quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Dilma, Lula e a turma do Monturo

                              
               Um governo ruim não costuma ser reeleito. Este, por uma série de circunstâncias, foi. Coisas da democracia. Também há o aparelhamento do Estado pelo Partido dos Trabalhadores. Doze anos é muito tempo e um país submetido, entre outras coisas, à inchação dos gastos correntes, não faz essa caminhada impunemente.

               Depois de quatro anos desastrosos, com gastação adoidada, entramos no dílmico inferno astral. Assustada, a Presidenta chamou Joaquim Levy e Nelson Barbosa, uma dupla que se coadunaria mais com Aécio, mas este, apesar de ganhar em quase toda Pindorama, perdeu no Nordeste, no Norte e- amarga pílula- em Minas Gerais, logo ele que se despedira de oito anos de governança estadual com 92% de aceitação... 

              Mas mesmo assim bastou para os três por cento de diferença pela ilusão do Povão que pensa ser a bolsa família presente do PT, quando o é do Estado, e do bolso de todos nós.

               Para quem desbaratou as finanças, trouxe de volta a inflação e com Guido Mantega, na Fazenda, e Arno Augustin, na Secretaria do Tesouro, embrenhou-se na farra fiscal que provocou  não só a carestia, mas  a queda no PIB, o aumento da dívida bruta, e a sucessão de dados negativos, déficit tanto no balanço de contas correntes, quanto no comercial. Assim, ao invés do superávit fiscal (que permitia descontar uma parte da dívida fiscal), caímos no déficit fiscal, e como sói acontecer nesses casos, ele não foi só da União, mas também dos Estados e Municípios.

               Tudo isso vai roendo o nosso saldo de divisas, e se se continuar nessa linha, Lula não mais poderá arrotar que somos país credor, com voz forte no FMI e alhures...

                A Lei da Responsabilidade Fiscal,  chave da abóbada do balanço estatal a que, em seu tempo, o PT se opusera com todas as suas  forças, chegando a questioná-la no STF , deixou também de ser respeitada, não só na letra, mas também no espírito, com as consequências que tampouco ignoramos.

                 Decerto o leitor sente que falta alguma coisa nesse tétrico rol de primeiro mandato malogrado, e, não obstante, a responsável foi salva do incêndio e, ainda por cima, com 3% de diferença a seu favor no segundo turno. A coisa até que andou preta para o lado deles, tanto que o TSE pôs o lenço no nariz e só soltou o andamento da votação para nós, que afinal somos o Povo Soberano, quando, já perto do photochart,  D. Dilma lograra afinal superar no computador maravilha o adversário Aécio...    

                 Mas a história não termina aí... Além das promessas enganosas, que não cumpriria , havia muito mais bruxas no saco da candidata à reeleição. O escândalo da Petrobrás – o famigerado Petrolão – só estouraria mais tarde. Mais uma vez a operação Lava-Jato da Polícia Federal e um juiz de têmpera, Sérgio Moro, mostrariam a roubalheira  na Petróleo Brasileiro S.A., com os milhões de dólares em propinas, e a sua alegada tomada pelo PT e os chamados partidos da base aliada.

                  Lula e Dilma declaram nada saber sobre o escândalo da Petrobrás. Ela foi por dez anos presidente do Conselho de Administração da Petróleo Brasileiro S.A. É realmente estranho que nada haja filtrado durante todos esses anos...  Será que o enxame das empreiteiras, os agentes de partidos, a atuação do tesoureiro João Vaccari Neto, a refinaria Abreu Lima e seu saco sem fundo, Pasadena e a acintosa disparidade entre o valor inicial e o final, as sinalizações de Venina da Fonseca, solitária funcionária do quadro a quem Graça Foster mandou para Cingapura, a desenvolta ação de ‘Paulinho’ e as reuniões com Lula, e também Nestor Cerveró... O único diretor da Petrobrás que logrou desvencilhar-se da prisão do Juiz Moro foi Renato Duque, graças à providencial liminar do Ministro Teori Zavascki.

               O Ministro da Justiça José Eduardo Cardoso andou tendo problemas com a agenda. Recebeu em seu gabinete advogados de empreiteiros presos por ordem do Juiz Moro. Apesar das explicações ministeriais, calou mal a tentativa de politicamente interferir em questão que é da alçada jurídica do juiz responsável, no caso Sérgio Moro.

               E agora a maior empresa brasileira, e vítima inocente de quem depois do Mensalão pensara em servir-se da Petrobrás no chamado Petrolão, que é a exploração de um bem público para fins inconfessáveis de partido, é agora presa de Wall Street, com a Agência Moody’s de avaliação de risco que rebaixou a sua nota de crédito corporativo para o grau especulativo.

               A Petrobrás continua uma grande empresa, mas é apresentada como firma que não merece confiança. Além de afugentar eventuais compradores das próprias ações, torna as suas operações em busca de crédito mais onerosas.

                Mas D. Dilma está tranquila.  Ela atribui à “falta de conhecimento” de parte da Moody’s o rebaixamento, e por isso continua otimista. Acredita até na possibilidade de que, informada por alguém do governo, a Moody’s mude de idéia.  Lembram-se acaso da viagem de Guido Mantega a New York para explicar a Standard & Poor’s a real situação do Brasil, e assim evitar o nosso rebaixamento?  Malgrado o otimismo oficial, tudo continuou como dantes... e o Brasil foi rebaixado.  O mesmo decerto acontecerá com a anunciada tentativa de persuadir a Moody’s...     

                 O que nos pesa é que a Petrobrás, a nossa maior empresa, não merecia ser tratada dessa forma pelo governo do PT. E como tudo nesse ciclo, Dilma, no retrato, é apenas a continuadora de situação que já existia sob o grande estadista Lula da Silva. 

                 E por mais que Lula se movimente, faça saber de suas intenções de candidatar-se em 2018, como o futuro a Deus pertence, muita água há de passar pelo moinho do Planalto. Há perguntas que virão bater à porta de Dilma Rousseff. Hão de rolar coisas de todo gênero, entre o céu de brigadeiro e, quem sabe, temidas instabilidades. Como as nuvens, na conhecida imagem da política de Magalhães Pinto[1], que podem mudar e ficar entre o céu azul do nada a declarar ou o da tormenta do impeachment...

 

( Fontes: Pedro Almodovar, O  Globo, Folha de S. Paulo)                                     



[1] José de Magalhães Pinto (1908-1996), político mineiro da antiga UDN, foi governador de Minas Gerais e Ministro das Relações Exteriores.

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