Intervenção russa na Ucrânia
Um acordo fraco,
como o de Minsk 2, é a consequência de concessões inadmissíveis. Segundo foi explicitado pelo lado ocidental,
decorreu de exigência russa que o cessar-fogo não fosse imediato. Terá sido
para garantir este ponto fundamental que Putin afirmou que a noite exigida
pelas discussões do acordo não foi decerto a
melhor de sua vida...
Talvez seja
modéstia do senhor do Kremlin, pois
no fim de contas conseguiu o que queria, uma extensão de setenta horas para a
entrada em vigor do cessar-fogo (que o Ocidente desejara fosse imediato).
Gospodin Vladimir Putin empurrou para
Kiev a responsabilidade do atraso, que se deveria à sua negativa de tratar com
as ‘repúblicas’ de Donetsk e Luhansk. É realmente comovente o cinismo de Putin,
ao por as suas criaturas rebeldes no mesmo nível de estados membros das Nações
Unidas, como é o caso da Ucrânia.
Por outro lado,
soam como maviosos acordes para os ouvidos do Presidente russo a negativa da Merkel (e também de seu acompanhante François Hollande) seja de dar armas
para Kiev defender-se, seja sobretudo de acolher Kiev na OTAN.
Como Washington
demonstra, houve concentração de armas pesadas russas, sobretudo no entorno da
cidade de Debaltseve – que é contestado centro no entroncamento ferroviário da
área oriental da Ucrânia. Além disso, a via de acesso a Debaltseve, com fracas
e expostas defesas, acha-se agora ainda mais comprometida pelas minas que aí
foram colocadas por forças rebeldes e russas.
É por isso que Putin fincara pé em que o cessar-fogo não fosse imediato.
O seu pessoal precisava de tempo para inviabilizar qualquer entendimento que
favorecesse Kiev...
Se se contempla
o mapa, verifica-se que a maior parte do território ucraniano a oriente se acha
sob domínio ‘rebelde’, isto é das chamadas “repúblicas de Luhansk e Donetsk”, o
que já as conforma dentro do figurino da Geórgia, vale dizer com a Abkazia do
Sul e a Ossetia do Sul, que são enclaves
russos na Geórgia, assim como a Transnistria, que é estado-dependente da Rússia
na Moldova...
Com a fraqueza da
Ucrânia em armamentos e a consequente
porosidade de suas fronteiras, não será surpreendente que Moscou logre
estabelecer como posições ‘temporárias’, mas na verdade permanentes esses enclaves em países que ousaram contrariá-la.
Dados os
antecedentes do imperialismo russo, não será mensagem animadora para o Ocidente e para os
países da região que nele confiam.
As verdades populares no Carnaval
O povão não é
nem nunca foi bobo. Por isso, as posturas de Lula da Silva, como se fora a
parte ofendida, assim como de Dilma – que tampouco nada vê a depor contra o
Partido dos Trabalhadores - o que
intentou demonstrar o recente teatro de reuniões a portas fechadas do PT, como
se fora a vítima inocente de campanha difamatória, a paródia carnavalesca de
tais práticas equivale a sátira veraz e
bem-humorada do descarado aparelhamento petista do Estado, com os fenômenos do mensalão e agora do petrolão.
Assim, a foto
dos personagens carnavalescos de Lula e da Presidenta[1],
com faixa presidencial e tudo, enquanto cartazes proclamam que o petróleo é nosso, mas a propina
é
deles, é uma oportuna
ressurreição da função crítica do Carnaval, vale dizer a demonstração de que o
Povo não é, nem nunca foi bobo.
Sucessor de Hugo
Chávez, Nicolás Maduro é um personagem decerto caricato. Lembram-se de Lord
Altricham? Nos primeiros anos do reinado de Elizabeth II, esse senhor dizia
sentir dor no pescoço quando ouvia a então voz esganiçada da jovem Rainha nas
suas mensagens pelo rádio.
Imagino o que
sentiria hoje se visse na tevê o estranho personagem presidencial, que aí
aparece em seus pronunciamentos fantasiado de bandeira venezuelana.
Dada a situação
calamitosa da economia da Venezuela, com a incompetência traduzida em garrafal
ineficiência com falta geral de artigos de primeira necessidade – por causa da
hiperinflação, da imensa corrupção e de estulta política cambial – a maneira de
lidar com o problema encontrada pelo ex-caminhoneiro Maduro foi a de denunciar suposta
tentativa de golpe militar, o que é – ou aparenta ser – manobra canhestra em buscar desviar as atenções da população
da crise de governança na Venezuela.
Com o lulismo e
depois o dilmismo (que é versão piorada do primeiro), as relações diplomáticas e políticas com os governos do chavismo (e outros ismos na América do Sul
) ficaram por conta não mais do Itamaraty, mas do senhor Marco Aurélio Garcia. Com a substituição da tradicional Política de
Estado do Brasil, a diplomacia brasileira atravessa crise que esperamos não
seja terminal, mas que tem dado os resultados esperados da orientação que
abandonou a política de Estado, por uma de partido. Os resultados de tal
(des)orientação estão aí, com reflexos sobre a diplomacia em geral, com o
irresponsável corte de verbas e dotações de política exterior, tornando os
nossos diplomatas reféns em certas situações, enquanto os expõem, por falta de
meios adequados, a contágio não só de endemias rurais, mas de outras
enfermidades de maior gravidade. Dado o caráter desastroso para a nossa
economia em geral do Dilma 1 – não obstante premiado por quase todo o Nordeste
e Minas Gerais com a reeleição – de certa forma a nossa política externa está sofrendo
as consequências do desgoverno que Lula da Silva nos impingiu, fundado no
fenômeno ‘mulher do lula’, em que
alguém despreparado (mas indicado pelo grande guia) vence facilmente um
adversário com muito maior experiência política e administrativa. Esse
resultado político reflete outra realidade política, vale dizer, o despreparo
da maioria de nosso corpo eleitoral para escolher o melhor candidato.
A voz do povo
argentino já a condenou como responsável pelo assassínio do promotor Alberto
Nisman. A pífia proteção que foi dada ao intemerato servidor da Justiça
pelos serviços estatais– seriamente empenhado em revelar responsabilidades do
governo peronista no brutal, criminoso atentado à Associação Mutual
Argentino-Israelita (AMIA), que deixara 85 mortos em 1994, e cuja autoria
envolve fundadas suspeitas sobre o Hezbollah e o Irã dos Ayatollahs – já constitui
motivo suficiente para indiciar o governo de Cristina Kirchner.
Sucessor de
Nisman, Gerardo Pollicita referendou os
argumentos do promotor morto em serviço, e decidiu solicitar várias medidas
para que se investiguem as acusações contra a Presidente, além de outros
aliados do governo, como o ministro do exterior, Héctor Timerman, o líder
sindical Luis D’Elia e o deputado Andrés Larroque.
Por enquanto, o
novo Promotor não pediu que Cristina seja ouvida – como era intenção de Nisman,
que se ocupava do caso desde 2004 – mas não está descartada a hipótese de que a
presidente venha a ser intimada a prestar declarações, por escrito ou
pessoalmente, caso a iniciativa seja referendada pelo juiz encarregado da
questão, Daniel Rafecas.
Como seria de
esperar, o propósito do Promotor é apresentado por próximos de Cristina viúva
de Kirchner como ‘golpismo judicial ativo’, na palavra do Chefe de Gabinete,
Jorge Capitanich. Este senhor, da ‘entourage’
da Kirchner, acusou ainda o promotor de tentar provocar ‘impacto político’ e ‘estrépito
social’.
Bobagens à
parte, o estamento peronista demonstrou falta de qualquer princípio de ética ao
aparentemente mercadejar o escambo comercial com a não-punição dos responsáveis
pela hecatombe da Amia.
(Fontes: Folha de S. Paulo, O Globo, The New York
Times)
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