terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

O Silêncio de Dilma e a Venezuela

                                 

          A repressão na Venezuela se torna cada vez mais truculenta. Na prisão do prefeito Antonio Ledezma, sem qualquer ordem judicial, por brutamontes armados até os dentes de um dito serviço bolivariano – o que não é novidade, porque quase tudo lá se carimba como bolivariano, o que dadas as características do regime, não parece ser epíteto que enalteça o Libertador da América hispânica – carregaram à força o ‘conspirador’, não sem antes aplicar-lhe socos e pontapés.

          Quase em seguida, Ledezma seria transportado para a prisão militar de Ramo Verde onde já se encontra Leopoldo López (aí trancafiado há um ano). Por sua vez, o tradicional partido Copei aderiu ao “Acordo para a Transição Democrática”, o que motivou a invasão de doze de seus escritórios...

           Além disso, o deputado Júlio Borges – acusado pelo chavismo de estar na mesma ‘conspiração’ que motivara a prisão ilegal de Ledezma e outros opositores – mereceu de seus ‘colegas’ do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) denúncia para a Procuradoria-Geral a fim de que se abra processo contra Borges como ‘conspirador’, o que deverá incluí-lo em breve nos mais de sessenta presos políticos.

           Nesse contexto tumultuado, Maduro procura superar a crise oriunda da própria inépcia administrativa assim como de sua incapacidade de reverter processos de longo termo, como o sucateamento da empresa estatal petrolífera da Venezuela, a par do agravamento da situação econômico-financeira pela vertiginosa queda na cotação internacional do barril de petróleo, a quase híperinflação e o generalizado desabastecimento.

            A resposta de Nicolás Maduro se cinge à responsabilização da oposição, assim como ao fabrico de ‘conspiratas’ que seriam urdidas pelos políticos, estudantes e ativistas democráticos.

            Dado o caráter boçal de Maduro e de grande parte do estamento que o apóia, não surpreende que a Venezuela se torne o revés de uma oficina de direitos humanos. Em um país no qual a justiça está a serviço do poder – não há sentenças da Corte Suprema contrárias ao Governo chavista – a falta de isenção judicial é arma de dois gumes. São fechadas as opções judiciais para povo, estudantes e partidos de oposição. Se o aparelhamento do Estado chega a tal ponto – em que a justiça jamais está cega e constitui um braço do poder e da repressão – de certo modo será questão de tempo para a queda das estruturas chavistas ora implantadas.

             A própria corajosa deputada Maria Corina Machado – que foi ‘cassada’ no grito por gerarca chavista, Diosdado Cabello – não hesita em afirmar que ‘o governo Maduro sabe que está em fase terminal’.

               Nicolás Maduro, o caminhonista indicado pelo moribundo Hugo Chávez Frías para sucedê-lo, é mais outra prova histórica da incapacidade dos sucessores dos ditadores para manter-se no mando. Na Inglaterra, o herdeiro  do Lord Protetor Oliver Cromwell (1599-1658), seu filho Richard logrou manter-se no poder por menos de cinco meses (renunciou em 25 de maio de 1659).

                Ficou em breve muito claro que Maduro não tem condições intelectuais e administrativas de presidir a um governo com a complexidade da situação na Venezuela. A sua incapacidade em lidar com os problemas da sociedade venezuelana o levaram a acentuar a confrontação, em uma espécie de fuga para  frente diante de situações que só tenderam a agravar-se pela sua falta de condições de lidar com elas de forma construtiva.

                Em declarações ao jornal Estado de S. Paulo, a deputada Maria Corina asseverou: “A crise não é de alimentação. O que o mundo vê são os venezuelanos fazendo fila por horas para conseguir leite, remédio e farinha.  Mas a situação é muito pior.  Há o risco de crise humanitária na saúde e da imobilização do aparelho produtivo do país. Há uma falta de governabilidade cada vez maior. (...) Denúncias contra funcionários de alto escalão do governo que estariam  ligados à máfia internacional e ao crime organizado. Tudo isso leva a Venezuela a situação altamente instável e o regime sabe que perdeu o respaldo popular.”

                 Sobre o Brasil e Dilma Rousseff.  “Vocês brasileiros viveram uma ditadura. Vocês sabem o que significa  quando o mundo e os irmãos latino-americanos dão as costas.  A Venezuela sempre foi solidária com o povo sul-americano  que era alvo de ditaduras.  Hoje, pedimos ao povo brasileiro que saia em defesa dos direitos humanos e da democracia em nosso país. Neste momento, mostrem a seu governo que é urgente a convocação de uma reunião de emergência dos chanceleres da OEA para avaliar a situação na Venezuela.”

                  Perguntada sobre o silêncio do governo brasileiro acerca dos acontecimentos na Venezuela, Maria Corina Machado disse: “Entendo que nos últimos anos os governantes tiveram razões  de ordem ideológica, geopolítica e econômica.  Isso poderia inibir em alguns casos e acabar em uma posição de cruel indiferença. O silêncio do Brasil é um silêncio cúmplice. Maduro cruzou a linha vermelha e diante disso, toda a indiferença é cumplicidade. Neste momento, nós venezuelanos acreditamos no diálogo e transição para a democracia incluindo toda a sociedade.  Mas como requisito indispensável é preciso haver a libertação dos presos políticos. Não vamos permitir a estabilização da ditadura.”

                   No passado, por causa  de sua posição de neutralidade diante das questões internas de países latino-americanos em crise política, a diplomacia do Brasil adquiria condições de diálogo com os principais setores da sociedade. Quando do desfecho das crises, como não havíamos apoiado a repressão, a nossa posição se firmava no respeito colhido pela atitude aberta e democrática.

                    Na torpe diplomacia de partido de Dilma Rousseff isso não lhes parece possível. Os nossos representantes perdem credibilidade para o diálogo com as sociedades respectivas. Não é afirmando que as tropelias do regime de Maduro, com as suas prisões e violências, “são uma questão interna da Venezuela”, que a posição diplomática do Brasil se reforça e merecerá respeito no futuro.

                     Ao contrário de Lula, a diplomacia da Presidenta é um desastre para o Brasil. O último exemplo está no tratamento lamentável dado ao embaixador da Indonésia, Toto Riyanto, que foi tirado da fila à ultimíssima hora por  ato impensado e grosseiro de Dilma. Essa nota zero em diplomacia agrava a crise com a Indonésia, eis que o Vice-Presidente Jusef Kalla declarou que Jacarta pode reconsiderar a aquisição de 16 aviões de combate Super-tucano, assim como lança-mísseis de fabricação brasileira (Embraer).

            É de esperar-se que se possa contornar a questão, porque um tal tropeço prejudicaria a nossa empresa de construção aeronáutica de forma cruel e despropositada. A Embraer não tem vida fácil no meio aeronáutico e a sua progressão e vendas são resultado de trabalho constante, em mercado que se assinala por grande concorrência. Perder operação dessa amplitude não seria justo, porque penalizaria quem nada tem a ver com os despautérios e maus humores tão pouco diplomáticos da Presidente Dilma Rousseff.

 

( Fontes:  O Estado de S. Paulo, O  Globo, Folha de S. Paulo (site)).

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