Essa expressão é usada em
psicanálise, e se reporta a situações desfavoráveis vivenciadas por um paciente
que, no entanto, são por ele aceitas, por lhe trazerem vantagens, as quais
apesar de menores, fornecem certa compensação ao paciente. Nesses termos,
embora a 'solução' não seja a melhor, ela se apresenta para o paciente como
algo que lhe dê menos insatisfação. É o chamado ‘mal menor’.
Embora haja
diferenças, há certa similitude entre a atual atitude da mídia no que tange à sua postura crítica anterior quanto ao
comportamento do Dilma I, em termos econômicos e financeiros, se lhe aplicarmos
o conceito acima enunciado, em uma eventual adaptação à macro-economia.
Assim, as
medidas tomadas pelo Ministro Joaquim Levy, da Fazenda,
procuram enxugar a economia, combater a inflação, o excesso de gastos da
administração, buscando evitar os déficits, com vistas a obter saldos e o
consequente superávit no orçamento público. Um campo – que é muito suscetível
às apresentações demagógicas – está no desperdício das pensões. A excessiva
liberalidade do Brasil na concessão de pensões vitalícias a beneficiários
jovens é um contrassenso, porque induz a maior peso para a previdência, e a
criação de déficits nessa área.
Desta forma,
apresentada de maneira despojada, a política sugerida de maior atenção no campo
das pensões – sobretudo para beneficiários jovens, que podem perfeitamente
cuidar do próprio sustento através do trabalho – os cortes nas pensões não são
política cruel, mas sim aquela adequada para uma faixa etária que pode entrar no mercado de trabalho.
Nessas
condições, o Dilma I criou uma situação insustentável na economia. Uma política
macro-econômica não pode ser de ‘bondades’
que impliquem em orçamentos deficitários, em contas que não fecham. É notório
que uma política de déficits cria uma situação inflacionária. Dilma I além de
seguir uma linha de incentivo ao consumo, a implementou com cortes nos impostos
para incentivar a produção e venda de automóveis de passeio para as classes C e
D. Esses créditos tributários implicavam
em menor renda agregada do Estado, e contribuíam por conseguinte para que o
Erário caísse no vermelho.
Essa política
de incentivo ao consumo também foi aplicada para as beneficiárias do Minha
Casa, Minha Vida (em geral, pela sua posição familiar, se tem mais confiança na
mulher como garante das aquisições em bens duráveis). A grande despesa do programa foi aumentada
com créditos para a aquisição de eletrodomésticos. Tudo isso tem sido agora
cortado pela tesoura da Fazenda, que busca equilibrar os gastos fiscais com a
realidade orçamentária.
Outra visita
inevitável são as chamadas cobranças administradas. Os preços consequentes não
são reais, na medida em que implicam em despesas do Erário com o objetivo de
criar um reino de fantasia, i.e., as tarifas dos principais serviços públicos
muita vez artificialmente contidas pelos subsídios oficiais. Ora, se se quer controlar a inflação – e não
montar reinos do faz-de-conta – os índices de preços devem corresponder à
realidade, pois o subsídio apenas mascara a inflação e põe um relógio a
funcionar para o inexorável estouro dos chamados ‘preços administrados’, que
são uma espécie de Vila Potiemkin (como as encenadas pelo personagem para a
Tzarina Catarina dita a Grande, em sua viagem através da campanha russa).
O Dilma I criou
as condições que aí estão para o acréscimo dos preços inflacionárias e para os
déficits nas contas governamentais, com repercussões graves na economia. O
Plano Real foi para o brejo das almas por especial cortesia de Dilma Rousseff,
e agora o Ministro Levy cuida de preparar um Ajuste Fiscal para recolocar a
economia nos trilhos.
Ora, como não
há almoço grátis, todas essas medidas afetam interesses da população. Há
setores da atividade produtiva, que esqueceram há muito de que o ‘produtivo’ na
sua atuação implica em gestão responsável de recursos, e não na política de
Gerson, que quer levar vantagem em tudo...
A sociedade
brasileira enfrenta uma crise nesse aspecto. Há segmentos, como por exemplo, o
Congresso que parece seguir uma linha que o distancia da sociedade de gente
séria e trabalhadora. A coleção de ‘bondades’ do Presidente da Câmara, Eduardo
Cunha (PMDB/RJ) repisa os piores excessos de parlamentos corruptos, como v.g. o
italiano. Cunha reintroduziu a passagem
aérea para os cônjuges de deputados, o que tenha sido suprimido em função do
escândalo das passagens em outra legislatura, em que o próprio Gabeira se
penitenciou de passagens dadas às filhas em viagens para o Havaí... O sistema
de trabalho do Congresso brasileiro, com atividade integral nas 4ªs feiras, e rápida
presença nas 3ªs e 5ªs configura situações – que abarcam os serviços
complementares – nada têm a ver com o esquema de trabalho do Povo soberano. Não
é de estranhar, portanto, que para o cidadão, Reguffe seja uma exceção (este
representante de Brasília tem horário corrido, renunciou a boa parte da chamada
verba de gabinete, e trabalha em tempo integral no Congresso) e os demais
deputados e senadores a regra, o que explica o baixo conceito de nossos
parlamentares perante o Povão, que não se sente por eles representado.
Assim, o
esforço de Joaquim Levy em fazer que o Dilma II seja o regresso a uma situação
normal na economia, com a volta aos índices anteriores, não deveria ser tratado
pela mídia sob uma luz negativa. Depois de apresentar o descalabro anterior
também negativamente, a mídia não deve encarar as medidas corretivas do
Ministro da Fazenda como uma espécie de ganho
secundário . Na verdade, a política
fiscal atual visa a criar a passagem para um Brasil que por enquanto não
existe, a saber: sem inflação, com contas públicas transparentes, sem as
chamadas capitalizações (amadas por Lula, que as via como criação mágica de
recursos fiscais, o que decerto não corresponde à realidade) e boa situação
fiscal. É o próprio ambiente ideal para o retorno à realidade de uma Petrobrás
recuperada, sem propinas e sem aparelhamento partidário. Será pedir muito ?
( Fontes
subsidiárias: O Globo, Folha de S. Paulo
)
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