Para quem tem alguma experiência de política,
tanto da grande quanto da pequena – que na verdade se dão as mãos na ciranda do
governo – o desfecho desse primeiro e determinante embate se desenhava claro no
horizonte do planalto.
A política
deve ser a arte do entendimento e da composição. Se se cria ambiente de
confrontação e antagonismo extremo, toma cuidado porque o futuro pode sair com
as características que lhe estás dando.
Não é que
Dilma Rousseff seja uma novata na política. Já no seu segundo mandato
presidencial, ela há de conhecer muito mais das sendas da arte de governar do
que a então moça de algibeira do líder máximo, Lula da Silva, adrede escolhida
em projeto de prolongamento de poder.
O problema
está mais na pessoa. O seu aprendizado, por desgraça verticalista, no engenho
da política sofre de grande deformação.
Autoritária, arrogante, ela desconhece a arte de cativar os adversários e
eventuais opositores. As pessoas devem ser tratadas não apenas pelo que são em
momento determinado, mas também pela sua qualidade intrínseca, que tende a
variar com as sazões.
Na floresta,
em torno das grandes árvores cresce um capim miúdo e ralo. Na arte de governar,
o futuro deve estar sempre presente para o líder, eis que o amanhã é uma
incógnita, por mais que dele cuidemos.
Dessarte,
política e guerra não se confundem, embora compartilhem de escopo comum, que é
o prevalecer. Atuar no presente, sem esquecer as insídias do futuro. Marcar
posição, sim, mas não valer-se da paz para desfazer-se de seus opositores como
se inimigos foram.
Assim, a
sutileza é o forte da política. O bom político não perde jamais de vista o
próprio escopo, mas também, na sua progressão, pensa no futuro de seu entorno e
do campo contrário. Agirá então com sutileza e habilidade, perseguindo os
respectivos fins, mas tendo presente o campo da manobra, buscando sempre envolver. Se possível, conter quando
as circunstâncias o exigirem, mas jamais se empenhando numa perversa criação de
adversários, e o que é ainda pior, tendo os olhos bem abertos para o presente,
e cerrados para o futuro.
O estudo da
política brasileira mostraria que os grandes presidentes podiam ter
adversários, mas não inimigos permanentes. A biografia dos nossos grandes
homens mostra que eles sabiam da arte de superar o ressentimento, por mais que
difícil fosse. O mau humor e o autoritarismo tornam fofa a terra em que a
personalidade praticante neles recai. São tantos os túneis aí traçados que
aumenta geometricamente a possibilidade dos tropeços e até mesmo dos tombos.
Depois de
tanto esforçar-se em destruir quem acreditava fosse teu adversário, eis que –
em má hora – o transforma em algoz potencial.
Belo trabalho, Dilma Rousseff! Agora
tens mais um inimigo a espreitar-te, e não está encastelado em algum posto
afastado, mas sim a atravessar o teu caminho! E enquanto a composição e o
discernimento te aconselhavam a proceder
de modo diverso, resolveste reforçar o esquadrão adversário.
Não seria
isto que te aconselharia o velho capitão. Mas agora, para espanto de muitos,
quando a procela se aproxima, resolveste dispensar-lhe os serviços!
( Fontes: O
Globo; Folha de S. Paulo; e Gabriel Garcia Márquez )
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