sábado, 21 de fevereiro de 2015

Dilma, zero em diplomacia

                                     

        Nem no tempo da ‘Gloriosa’, nos anos do Regime militar, recebeu o Itamaraty um tratamento tão chulo, tão eivado de militante menosprezo dos direitos internacional e diplomático, quanto agora.

        Os militares, como carreira de estado, tiveram a inteligência de não intervir diretamente no Ministério das Relações Exteriores. O amador não pode prescindir do profissional. Deram assim a diplomatas como Azeredo da Silveira e Ramiro Guerreiro a necessária autonomia de ação. Compreenderam que a boa diplomacia não só promove a nação, mas também através de maior presença internacional se favorece o país, a sua ação e eventual liderança no campo das relações internacionais.

        Em respeitando o velho Itamaraty, os generais mostraram bom senso, porque não lhes aproveitava destruir o corpo diplomático brasileiro, ou desvirtuá-lo. Respeitando a tradição e a experiência do Ministério das Relações Exteriores, não cometeram a estultícia de enfraquecer um serviço de escol. Sabíam que o prestígio do Itamaraty era trabalho de muitas gerações, eis que, o nosso Patrono,  o Barão do Rio Branco, não venceria tantas contestações de limites, sem o aporte dos diplomatas do Império, como Duarte da Ponte Ribeiro, e por que não dizer, do próprio grande Precursor, Alexandre de Guzmão, moço de escrivaninha de el Rei D. João V, que nos deu o Tratado de Madri (e a conformação de nossas fronteiras a oeste).

        Não há milagres em diplomacia. Existe o trabalho de Chancelaria, o estudo e a análise dos maços – que consignam as gestões feitas e as sucessivas avaliações – e as questões de Estado, que lhe dão o norte. Ao contrário de nossos vizinhos, o Império e depois a República teve sempre presente na sua atuação as questões de Estado, pois era a ele, e não à política de partido, que representava.

       Daí, o êxito do Itamaraty, que ao invés de seus interlocutores sul-americanos, não representava partidos, mas sim  o interesse nacional.

       Se com Lula da Silva, o interesse do Brasil começou a sofrer os primeiros desvios no Tratado de Itaipu – para favorecer um então aliado paraguaio, o bispo Fernando Lugo, que ambicionava promover a revisão desse tratado -, a situação diplomática piorou bastante com a militante ignorância de Dilma e as consequências de seu pouco apreço às relações internacionais.

       O menosprezo da Presidenta pelo Itamaraty é público e notório. Infelizmente, essa ‘avaliação’ não se cinge a opiniões valorativas, mas se reflete na redução de suas dotações, com toda espécie de consequência negativa (até o contágio de nossos diplomatas por doenças infecciosas – na busca do santo graal de membro permanente do Conselho de Segurança o Brasil está representado em todos os países do planeta).

       Outra consequência dessa ‘antidiplomacia’ está na dualidade no poder diplomático. Além do Ministro das Relações Exteriores, Lula e sobretudo Dilma tem o assessor diplomático  Marco Aurélio Garcia. Este senhor cuida sobretudo das relações com a América Latina, e é por isso que Dilma classifica como ‘questão interna’ da Venezuela a truculência do ditador Nicolás Maduro, que multiplica prisões da oposição na insana tentativa de camuflar a própria abissal incapacidade política.

         A última de Dilma Rousseff foi a estulta descortesia com o novo embaixador da Indonésia.  Convidado a participar da última cerimônia omnibus de apresentação de credenciais, a Presidenta, em gesto de grosseiro desprezo da cortesia diplomática, mandou que saísse da fila o embaixador da Indonésia, Toto Riyanto, ainda sob o pretexto do fuzilamento do brasileiro Marco Archer.

         Mais uma vez ela age na contramão da diplomacia. Qual o sentido de humilhar um representante diplomático dessa forma? Acaso os funcionários diplomáticos responsáveis não o convocaram para a cerimônia?  Para que tal afronta ao representante indonésio? Essa maneira acintosa de desrespeitar alguém que vem com credenciais buscar melhorar as relações não serve a propósito algum.

         Não teria sido preferível não incluir o referido senhor, dada a atitude da Senhora Presidenta?

          Assim como não é diplomacia declarar que o Brasil não tem posição na questão da Ucrânia,  tampouco o será esse gratuito achincalhe às tradições da diplomacia brasileira.

           Não é à toa que os embaixadores que lograram apresentar credenciais estão ladeados seja pelo Ministro das Relações Exteriores, o Embaixador Mauro Vieira, de um lado, e o Senhor Assessor de Relações Internacionais, Marco Aurélio Garcia, de outro...

 

( Fonte: O  Globo )

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