo Dilma vinha dando sinais de fraqueza. Agora o governo Temer confirmou a impressão. Em junho, um policial foi morto durante uma operação do Ibama no local.  A resposta, em vez de ser mais fiscalização e controle, foi a redução da área protegida."



A audácia de Netanyahu


                  É conhecido o caráter do Primeiro Ministro de Israel, que não é de perder oportunidade diante de situações contingentes. Agora, às vésperas da saída do detestado (por ele) Barack Obama, Benjamin Netanyahu, na sua política agressiva e invasiva, contrária a um bom maço de resoluções do Conselho de Segurança das Nações, não é que  empunhando a ocasião (para ele preciosa) da próxima saída de Barack Obama da Presidência estadunidense, e a vindoura e iminente posse do amigão Donald Trump, além de convocar o Embaixador americano para consultas (numa completa inversão de papéis: o estado cliente pede satisfações da Potência protetora...), também avisa, juntando a arrogância à prepotência, que retaliará a doze países que votaram nas Nações Unidas contra colônias de Israel em terras palestinas...

                 E seja dito de paso que a postura do Secretário de Estado Kerry já havia sido decepcionante para quem acompanha a política internacional no Meio Oriente, pois se limitou a expressar tímidas reservas, pois a Administração Obama jamais teve coragem de exercer o controle devido sobre um país-cliente que age como se pudesse arrogar-se a ter uma autonomia que no passado Tel-Aviv jamais tivera em relação ao governo de Washington.



( Fontes: Míriam Leitão,   O  Globo )                      

Colcha de Retalhos D 51

                              

Resposta de Putin às sanções   
  

          Em hábil manobra, Vladimir Putin preferiu não retaliar as sanções aplicadas por Barack Obama, ao ensejo do hacking russo dirigido contra o Comitê Democrata e a candidata Hillary Clinton, na reta final para as eleições presidenciais.
          Putin confia no seu dito amigo e incongruo aliado, Donald Trump, e decerto espera bastante dessa anunciada parceria. Por isso e por ora, os funcionários americanos sediados na Rússia, e que seriam os prováveis alvos da resposta russa não precisam fazer as malas, pelo menos por enquanto.


Assassínio do Embaixador grego


           Que mala vita de Nova Iguaçu, que nada! Essa suposição, fundada na violência da Baixada,  foi tomada por jornais do porte  de El Pais, e, inegavelmente, constituía a hipótese de invadente probabilidade, pelas características do meio e os perigos a que a população ali residente  está tristemente exposta.

           No entanto - e esta coluna se viu igualmente salpicada por tal suspicácia, tão aparentemente lógica e, por isso, disponível - tristemente não havia o elemento topográfico nesse crime - eis que não passou de um fait divers [i]- que pode repontar em qualquer localidade desse mundo, vasto mundo, sendo, portanto, suscetível de aparecer também em qualquer ponto do circuito de Elizabeth Arden.

           Como creio já o ter dito, não tive a oportunidade de, no meu estágio helênico,  conhecer o embaixador Kyriakos Amiridis, que decerto não merecia este fim sórdido que lhe terá sido proporcionado por pessoa que distinguira com o signo da maior confiança.


Crise financeira no Rio


           O Estado do Rio se acha entre as unidades federativas em estado falimentar, como é também o caso do Rio Grande do Sul.

            Sem embargo, os seus governadores não parecem estar conscientes de uma coisa chamada exemplo. Se o estado se acha em situação falimentar ou crítica, tal impõe que a primeira autoridade estadual participe dos sacrifícios que a condição das contas os força a impor às respectivas populações.

            Ao assumir a disposição de não só dar o exemplo, mas também deixar evidente que não se acredita de sangue azul para eximir-se dos sacrifícios que se vê forçado a impor aos  co-estaduanos.

             Muito pelo contrário! Mais ganharia no respeito de seus coestaduanos ao rejeitar qualquer tipo de privilégio - pois já dispõe daqueles inerentes ao cargo em termo de residência e segurança - do que fazer o que fez o Governador Ivo Sartori, do meu estado (Rio Grande do Sul) elevando o respectivo salário, e agora o governador Pezão - em quem hoje me arrependo de haver votado - que vetou proposta da Alerj, com corte de 30% de seu salário e o dos secretários!    

( Fontes: New York Times, Carlos Drummond de Andrade )


[i] crime comum, nas colunas policiais.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Putin e Erdogan senhores da paz síria? (II)

                    

         O governo Assad   e  o seu protetor,  a  Rússia  de  Vladimir Putin, anunciaram na 5ª, 29 de dezembro, que haviam celebrado acordo de cessar-fogo com os rebeldes sírios, e seu principal aliado, a Turquia, de Recep T. Erdogan.

          Essa declaração pode ser nova e determinante evolução nessa longa guerra civil, que terá causado cerca de quinhentas mil mortes, entre combatentes e civis envolvidos no conflito, que já dura há quase seis anos.

          Encetadas pelos distúrbios em Deraa e, posteriormente, na capital Damasco, as hostilidades se internacionalizaram, com a participação da milícia xiita do Hezbollah, que na prática é um braço armado dos ayatollahs em Teerã.

          Não é por acaso decerto que este novo acordo de cessar-fogo tenha sido negociado e anunciado em Moscou. Se ele for respeitado no terreno - o que os anteriores não foram - a prevalência da tríade Síria, Rússia e Turquia se afirmará na sua eventual implementação. De um lado, o regime iraniano terá de retirar a própria milícia Hezbollah - o que não será de fácil deglutição dada a sua longa participação na sustentação do regime Assad, em especial nas horas mais difíceis, quando a Liga rebelde parecia prestes a levá-lo de vencida.

           Por outro lado, a ausência dos Estados Unidos das negociações de paz marca a redução da influência estadunidense  na determinação do pós-guerra, o que reflete tanto as realidades no terreno, quanto as incertezas de Barack Obama.

           Se este cessar-fogo firmar-se - ao contrário dos anteriores - há ainda muitos obstáculos no caminho da paz. De um lado, as forças excluídas do cessar-fogo terão tratamento diferenciado. O Exército Islâmico, nas suas bases em Raqqa e alhures promete pertinaz resistência, que a batalha pela retomada de Mosul no Iraque já o indica.

           Se com a queda de Aleppo, a força rebelde ficou bastante enfraquecida, ainda faltam áreas - como as cercanias de Damasco - que exigirão cuidados especiais do regime Assad.

            De todas as forças no terreno, os curdos estão melhor implantados, sobretudo ao norte, e a sua coexistência com o regime sírio deverá demandar concessões de Damasco.

             O cessar-fogo não será, por certo, de fácil implantação. Não só o desmantelamento do E.I., por exigir muito empenho da coalizão que apóia o presidente Bashar al-Assad, deve demandar tempo, a fortiori diante da situação da grei do califa al-Bagdahdi - cujo isolamento, se facilita a campanha pela restauração, também proporciona às suas hostes a energia do desespero, pela sua falta de aliados e opções.

              Por outro lado, a exigência da Turquia que o presidente da Síria seja afastado é um complicador notadamente para Vladimir Putin que investiu demasiado em al-Assad para eventualmente concordar com tal veto.

               A Turquia e a Rússia são no presente aliadas, mas gospodin Putin não ignora o longo histórico de oposição entre a guardiã dos Estreitos e o poder russo. O atual estado de coisas, que enfraquece o Ocidente, pode não perdurar por muito, eis que os fatores da divisão não surgiram por acaso.
               Tal não impede, contudo, que no curto prazo a posição do Ocidente - e notadamente de Washington - se descubra em desvantagem nesse grande jogo que se mede não em anos mas em décadas.
                Se desabar, como tudo parece indicar, o fortim  do Daesh (como é designado em árabe o ISIS) - a conformação do Oriente Médio não será necessariamente a mesma do formato ante-bellum, pois a etnia curda, malgrado a oposição turca, pode lograr estabelecer a primeira base territorial de o que lhe vem sendo negado desde a dissolução do império  otomano, determinada pelos tratados de paz relativos à derrota de Constantinopla na Grande Guerra.

                  Como se sabe, a tentativa helênica de manter a milenar implantação na Anatólia de milhões de gregos asiáticos foi derrotada por Mustafá Kemal (daí o cognome de Ataturk), ao cabo de decisiva batalha, que forçaria a chamada catástrofe, que foi a transferência de mais de dois milhões de gregos para o solo da Grécia européia.
  
             Se o projeto atual de restauração da Síria sob Bashar al-Assad lograr afirmar-se, a sede da liberdade que repontara nas passeatas de Damasco, e que ora se vê provavelmente contrariada, sob a atenta guarda do Senhor do Kremlin, poderá manter-se ou não, atendidas as forças no terreno.

                 É decerto difícil que a ditadura dos Assad tenha ganho a new lease of life[1], sobretudo se tivermos presente todo o sofrimento que o ainda jovem ditador Bashar cobrou do povo sírio, que antes vivia em condições mais favoráveis do que as populações à sua volta.

                 À vista dos exemplos na História, é uma aposta que poucos bookmakers concordariam em bancar. Se a liberdade, uma vez provada, se afigura como bem a ser tratado com todo o desvelo, cabe perguntar se o árduo caminho da reconstrução poderá ser encetado, como se todas as pregressas maldades - e padecimentos consequentes - devessem ser suportadas em silêncio ou na estranha paz dos campos santos.


( Fontes: The New York Times, Folha de S. Paulo, Der Neue Brockhaus)   



[1] nova concessão de vida

Notícias de Fim de Ano (02)

                         

Desaparecimento do Embaixador grego


          Sem contato com a família no Rio  há quatro dias, Kyriakos Amiridis, embaixador da República Helênica, acreditado perante o Governo do Brasil, permanece formalmente desaparecido.
          As previsões, por conseguinte, não podem ser boas, eis que foi achada, na tarde de ontem, 29 de dezembro,  queimada a carrosseria do carro alugado pelo Embaixador (a placa é a mesma do veiculo tomado pelo diplomata).
            Dentro do veículo incendiado foi encontrado um corpo carbonizado. A placa do carro é a mesma  do carro alugado pelo diplomata há quatro dias atrás.O carro foi encontrado no arco metropolitano, em um dos acessos de Nova Iguaçu ao Rio de Janeiro. Como se vê, os indícios parecem não dar vaza a otimismo.  
            A esposa do embaixador, Françoise Amiridis, entrara em contato com a Polícia Federal para informar sobre o desaparecimento do marido. Fundando-se no argumento de  que o embaixador não estava em nenhuma missão oficial no Rio de Janeiro, a PF repassou a questão para a Polícia Civil.
             Não havendo sido encontrado o embaixador - e achando-se desaparecido há quatro dias - acentua-se a  preocupação  sobre a sua situação, acrescida pelo fato de que o carro alugado foi encontrado queimado.
             A notícia já repercutiu na Inglaterra (The Sun), Espanha e Grécia.
             Dadas as condições - sobretudo o desaparecimento prolongado - e o vencimento dos prazos usuais praticados nos sequestros, os prognósticos não tendem a ser favoráveis.   
            Dentro do macabro condicionado pela triste realidade das condições na Baixada, diminuem as perspectivas de um final menos bárbaro, restando verificar se no corpo carbonizado  há possibilidades de identificação.


Aumento do Desemprego


             No contexto das sombrias previsões da permanência do quadro recessivo, cerca de um milhão de trabalhadores será despedido do emprego no ano entrante de 2017. Consoante O  Globo, o número de desempregados -  que atingira 12,1 milhões em novembro (taxa de desemprego de 11,9%, consoante o IBGE) - deve alcançar 13,7 milhões de sem trabalho no fim do primeiro semestre de 2017.
              Este é o pior momento do mercado de trabalho desde 1991, com a maior taxa de desemprego. Até 2018, o emprego não vai voltar ao nível anterior, de antes de 2015, porque a economia brasileira também  não vai voltar.
             
              A conferir.


(Fontes:   O Globo, Folha de S. Paulo)

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Putin e Erdogan senhores da paz síria ?

                              

          É difícil não ver com desalento a paz na Síria, administrada por gospodin Vladimir V. Putin e Recip T. Erdogan, respectivamente grão- senhores da Rússia e da Turquia.

          Iniciada em março de 2011, por corajosos partidários da democracia na terra do tirano Bashar al-Assad, e pensando seguir no rumo da Primavera Árabe, lançada pela auto-imolação de modesto verdureiro tunisiano, Mohamed Bouzizi, como condiz aos grandes movimentos da Humanidade, essa Primavera, a um tempo tão caluniada e vilipendiada, torpemente combatida e temida, ela se afirma como um fanal do Terceiro-Mundo Árabe, com alguns inegáveis êxitos, magníficas tentativas malogradas, e um escárnio em progresso, que é a possibilidade, crua e nua, de o déspota que lhe dera origem - que sucedera ao pai, Hafez al-Assad - venha eventualmente a subpresidir  à refundação do tirânico protetorado.

          Como em toda a revolução - e a da Terra da Passagem disso não difere - no respectivo início, em damasquinas passeatas que justiça pediam (pensando nos reclamos de Deraa ao Sul) - um pouco de bom-senso, misturado com doses moderadas de inteligência - teria sido marco de concórdia, com a silenciosa salvação de milhões de infelizes e mártires.

           Para perdurar no poder, como ora parece ser o caso, será forçoso reconhecer que além de umas poucas e franzinas qualidades, Bashar logrou também subornar a sorte para o seu lado, embora tal lhe haja custado caro, e mais ruinoso ainda promete ser o porvir, com essa condição de semiprotetorado em que o regime alauíta ameaça transformar-se.

            Leão no nome, Bashar, por ora, carece de ser cordeiro, e abaixar a cabeça ao corredor polonês de humilhações por que terá de passar.

            O seu porvir, por enquanto se anuncia transido de dúvidas e talvez cruéis trampas. Pelo que fez, e pelo que deixou fazer, não é hora de queixar-se. Ele próprio, como modestamente descrevi em relato pregresso, foi como antigo potentado africano em visita de súplica ao Senhor do Kremlin. Deixando a majestade para os próprios infelizes súditos, para ele a audiência seria a da cessão da liberdade em troca da salvação in extremis. Dada a ambição de grão-duque Vladimir Putin em restabelecer a antiga soviética pujança, Bashar trazia, com a compunção do cliente carente, a secreta certeza de que prevaleceria a seu modo, cedendo a própria soberania, em troca de favores que lhe acenavam com o permanência no poder, posto que com a cessão da antiga autonomia.

                Para Bashar, a travessia está longe de ser terminada. Muitos perigos ainda o contemplam. Por ora, a ameaça maior vem da aliança russo-turca, uma estranha criação que só a necessidade política pode engendrar.

                Mas para o Presidente sírio a situação poderia ser ainda pior,  caso Barack Obama tivesse concordado com o plano de ajuda aos rebeldes que lhe fora apresentado pela Secretária de Estado Hillary Clinton, com o apoio das demais autoridades americanas nesta área.

                O que ajuda Obama é que o seu não foi há bastante tempo. Os que não esqueceram, hoje são vozes no deserto. Podem gritar e até como no filme Lawrence of Arabia (1962), ouvir o clamor respectivo repetir-se várias vezes na monotonia do eco. Mas, como naquele episódio da obra prima de David Lean, serão igualmente brados que podem repetir-se ad infinitum, mas permanecerão tão belos quanto inócuos.

                   O que decerto não ajuda a Barack Obama é que será pequeno o espaço - se houver - para a cadeira estadunidense nas negociações de paz. O 45º presidente pode ter apodado Putin de presidente de poder continental, mas o Senhor do Kremlin garantiu senhora presença na mesa de negociações desta paz de campos santos[1], que em nada pode ser comparada com a do americano, pelo volume dos respectivos aportes, e, sobretudo, pela velha regra da influência determinante na paz para quem a criou com a faina da guerra.     
  
                 Há inegável ironia no que tange a Barack Obama em termos a conflitos armados. Pelo seu marcante discurso de 2003 ele começou a empunhar a presidência americana, diante do rotundo e ruinoso fracasso do antecessor George W. Bush na guerra do Iraque. Nas porfias, o que conta será como terminam. E se aquela lhe trouxe a Casa Branca - e a negou, por primeira vez, a Hillary, por apoiar a aventura iraquiana - vemos agora que a opção da paz pode ser uma aparente má-partida, se nos permitirmos ficar sem o peso necessário para construir a pacificação duradoura.
                                                                                                                                    ( a continuar )


(Fontes: The New York Times, Lawrence of Arabia de David Lean, Folha de S. Paulo)



[1] Assim os italianos chamam os cemitérios... 

Hacking russo: sanções de Obama

                              

         A administração Obama acaba de anunciar, conforme noticia The New York Times, a mais forte resposta americana a um estado estrangeiro, por causa de interferência através de hacking.
          A força e a amplitude da reação do Presidente Barack Obama contra o Estado russo dirigido por Vladimir V. Putin, e as atividades de hackers russos contra os Estados Unidos e o seu processo eleitoral não têm comparação com episódios anteriores, como, v.g. no caso recente da Coréia do Norte, em que a retaliação americana foi assaz mais contida.
          Na verdade, tanto as sanções aplicadas, quanto a expulsão de 35 operadores, assim como a publicação de um relatório (livro branco) têm como escopo precípuo pôr pressão sobre o Presidente-eleito Donald Trump, que a respeito chegara a lançar dúvidas sobre o papel da Rússia nesse episódio, além de declarar que se deveria ir em frente, e esquecer a ocorrência (que no seu entender foi marginal).
            O Governo Obama, no entanto, impôs sanções aos dois serviços russos de inteligência, singularizando quatro dirigentes da inteligência militar.
             Barack Obama se propõe, outrossim,  divulgar um 'Relatório de Análise Conjunta' do F.B.I. e do Departamento de Segurança Interna.  Esse relatório estaria, no entender do Times, obviamente baseado em material de inteligência colhido pela Agência de Segurança Nacional.
              Ainda sublinhando a seriedade da resposta oficial estadunidense, foram sancionadas as quatro principais autoridades do  GRU (Agência de Inteligência Militar), a saber, Igor Korobov, o respectivo Diretor-presidente, e seus três auxiliares diretos, Sergei Gizunov, Igor Kostyukov e Vladimir Alekseyev.
               Dada a circunstância de que Barack Obama possui pouco mais de vinte dias de exercício como presidente, além do fato de que os agentes russos atingidos não têm residência nos Estados Unidos, nem costumam vir a tal país, é pouco provável que essas medidas possam ter efeitos comparáveis aos que tiveram aquelas aplicadas por ocasião do ocupação da Criméia pela Federação Russa, assim como pelas muitas atividades contrárias à Ucrânia adotadas pelo Kremlin.
                  De qualquer modo, diante dos comentários do presidente-eleito, que tentaram minimizar a interferência dos agentes russos enquanto hackers nas eleições americanas, assim como buscam desenhar um futuro de cooperação entre Washington e Moscou, dificilmente a reação da Administração Obama poderá ter resultados duradouros na evolução das relações entre os dois países.
                   Mas não se pode excluir que os congressistas republicanos, no caso de u´a maior repercussão na opinião pública eventualmente desfavorável a relacionamento mais estreito entre Washington e Moscou, não venham a colocar problemas políticos para a novel Administração Trump.          


(  Fonte:  The New York Times  ) 

Notícias de Fim de Ano

                                
Desemprego

         Dada a crise econômico-financeira, o governo Temer já admite um desemprego superior a doze milhões de brasileiros.
         Não, caro leitor, você não se enganou. Boa parcela dessa população normalmente empregada no Brasil está na rua, muitos deles à cata de uma nova colocação. 
          E por enquanto, a economia não dá sinais de reativação.


Desaparecimento do Embaixador grego no Brasil


          Kirianis Ameridis, que é o embaixador da República Helênica no Brasil, como todo chefe de missão aqui acreditado, tem residência permanente em Brasilia.
          Sua Excelência, pensando aproveitar as festas de fim de ano na Cidade Maravilhosa, veio ao Rio em férias.
          Nada demais nessa interrupção do trabalho de cada dia. O único problema, no entanto, é que o Embaixador Ameridis saíu do visor há cerca de três dias . Em outras palavras, Ameridis está desaparecido.


Venda de Philippe Coutinho


              Nesse lamentável período que o Clube de Regatas Vasco da Gama ora atravessa - lembrem-se que a sua volta à primeira divisão só foi decidida na última rodada da série B - a mídia noticia que a venda de Philippe Coutinho renderá mais de quatro milhões aos cofres do  Vasco...

              Um grande clube - o que o CRVG já foi -  tem o seu peso e relevância marcados pelo próprio plantel.  Um amontoado de medíocres reflete a atual decadência que o Vasco atravessa, causada em grande parte por uma direção ultrapassada e desprovida de qualquer visão capaz de dar condições ao time de voltar aos espaços que um dia ocupou.


Rio -  a mui previsível discórdia

             Causará acaso surpresa que as contas do atual prefeito, Eduardo Paes, e de seu sucessor, Crivella, sobre as finanças cariocas não batam ?

              Para Eduardo Paes, haveria equilíbrio fiscal. Já no entender do prefeito eleito, haveria um rombo de R$ 4,4 bilhões para 2017. O porquê dessa leve diferença estaria talvez no custo dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.

              Como não sou suspeito de formar no grupo dos apoiadores do atual prefeito, não se deve ter problema em reconhecer que o desequilíbrio nas verbas tem pelo menos a justificativa de que o Rio - ao contrário de o que esperavam muitos amiguinhos, tanto em Pindorama, quanto em terras estrangeiras - tem o que mostrar em termos de sucesso de público e de apresentação em resposta ao desafio do grande festival olímpico, a que tantas outras cidades não puderam - ou não souberam - dar a mesma resposta capaz de calar gregos e troianos.


Bilhete azul para funcionários

               Desde muito se assinalava que, por política do regime anterior, os gastos correntes oneravam os custos do Estado, em função sobretudo da assunção maciça de funcionários pelo lulo-petismo.
                A tão temida hora do bilhete azul bate à porta de 4,6 mil cargos comissionados. A economia prevista, segundo as fontes oficiais, será de R$ 240 milhões.
                 A esse propósito, o Diário Oficial da União (DOU) assinala que 2962 cargos (de 4.662) serão extintos em janeiro de 2017.



( Fonte:  O  Globo (on line )  )

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Morte do embaixador russo em Âncara

                                    

        A edição digital do Times noticia a morte do embaixador russo Andrei Karlov, assassinado por um policial turco, quando discursava em exposição de arte numa galeria de Ancara, na Turquia.
       
        Karlov, que ingressara na carreira diplomática em 1970,  e que servira muitos anos na Coréia do Norte, foi morto pelas costas, por um policial turco, que gritava, a princípio em árabe - Allah uk akbar - e, mais adiante em turco, 'não se esqueçam da Síria!' e 'não se esqueçam de Aleppo !'

        O policial assassino seria abatido pouco depois.
         

( Fonte: edição digital do New York Times )

Semelhanças Perigosas

                              
        Creio muito oportuna a nota-editorial do Estado de S.Paulo, datada de dezesseis do corrente, sob o título O dedo do PT.
         É de toda importância que os responsáveis por badernas travestidas de manifestações sejam individuados e sinalizados.
         Com efeito, os atos de vandalismo, travestidos de manifestações, promovidos em várias capitais, mas com destaque em Brasília e São Paulo, que se apresentavam contra a aprovação da emenda constitucional que estabelece limites aos gastos da União nos vindouros vinte anos, a chamada PEC do Teto, o que significam na verdade e quem está por trás desses atos de vandalismo?
          Na verdade, esses atos e distúrbios teleguiados dão  idéia da irresponsabilidade daqueles  que levaram  o País a uma das piores crises de sua história e ainda querem, agora, criar todas as dificuldades para a adoção das medidas que se impõem para consertar o estrago monumental que eles fizeram. Tudo isso vem misturado ao ódio e  ressentimento cultivados pelo PT e seus apêndices, os chamados movimentos sociais, nos anos em que estiveram no poder.
          Diga-se de paso dois elementos importantes: excluído o Estadão, outros jornais podem noticiar dos estragos feitos e do eventual inevitável transtorno à cidadania das metrópoles atingidas, mas nenhum deles - se me engano, gostaria que m'o assinalassem - fornece elementos como o faz o jornal paulista, que não trepida em sinalizar os eventuais responsáveis. A eles chegaremos.
           Creio relevante, no entanto, sublinhar a característica básica dessas hordas de elementos que nada têm a ver com o diálogo político democrático e, mesmo, com demonstrações que respeitam o direito da outra opinião.
           Esses ditos movimentos sociais do PT não diferem seja das SA, a Sturmabteilung (camisas pardas), esta chefiada pelo nazista Ernst Rohm, e da Schutzstaffeln, a SS (uniforme negro) que sobreviveria à sublevação da SA,  e que se tornaria ainda mais perniciosa, através de seu posterior envolvimento com os campos de extermínio dos judeus e dos opositores do nazismo. Adolf Hitler ao instituí-las, com em outros aspectos, imitou o fascismo de Benito Mussolini, com seus bandos de alas de intimidação e de 'proteção'. Tampouco os comunistas fugiam da regra, eis que  tinham legiões de arruaceiros, cujo escopo precípuo era a intimidação dos adversários e a eventual proteção dos líderes do PC.
                Mas voltemos aos ditos "movimentos sociais do PT".  Para tanto, o Estadão é a fonte: "De norte a sul, do Acre ao Rio Grande do Sul", em 14 capitais, aquilo a que se assistiu na 3ª feira passada, tão logo o Senado concluíu a aprovação da matéria, não foi manifestação legítima de protesto.  Foi um festival de violência de quem, por seu espírito autoritário, se julga dono da verdade e vê no outro um inimigo a abater, não um adversário com que deve conviver. Mesmo que para isso - frustrado por perder o poder, seus privilégios e suas "boquinhas" - tenha de apelar para o quanto pior, melhor.
                  Brasília. Cinco mil baderneiros - segundo a PM - atacaram pontos de ônibus e destruíram vários carros. Só dentro de uma concessionária invadida e depredada, foram dezesseis deles. A polícia, que teve de usar bombas de efeito moral para a muito custo, dispersar os baderneiros, foi por eles atacada com pedras e bolas de gude. Mais de setenta deles foram detidos e cinco policiais ficaram feridos.
                   Cenas semelhantes se repetiram em outras cidades, como no Recife, onde pneus foram incendiados  e uma importante via bloqueada. O escopo de queimar pneus se insere na intenção de criar a maior confusão e transtorno possível, com vistas a afetar de modo sensível a circulação de veículos.
                   Em São Paulo, onde esses indivíduos são especialmente bem organizados e treinados, os baderneiros se reuniram na Avenida Paulista, onde o alvo principal da sua missão foia Federação das Indústrias  (FIESP) - sua sede foi invadida e depredada.  Lá dentro foram soltados rojões. Tal vandalismo nada ficou a dever aos seus modelos fascista e nazista. As deploráveis cenas de violência vandálica foram transmitidas pela TV, e não deixam qualquer dúvida que só por sorte essa boçalidade coletiva não se transformou em tragédia.
                       Em nota, afirma a FIESP que "os vândalos portavam bandeiras do PT e da CUT" e que a ação colocou em risco seus funcionários e os do SESI e do SENAI que saíam do local, além de frequentadores do Centro Cultural Fiesp, que oferece exposições e espetáculos teatrais gratúitos.
                     A reação do coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), o notório Guilherme Boulos, mostra absoluta insensibilidade  e indiferença aos riscos aos quais sua tropa de choque expôs a população: "A Fiesp representa o que não presta no Brasil. O dano da fachada da Fiesp é muito pouco  perto do dano que ela está causando há muito tempo ao povo do Brasil". Ou seja, pode destruir tudo - ali e nos outros locais atacados Brasil afora - mesmo que isso coloque muitas vidas em risco.
                              Já sabendo que a população tem razões de sobra de ver seu dedo - para dizer o mínimo - na baderna, o PT soltou a seguinte nota, que  é um primor de desfaçatez e cinismo, em que afirma: "não teve qualquer participação nos eventos atribuídos a militantes de nosso partido  na sede da Fiesp em São Paulo. Mais uma vez os que sempre atacam o PT querem de novo que paguemos o pato".
                                O editorial do Estadão manifesta admiração pelo fato de que o PT - que colocou o Brasil no buraco e agora aponta o dedo acusador para os que querem tirá-lo daí - inverta por uma vez mais a situação.
                                  No entender do Estado de S. Paulo "quem tem que 'pagar o pato' pela violência dos manifestantes  é ele, sim. Foi o PT que dividiu o país entre "nós" e "eles" e insuflou a violência por meio do "exército do Stédile" (MST) e depois também pelo de Boulos (MTST), e de tantos outros movimentos ditos sociais (foram trinta os que participaram do vandalismo de terça-feira).
                                   Segundo afirma o parágrafo final do comentário editorial do Estadão "o País está colhendo, e não é de hoje, a tempestade provocada pelos ventos que o PT soprou e continua a soprar, apesar de o que diz sua nota malandra. Por trás da baderna e de Boulos, está, com efeito, o Partido dos Trabalhadores.



( Fonte: O Estado de S. Paulo )   

Colcha de Retalhos D 50

                                    

Dolar forte é mau sinal?

      A última revista Economist que está nas bancas e que é a porta-voz natural de o que pensa a City de Londres não traz boas notícias sobre o fortalecimento do dólar. A súbita pujança do greenback seria mau signo para a economia mundial.
        E o que se afigura mais contraditório é que a recente (e surpreendente) vitória de Donald Trump nas eleições americanas, fez com que nas últimas três semanas que se seguiram a tal infausta data, o dólar estadunidense registrasse uma de suas maiores alças perante moedas de países ricos.
        Subiu 40% acima dos próprios baixios de 2008. E o yuan, para consternação dos chineses, está no seu nível mais baixo para com o US$ desde 2008. A rúpia da Índia - que tem problema dela próprios - caíu ao nível mais baixo de todos os tempos diante dos greenbacks.
         No entanto, segundo a revista assinala, faz anos que o dólar se vem reforçando. Contribui para tanto também a especulação sobre o que fará o novel presidente americano. A maioria dos investidores aposta que neste mandato de Trump, o deficit orçamentário crescerá, seguido por altos juros. Tudo isso por causa  da redução de impostos e o dispêndio maior de Trump para reparar a infraestrutura estadunidense, que carece de urgentes reparações.
          Se o poderio dos Estados Unidos como potência comercial esteja em aparente declínio (o número  de países  para que os EUA é o maior mercado continua em baixa: esse total de nações caíu  de 44 em 1994 para 32, passadas duas décadas). Sem embargo, a supremacia do dólar como meio de troca e de entesouramento de valores continua imbatível.
           Dessarte, uma zona do dólar de facto, que abrange  os Estados Unidos e outros países cujas divisas oscilam de acordo com a greenback , compreende cerca de 60% da população mundial e também 60% do seu PNB.
           Quando o valor do dólar estadunidense sobe, também cresce o montante do custo de atender ao serviço das respectivas dívidas contraidas em greenbacks. É o caso dos países que tomam emprestado em US$ dólar. A consequência é que, em muitos países, as condições de crédito tendam a ficar mais apertadas e mais presas às contingências do dólar americano.
             A esse propósito, segundo sublinha o editorial do Economist,  não é surpresa que alguns dos maiores perdedores no que tange ao dólar estadunidense, se localizam em países como Brasil, Chile e Turquia, já sobrecarregados pelo ônus de dívidas em dolar estadunidense.  
             Há também perigos potenciais  para um dólar mais forte nos EUA. O déficit comercial tenderá a  crescer por causa desse dólar que diminui as exportações e que incrementa as importações. Para Trump, o déficit na balança é consequência de regras desfavoráveis às exportações americanas, e por isso tencionaria estabelecer pesadas tarifas nas exportações vindas da RPC e do México. Se o novel presidente seguir os seus instintos protecionistas, as consequências seriam desastrosas para todos.
              Segundo o Economist, se o US dollar continuar forte, poderia ser a pressão protecionista  contornada por ação coordenada internacional.  A revista lembra o que se fez em 1985, com o Acordo do Plaza (EUA, Japão, Reino Unido, França e Alemanha Ocidental), mas o editorial da revista o descarta, porque as condições não semelham favoráveis, eis nenhum deles estaria interessado em políticas monetárias mais severas.
                Diante de tal quadro, a visão da City se afigura pessimista. Os mercados de ação nos EUA parecem demasiado confiantes. Ao revés, a economia global está fraca e a força do dólar irá enfraquecê-la ainda mais. Será ?
     
 A Crise chinesa afeta o Nordeste

           Consoante a Folha assinala nesta segunda-feira, o Nordeste, como um todo, enfrenta uma crise mais aguda nos seus principais indicadores econômicos e financeiros do que restante do país.            
           Assim, a conjunção da renda inferior à média nacional, dependência muito marcada de verbas públicas de parte dos municípios, assim como falta de reajuste do Bolsa Família em 2015 - consequência por certo do declínio e queda do governo petista de Dilma Rousseff - levaram no ano passado  o desemprego na região a ficar em 14,1%, contra 11,8% no Brasil em geral.  Além disso, a economia nordestina encolheu cerca de 6% no acumulado em doze meses.
             A inflação nas principais capitais do Nordeste desacelerou menos  do que o observado em outras regiões do Brasil. Nesse sentido, Salvador, Recife e Fortaleza, com alta superior a 8% em doze meses, registram os piores índices neste momento.
              Essa carestia afetou, como seria de esperar, as vendas no comércio da região, e a retração  no mesmo período  foi superior a 10%.
              Como se tal não bastasse, a crise regional se vê agravada pela estiagem, que já dura por um quinqüênio e vem causando quebras de safras, reduzindo, por conseguinte, o poder de compra  no interior rural.
     

( Fontes: The Economist (December 3rd); Folha de S. Paulo )

domingo, 18 de dezembro de 2016

Sully

                                       
       Clint Eastwood, o sóbrio diretor estadunidense, volta a fazer filme com herói americano. Tom Hanks, que já personificou tantos, é agora o veterano piloto Chesley (Sully) Sullemberger, comandante do voo US Airways 1549, com cento e cinquenta passageiros a bordo.
       O filme principia com o acidente. Saindo do aeroporto La Guardia, de New York, logo após a decolagem, chocam-se com os reatores do avião, na manhã de quinze janeiro de 2009, duas revoadas de pássaros, que silenciam um deles e comprometem  seriamente o outro, a ponto de que o piloto Sully, com a anuência do co-piloto Jeff Skyles (Aaron Eckart), entre a volta a La Guardia e o Hudson, decida pelo pouso nas águas geladas do rio.
        Com esse prólogo, e demonstrando grande frieza e habilidade, o piloto Sully prepara o jato para a forçada amerissagem, que ele consegue fazer dentro das possíveis melhores condições, dados os riscos de que aeronave se partisse ou afundasse nas águas do Hudson.
         Mas a destreza do piloto logra negociar um pouso agitado, porém controlado nas circunstâncias. Acionadas as balsas de emergência,  o avião, com  cento e cinquenta pessoas, incluída a tripulação, pousa no Hudson sem afundar.
          Em questão de poucos minutos, se nos apresenta a grande habilidade profissional do comandante, com o pouso no rio, e própria descomunal capacidade de destra coragem e concentração Quarenta mil horas de voo, garantem a incolumidade dos 150 passageiros e de toda a tripulação.
          Depois de verificar pessoalmente que ninguém ficara no avião, foram todos transferidos para as lanchas da guarda costeira.Só,então o comandante Sullenberger abandona a aeronave. 
           O heroísmo do veterano comandante está imantado, pois tudo o mais são decorrência dos minutos do desastre e de descomunal incerteza que o tirocínio e a capacidade acumulada de tantas  horas de voo, estruturam todo o conhecimento e a experiência que lhe são indispensáveis para enfrentar o magno desafio que a tão poucos aviadores felizmente se há de colocar. Dessa maneira, num punhado de instantes o comandante enfeixa sob a concentração e a experiência  de ás da avião civil, a firmeza, a lucidez e a férrea calma para transmutar em feito quase natural na aparência o gesto heróico de uma criatura que ascende em questão de átimos aos altos páramos do heroismo.
              O compacto roteiro do restante da película descreve a capacidade do homem que logra atingir tais alturas. Na própria inaudita coragem e singeleza, a sua atuação enfeixa em punhado de  instantes um gesto que o arranca do  cotidiano.  Sullenberger terá de pagar, então, pela façanha, em que a burocracia aérea pensará enxergar alternativas não tão excelsas, mas quem sabe?, quiçá menos dispendiosas de uma perda de grande aeronave.
                Não pretendo aqui delongar-me em mais detalhes. As peripécias não são colaterais como a palavra helênica insinua, pois trazem outra substância à essência dessa película em que o herói americano reaparece.
                 E é o que verão os cinespectadores, quando hão de notar uma vez mais que Clint Eastwood é muito mais do que simples artesão.

                 E, nesse contexto, talvez melhorem as avaliações da crítica,  pois esse filme não merece a pouca atenção que lhe foi dispensada até agora.

Hillary: Hacking foi vingança de Putin

                             

          Na quinta feira, quinze de dezembro, Hillary atacou Vladimir Putin em dois planos:  por um lado, os ataques de hacking visaram a sua campanha e também tencionavam sabotar a democracia americana. Por outro, a investida  foi lançada porque ele desejava vingar-se dela, por causa de acusação, da então Secretária de Estado de que a eleição russa daquele ano tinha sido trucada.
          Falando para doadores políticos em Manhattan, a Senhora Clinton disse que o presidente russo nunca a perdoara pela acusação da então Secretária de Estado de que as eleições parlamentares russas de 2011 haviam sido fraudadas.
          É a primeira vez que a Sra. Clinton trata publicamente do impacto dos hackings, desde que a comunidade da inteligência concluíu que eles se destinavam especificamente a prejudicar a sua campanha.
          Não se enganem. Só agora a imprensa se está inteirando dos fatos. Foi o que procuramos fazer ao tentar em desespero mostrá-los para ela nos  últimos meses. "Isto não é só um ataque contra mim e a minha campanha, ainda que isso possa ter contribuído para tanto. É um ataque contra o nosso país. Aqui se trata da integridade de nossa democracia e da segurança da nação americana."
           No seu discurso, ela endossa a proposta de um grupo bipartidário de senadores para investigar o hacking e diz que a investigação deverá basear-se na comissão constituída  depois dos ataques de onze de setembro.  


( Fonte:  The New York Times)

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Dom Paulo Evaristo Arns

                              
          Morreu nesta quarta-feira, catorze de dezembro, o Cardeal-emérito de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns. Era frade franciscano antes de ser criado cardeal pelo Papa PauloVI.
          Homem simples, mas corajoso e letrado.O então cardeal de S.Paulo,D Agnelo Rossi,o indicaria como um de seus bispos-auxiliares. Sendo D.Agnelo da ala conservadora, sua escolha  causaria espanto pelas diferentes orientações pastorais  do Cardeal e deste seu novo bispo-auxiliar.
          A diferença das visões respectivas logo se tornaria marcada. Iniciando visitas à prisão do Carandiru, por determinação do Cardeal foi visitar frades dominicanos detidos por motivos políticos, entre eles frei Betto.
          Após verificar que haviam sido torturados,  ao regressar,disso deu ciência ao Cardeal. Para sua surpresa, conforme dito na autobiografia, ouviu: "Outros me garantem que não há torturas nas nossas prisões." D. Paulo nunca criticaria publicamente dom Agnelo por essa declaração.
           Logo assumiria em S.Paulo a vanguarda da defesa dos presos políticos. Em 1970, foi designado por escolha pessoal do Papa Paulo VI, Arcebispo de S.Paulo, assumindo o lugar de D. Agnelo, que foi servir em Roma, à frente do dicastério de Propaganda Fidei.
            Assumiu, então, de forma concreta, a opção pelos pobres - que era também a de sua ordem, a de S. Francisco.  De início, vendeu o Palácio Episcopal e com o numerário,comprou terrenos em bairros pobres para missões religiosas modestas (D. Helder procederia da mesma forma).
            Transcorreram nessa época grandes embates seus com os generais. Nesse sentido, enfrentou comandantes militares na Paulicéia e até presidentes da República.  Assim, em encontro com o general Emílio Garrastazu Medici, a conversa terminou aos berros. Foi Médici quem decretou pouco depois a cassação de uma rádio da igreja católica paulistana.
              Do mesmo modo, enfrentou autoridades civis, de governadores a delegados, tentando assegurar direitos civis aos presos políticos.
                Com base no exemplo de Paulo VI, reproduziu na sua Arquidiocese a Comissão de Justiça e Paz, indicando o advogado Dalmo de Abreu Dallari em 1972 para ser seu primeiro presidente. Em 1973 foi criado Cardeal por Paulo VI.
                Como sempre, se valeria das novas insígnias para elevar o seu combate à repressão. Nesse sentido, apoiou o Procurador de Justiça Hélio Bicudo, em sua luta contra a quadrilha do Esquadrão da Morte, e tornou possível a publicação de livro sobre a matéria, livro esse que havia sido recusado  por timoratas editoras comerciais.
                No período, por sua coragem sofreu ameaças e calúnias. Até um acidente com automóvel - sofrido no Rio - se descobriu que havia sido um atentado. Em outros casos, personalidades de nomeada sofreriam acidentes suspeitos.
                Uma de suas mais notáveis iniciativas foi a publicação patrocinada de "Brasil:Nunca mais".
                 Com o advento do Papa polonês, de linha conservadora, João Paulo II, este chegou a fracionar a Arquidiocese de S. Paulo.  D. Paulo Evaristo deixaria claro em suas memórias que nada disso ocorre sem a conivência do Pontífice.
                 Também a estranha campanha contra a teologia da libertação, arquitetada pelo Cardeal Josef Ratzinger (depois BentoXVI) foi feita de modo similar, sendo afastados inúmeros teólogos de nomeada pelo mundo afora, entre os quais Hans Kung e o brasileiro Leonardo Boff.
                   Pouco antes de deixar a Arquidiocese, enfrentou o Papa polonês em difícil entrevista, quando este último admitiu que era com efeito o responsável final pelas decisões polêmicas de favorecer a campanha contra a teologia da Libertação, e o fracionamento da Arquidiocese.
                   Outra postura de igual teor foi a não elevação de D. Helder Câmara ao Cardinalato. A bondade e a humildade de D. Helder, que suportou cristãmente o tratamento recebido pelo sucessor em Olinda e Recife, Dom José Cardoso Sobrinho, elevaria o grande bispo-auxiliar do Rio de Janeiro e notável Arcebispo de Olinda e Recife a santo de Sagrada Igreja romana, destino que o necessário transcurso tradicional do tempo caberá decerto igualmente a Dom Paulo Evaristo Arns.


( Fontes:  Necrológio da Folha,  Anuario Pontifício 1985 )    

Agora Putin está pronto para a Paz

                        

        Comovente, não? Depois que o Leão Bashar teve todo o tempo para exterminar os infelizes que não puderam fugir de Aleppo, gospodin Putin acha que é hora de discutir a paz...
        Esta paz, no entanto, chegará tarde para as famílias, as mulheres, e as crianças que foram trucidadas pela raiva cruel dos exterminadores do presente na Síria, que castigam aqueles civis, dependentes de civis e filhos de civis que, por sorte madrasta, não puderam escapar do alcance, a um tempo covarde e criminoso, do ditador  sírio, que retornou politicamente, depois de sua quase morte virtual, salvo que foi não pelo rum creosotado, mas pelo atual Chefe de todas as Rússias, Vladimir Vlamirovitch, que só agora, depois que as tropas de al Assad puderam completar, a seu tempo e com todas as crueldades que imaginar-se possa, a ação maldita da vingança primeva, que mata sem vestígios de qualquer piedade os desafortunados que, ou acreditaram na misericórdia do tirano, ou, pela sorte madrasta que persegue a gente pequena,  não tiveram outra opção senão a de expor-se à perversidade e à estulta raiva de quem só pode ocupar-se de gente indefesa e sem outra culpa que a estar do lado supostamente errado da contenda.
        Mas não é hora de queixas nem de lamúrias, pois o Senhor da Rússia pensa agora na paz, que será, por certo, uma paz russa, garantidas as vantagens de sua tão bem direcionada intervenção.
        No passado, as guerras eram lembradas pelos cemitérios. Hoje Aleppo, com as suas ruínas, virou um Campo Santo, um depósito de todos os infelizes que acreditaram na liberdade e em uma existência melhor.
         Termina, por ora, a insurreição síria, e é por certo adequado que o monumento alusivo ao fim inglório de uma tentativa malograda, com o seu saldo nefando de massacres de inocentes  - e de fugas desesperadas para destinos muita vez inóspitos - que tal monumento venha a ser discutido e negociado nas assépticas mesas do Palais de Nations !

          E de que há de servir a paz (com letra minúscula, senhor revisor do futuro!) senão para os lauréis dos vencedores, e dentre essas excelências não vejo nenhuma outra que igualar-se possa àquele a quem mais aproveita esse amargo Triunfo, sem palmas nem troféus, i.e. Vladimir Vladimirovitch Putin!                     

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

A Rússia e seus hackers

  
                               
        A intervenção dos hackers russos na última eleição está sendo analisada pelas autoridades americanas. Em resumo, a impressão prevalente é da dificuldade de individuar-lhes a respectiva ação, e os eventuais impedimentos ainda maiores com vistas a lograr a sua respectiva condenação.
         Por sua vez, o amigo da Rússia,  Donald Trump, comparece com uma mentira: segundo o presidente-eleito, através de seu instrumento preferido de comunicação,o twitter, nos vem com essa potoca.
          Não é que de acordo com a memória de Sua Excelência o hacking terá ocorrido depois da eleição...


( Fonte: The New York Times )

O Judiciário e os tropeços de Renan

                         

         Saído de uma, Renan que está em guerra contra Judiciário e Ministério Público, sofreu ontem a segunda derrota na tentativa de impor a própria pauta de votação. Ele foi punido pelo açodamento no avanço contra os velhos moinhos da magistratura.
         Renan, movido por ódio contra ações do M.P. e do Judiciário, terá tido a vista toldada, e por isso se viu forçado a recuar, quando pressionado pelos líderes dos principais partidos, e retirar da pauta de votações  o projeto de lei que pune o alegado abuso de autoridade.
          Terá esquecido que a vingança é um prato que se come frio, e por isso ei-lo, com o front desguarnecido, e as eventuais tropas de apoio escassas e obrigadas ao recuo.
           Pilhado sem maioria para constranger a votação ontem mesmo de sua proposta, bateu em retirada, forçado a concordar com acordo negociado pelo presidente do DEM, José Agripino (RN). Sem apoio, Renan nem chegou a colocar em votação requerimento pedindo que o projeto fosse retirado da pauta. Simplesmente, acolheu a proposta negociada.
            Como que despojado da própria  argúcia, Renan, entrevendo no tal projeto do abuso de autoridade possível arma na sua luta contra as peripécias jurídicas, debalde foi avisado de que seria derrotado por segunda vez  em duas semanas. Tampouco teve o necessário  equilibrio ao tentar fazer votar o projeto com as dez medidas contra a corrupção, com o texto por inteiro adulterado pela Câmara, e sofreu nova  derrota.
             Sem a necessária frieza, ele se viu de novo isolado, e teve de concordar com os líderes. Na sua campanha contra o alegado abuso de autoridade, chegou a mandar desengavetar projeto de 1999, do tempo de Fernando Henrique Cardoso, que tratava - vejam só! - da criminalização do vazamento de informações por parte de magistrados e integrantes do Ministério Público - que já em 1997 era conhecido como "Lei da Mordaça".
               Como os demais projetos que tratam da punição do abuso de autoridade, também esse foi parar na gaveta. A ação proposta para extirpar tais males terá sido vista como trazendo outros, quem sabe mais graves.


( Fontes:  O Globo, Miguel de Cervantes )

Oportuníssima Liminar do Ministro Fux

                              

         Bem haja o Supremo Tribunal Federal e, em especial, o Ministro carioca Luiz Fux, que houve por bem anular a votação  da Câmara dos Deputados, que desfigurara o pacote das dez medidas anticorrupção, na empreitada noturna de princípios de dezembro.
         Na decisão em tela, Fux determinou  que o projeto - que já havia sido encaminhado ao Senado Federal - voltasse à Câmara. Determinou, outrossim, o Ministro que o projeto comece de novo a tramitar como proposta de iniciativa popular.
           Com efeito, o texto original apoiado por mais de dois milhões de assinaturas, ao ser apresentado ao Legislativo o projeto em apreço fora oportunisticamente encampado por um grupo de deputados, e tramitara como se fora iniciativa de parlamentares.
            Fux proferiu a sua decisão em mandado de segurança de autoria do deputado Eduardo Bolsonaro (PSC-SP), que questiona a inclusão da emenda sobre o abuso de autoridade, tema estranho  à essência da proposta popular, durante a votação  no plenário da Câmara.  Nesse sentido, o ministro foi além na liminar, ao decidir que toda a tramitação estava viciada, por não ter sido feita sob o procedimento estabelecido para projetos de iniciativa popular.
              Segundo o Ministro do Supremo, no caso em tela ficam vedados "emendas e substitutivos  que desfiguram a proposta original para simular apoio público a um texto  essencialmente distinto  do subscrito por milhões de eleitores". Essa falta de respeito a uma iniciativa de tão largo apoio popular foi oportunamente fulminada pelo Ministro Fux. 
               Fux determinou, no entanto, que a matéria volte à Câmara, que deverá adotar o procedimento correto para a tramitação de projetos de iniciativa popular. Como oportunamente frisou o Ministro Luiz Fux, "há apenas simulacro de participação popular quando as assinaturas de parcela significativa do eleitorado são substituídas pelas de alguns parlamentares."


( Fonte:  O  Globo ) 

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Por que os Democratas não reagiram?

                              
         É uma pergunta muita válida que se fazem jornalistas do New York Times.
         Espanta a apatia do partido Democrata quando a sua candidata obtém maioria popular de três milhões de sufrágios sobre o seu adversário.
         Surpreende igualmente que os democratas não se tenham empenhado nas recontagens de votos, que deixaram por conta da candidata Jill Stein, de um partido menor.
          Além disso, na Pennsylvania, a falta de empenho do Partido ensejou que um juiz lhes negasse a licença, pelo seu desinteresse, demonstrado pelo respectivo atraso em apresentar o documento judicial.
          Nesse contexto, os jornalistas lembram do empenho republicano quando do atraso na votação da Flórida. Não lhes faltou determinação para lograr que fosse encerrada a apuração naquele estado. Conquanto proceda que o Partido Republicano tende a ser mais pugnaz do que os Democratas, não é um bom exemplo a 'vitória' arrancada da Suprema Corte pelo GOP.
          Espanta, no entanto, que os democratas não se tenham empenhado em defender a candidatura de Hillary Clinton, ainda mais diante dos propósitos do candidato adversário, cujo governo, se efetivado, promete ser um rosário de crises, motivadas tanto pelo baixo nível de suas indicações, quanto pelo potencial negativo de outras, como a do candidato a chefe do Departamento de Estado, cujas estreitas relações com o autócrata Vladimir Putin levantam não pequenos problemas na execução da política externa estadunidense.
            Comovente a amizade de Tillerson e Putin, ainda que muito contribua o interesse do diretor da Exxon em manter boas relações com o líder do grande produtor de petróleo que é a Rússia.
            O silêncio tem sido a resposta do estamento democrata. Diante das negras perspectivas apresentadas por Donald Trump - seja nos 'valores' republicanos que chamou para o seu secretariado - vide Rick Perry, o político texano que foi redescobrir (na década passada ele fora pré-candidato a presidente, quando prometeu acabar com o departamento da Energia, que vai agora chefiar) e, sobretudo, fora do campo das mediocridades, desafia o establishment com a dúbia escolha do empresário Rex Tillerson para o Departamento de Estado, em que o risco político é grande, a ponto de provocar já núcleos de reação dentro do próprio GOP para contestar a escolha politicamente arriscada  de Tillerson, CEO da Exxon-Mobil, e amigão do Presidente russo. 
               O futuro dirá - ou quem sabe? as memórias dos partícipes - porque o Partido Democrata não fez nenhuma movimentação política para  valorizar o papel de Hillary, diante da pesada derrota de Trump no voto popular, ou para promover recontagens de votos nos estados de Pennsylvania, Michigan  e  Wisconsin. Essa apatia, diante das atitudes de Trump e da extrema debilidade tanto política, quanto mental de muitas das indicações do republicano, causou acerbas críticas em artigo desse grande jornal estadunidense.
                  Por isso, o Times ataca os democratas pela sua alegada falta de unidade e de capacidade de reagir, no que muito se  diferenciam dos políticos republicanos. Pareceu-me, no entanto, infeliz o exemplo escolhido  da reação do GOP que fizera sustar a contagem dos votos na Flórida e transformara, na prática, a eleição de George W. Bush numa sentença da Suprema Corte...  Haja desenvoltura!


( Fonte: The New York Times )             

O carniceiro de Aleppo

                              

         Não é decerto título invejável, mas há muito poucas dúvidas de que Bashar al-Assad não faça jus a tal designação.
         A guerra civil síria toca o seu amargo fim, com as forças do exército de Assad tomando posse de o que resta do símbolo da resistência rebelde.
          Com o apoio que tinha da Rússia e do Irã, desde muito tampouco restavam  dúvidas de que a heróica caminhada dos rebeldes, uma das primeiras manifestações da Primavera Árabe, se cingia agora à senda dos extermínios, com famílias inteiras sendo sacrificadas pela simples razão de se encontrarem no lugar errado.
          A omissão do Ocidente começou quando Barack Obama recusou qualquer ajuda à frente dos rebeldes, como Hillary Clinton, então a autoridade sênior dentre os quatro chefes de Departamento que recomendaram essa postura ao 44º presidente, dele receberam um não, que na época lhe terá parecido esperto politicamente.
           Com tal prudente renúncia, Obama terá preferido, em termos de campanhas difíceis, a eterna expedição no Afeganistão.
            O problema com a providente astúcia na política, é que se abandona aqueles que acreditaram nos toques e nos encantos da liberdade. Putin, sedento de poder grande, ao receber o régulo sírio - que muitos, inclusive parentes seus, tinham abandonado por havê-lo já na senda do exílio - na aliança da submissão, como descrita em blog anterior, teria o caminho desimpedido para aumentar a respectiva presença, tanto na Terra da passagem, quanto o próprio incremento nessa região médio oriental, com bases aéreas e navais.       
             O  Leão da Síria, malgrado os massacres perpetrados na detestada Aleppo, enquanto símbolo da resistência rebelde, ainda não parece saciado, nem satisfeito. Até crianças foram passadas nas armas, nessa sangrenta orgia da conquista.
              Mas voltemos ao 44º presidente, que dispõe de pouco mais de uma trintena de dias, primo para assistir ao arrebanhamento de um povo, finda a revolta síria. Não se trata de que assistirá como res inter alios acta (questão   a cargo de outros) a disposição do território sírio, pois felizmente poderá participar  da eventual vitória sobre o E. I. , na recuperação de Raqqa e em outras áreas.
                   Quanto à reconstituição da Síria, as possibilidades são muitas de que não faltarão excessos, nem situações em que prevalecerá a política de Breno, o chefe gaulês que respondeu aos pedidos de clemência dos romanos - ainda fracos - com o dito "vae victis" (ai dos vencidos).
                    Pena por isso que ao povo sírio resta ainda muito sacrifício e ocasiões como a descrita acima, por haver o presidente Obama acreditado por demais na diplomacia sem o aporte da força armada.
                    Não é que pretenda transformar esse bom presidente americano - e as suas qualidades hão de crescer ainda mais diante de quem lhe sucede - em responsável por tudo no Oriente Médio.
                     Mas dada a lição de Aristóteles de que a virtude está no meio, talvez Barack Obama haja errado nos graus que atribuíu à diplomacia, acreditando, em certas situações, que ela pudesse dispensar o aporte das armas.
                     Não é evidente que o povo sírio já sofreu em demasia. Não se resolverá a questão dos refugiados na Europa - tão inserida no problema da guerra na Síria - se permitirmos que se instale em Damasco a versão segunda do Tirano Bashar.
                     Pena que como preceptor democrático falte muito aprendizado a gospodin Putin. Mas não será por insana política de terra arrasada e de perseguição dos vencidos que se construirá um futuro vivivel, com o retorno de muitos desses refugiados para a Síria.   


( Fontes: O Estado de S. Paulo, The New York Times )