domingo, 22 de fevereiro de 2015

Colcha de Retalhos C 7

                                     
Crise afasta Dilma de Temer?

 
        Estariam estremecidas as relações políticas entre Dilma Rousseff e Michel Temer. Na aparência, sim, eis que a Presidente não recebe o Vice, desde que esse apoiu  Eduardo Cunha na disputa pela Câmara.

        É difícil ter relações próximas com a Presidente, e tal característica se tem reforçado com o tempo, embora a experiência política adquirida devesse trabalhar no sentido favorável e não no contrário.  Além do seu trato difícil com os subordinados – em que até ministros se incluem – essa postura não se coaduna muita vez com o próprio interesse da Presidenta, eis que o Vice, pela sua relevância no PMDB, não pode ser assemelhado ao escasso peso político que assinala  tantos vice-presidentes.

        O México, como se sabe, terá resolvido o problema. Com a torva traição do vice-presidente Victoriano Huerta ao Presidente Francisco I. Madero, a  questão dos vices naquele país foi dirimida pela abolição do cargo.

        O meu palpite é que o afastamento de Temer será vencido pela necessidade, eis que Dilma precisa mais do PMDB (e por conseguinte do Vice), do que o inverso. 

        Por outro lado – com o fantasma do impeachment à parte, quando  um valor mais alto se alevantaria – Michel Temer continuará disponível para a mal-humorada  chefe, com comovente lealdade, se e até os cruéis atalhos da política porventura  os separem.

 
A PEC  da  Bengala

 

          Faz tempo que se fala da extensão da idade limite para os tribunais, e notadamente o Supremo. Se tivesse sido aprovada no Dilma I, a Ação Penal 470 não teria sofrido as emendas que aguaram algumas das disposições mais severas contra alguns implicados no processo do Mensalão. Cezar Peluso e Ayres Britto são exemplos de um Supremo mais alinhado com o Relator do Mensalão, o Ministro Joaquim Barbosa, e uma aplicação mais estrita da lei no que tange aos réus desse célebre processo. Ao serem aposentados, deram ensejo a que o Poder Executivo procurasse enfraquecer o approach da Corte, no que toca a tal julgamento.

           Agora o novel presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) pode colocar em votação a referida emenda constitucional, que tiraria de Dilma o ensejo de indicar cinco novos ministros até o final de seu mandato. A relevância da manutenção da atual Corte não pode ser subestimada, pois há pela frente o término do processo do Mensalão e quem sabe? o início daquele do Petrolão.  Dessarte, elevar de setenta para setenta e cinco a idade mandatória para a aposentadoria no Supremo não seria uma questão de lana caprina, e corresponderia decerto às novas realidades etárias.  

 
Maduro diz ter provas

 

       O dito evangélico – dize-me com quem andas, e eu te direi quem és – semelha tristemente apropriado à estreita relações do dílmico Planalto com o governo venezuelano de Nicolás Maduro.

       Vê-lo como se apresenta na televisão, fantasiado de bandeira venezuelana, além de macaquear as posturas do caudillo Hugo Chávez, transmite de pronto o nível intelectual do personagem, que o seu eventual discurso não desmentirá.

        Lobriga fantasmas por toda parte, e  sua solução para a crise em que afundou a pobre Venezuela – decorrência da incapacidade de lidar com a queda na cotação de seu monoproduto de exportação, o petróleo, assim como em sólida e notória incompetência na administração pública – será a de invectivar e o que é pior, prender arbitrariamente os líderes da oposição, em especial aqueles que comandam maior respeito.

       A ‘detenção’ do prefeito Antonio Ledezma, homem público sobre quem pesam graves defeitos (para Maduro), a saber é popular e respeitado, mostrou que o herdeiro do Coronel Chávez  está na melhor tradição dos ditadores venezuelanos. Ledezma foi preso sem mandato judicial, por um serviço bolivariano que se caracterizou pela truculência.

       O caminhoneiro Maduro promete, para breve, provas “contundentes” da alegada conspiração do respeitado Prefeito de Caracas, assim como evidências de apoio externo aos planos golpistas.

       Está preso há um ano o líder oposicionista Leopoldo López.  Por sua vez, a deputada Maria Corina Machado foi supostamente cassada no grito pelo presidente da assembleia Diosdado Cabello. 

       Até agora, a chamada ala moderada da oposição, encabeçada por Enrique Capriles, governador do estado de Miranda, e por duas vezes candidato à presidência da república, não tem sido molestada pelos brucutus do regime.

        O que parece incomodar Nicolás Maduro é o grito e o protesto nas ruas. As passeatas serão em geral dissolvidas com violência, embora o recurso aos meios letais venha em geral das tropas auxiliares chavistas.  

 
Repúdio em Moscou ao ‘golpe’ em Kiev

          

           Realizou-se neste sábado, 21 de fevereiro, manifestação em Moscou de repúdio ao que consideram o ‘golpe’ que derrubou o então presidente Viktor Yanukovich. O comício foi na Praça Vermelha, e teria congregado cerca de 35 mil pessoas (a contagem é da polícia de Putin).

          Desconhecendo a realidade do front nacional que enxotara o desmoralizado presidente Yanukovich de seu palácio, encetando a fuga que o levaria para a Rússia, a manifestação – em que predominaram as bandeiras russas – pretenderia alegadamente fortalecer o ex-presidente. Este último declarou querer voltar para seu país “para primeiro liderar um movimento de protestos e depois participar da defesa da população.” E assim completou, no Canal Um da Tevê russa: “Assim que puder voltarei e farei tudo o que estiver em minhas mãos para aliviar a situação na Ucrânia.”

 

Acordo in extremis União Europeia – Grécia.

 

            A dificuldade em conseguir acordo com o novo gabinete grego, encabeçado por Alexis Tsipras, ensejou a atmosfera das negociações realizadas pela troika (União Européia, Banco Central Europeu e FMI) com a representação da República Helênica. Após várias semanas de tensas negociações, a troika aceitou a proposta grega de extensão do socorro a Atenas por mais quatro meses.

            Dessarte, os gregos terão acesso a mais uma parte dos Euros  240 bilhões colocados à disposição de Atenas por seus credores europeus. Em contrapartida, todavia, o governo helênico  se comprometeu a apresentar até a próxima segunda-feira, dia 23 de fevereiro, uma lista de reformas para que os termos do auxílio  sejam revistos no fim do prazo, em julho p.f.

            Segundo Paulo Nogueira Batista Jr., diretorexecutivo pelo Brasil e outros dez países no FMI, o acordo foi positivo devido à crise aguda, eis que o resgate atual expiraria a 28 do corrente.  Não se trataria, por conseguinte, de uma solução.

            As palavras finais de Nogueira Batista mostram qual é a carta mais forte do atual gabinete helênico: “O que aconteceu hoje mostra que, no frigir dos ovos, todos se preocupam em manter a zona do Euro. Todos perceberam que a saída da Grécia quebraria um tabu de que a União monetária não poderia ser desfeita.”

            Sem embargo, levantar esse fantasma da manutenção da Zona do Euro, pode ajudar à Grécia se utilizado com discrição. Atenas tem todo o interesse em manter-se na área do Euro, porquer dele afastar-se e reinstituir o dracma poderia trazer males maiores, como a inflação.  

 

 

 

( Fontes: Folha de S. Paulo,  O  Globo )

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