Nem no tempo
da ‘Gloriosa’, nos anos do Regime militar, recebeu o Itamaraty um tratamento
tão chulo, tão eivado de militante menosprezo dos direitos internacional e
diplomático, quanto agora.
Os militares,
como carreira de estado, tiveram a inteligência de não intervir diretamente no
Ministério das Relações Exteriores. O amador não pode prescindir do
profissional. Deram assim a diplomatas como Azeredo da Silveira e Ramiro Guerreiro
a necessária autonomia de ação. Compreenderam que a boa diplomacia não só
promove a nação, mas também através de maior presença internacional se favorece
o país, a sua ação e eventual liderança no campo das relações internacionais.
Em respeitando
o velho Itamaraty, os generais mostraram bom senso, porque não lhes aproveitava
destruir o corpo diplomático brasileiro, ou desvirtuá-lo. Respeitando a
tradição e a experiência do Ministério das Relações Exteriores, não cometeram a
estultícia de enfraquecer um serviço de escol. Sabíam que o prestígio do
Itamaraty era trabalho de muitas gerações, eis que, o nosso Patrono, o Barão do Rio Branco, não venceria tantas
contestações de limites, sem o aporte dos diplomatas do Império, como Duarte da
Ponte Ribeiro, e por que não dizer, do próprio grande Precursor, Alexandre de
Guzmão, moço de escrivaninha de el Rei D. João V, que nos deu o Tratado de
Madri (e a conformação de nossas fronteiras a oeste).
Não há
milagres em diplomacia. Existe o trabalho de Chancelaria, o estudo e a análise
dos maços – que consignam as gestões feitas e as sucessivas avaliações – e as
questões de Estado, que lhe dão o norte. Ao contrário de nossos vizinhos, o
Império e depois a República teve sempre presente na sua atuação as questões de
Estado, pois era a ele, e não à política de partido, que representava.
Daí, o êxito do
Itamaraty, que ao invés de seus interlocutores sul-americanos, não representava
partidos, mas sim o interesse nacional.
Se com Lula da
Silva, o interesse do Brasil começou a sofrer os primeiros desvios no Tratado
de Itaipu – para favorecer um então aliado paraguaio, o bispo Fernando Lugo,
que ambicionava promover a revisão desse tratado -, a situação diplomática
piorou bastante com a militante ignorância de Dilma e as consequências de seu
pouco apreço às relações internacionais.
O menosprezo da
Presidenta pelo Itamaraty é público e notório. Infelizmente, essa ‘avaliação’
não se cinge a opiniões valorativas, mas se reflete na redução de suas
dotações, com toda espécie de consequência negativa (até o contágio de nossos
diplomatas por doenças infecciosas – na busca do santo graal de membro
permanente do Conselho de Segurança o Brasil está representado em todos os
países do planeta).
Outra
consequência dessa ‘antidiplomacia’ está na dualidade no poder diplomático.
Além do Ministro das Relações Exteriores, Lula e sobretudo Dilma tem o assessor
diplomático Marco Aurélio Garcia. Este
senhor cuida sobretudo das relações com a América Latina, e é por isso que
Dilma classifica como ‘questão interna’ da Venezuela a truculência do ditador
Nicolás Maduro, que multiplica prisões da oposição na insana tentativa de
camuflar a própria abissal incapacidade política.
A última de
Dilma Rousseff foi a estulta descortesia com o novo embaixador da
Indonésia. Convidado a participar da
última cerimônia omnibus de
apresentação de credenciais, a Presidenta, em gesto de grosseiro desprezo da
cortesia diplomática, mandou que saísse da fila o embaixador da Indonésia, Toto
Riyanto, ainda sob o pretexto do fuzilamento do brasileiro Marco Archer.
Mais uma vez
ela age na contramão da diplomacia. Qual o sentido de humilhar um representante
diplomático dessa forma? Acaso os funcionários diplomáticos responsáveis não o
convocaram para a cerimônia? Para que tal
afronta ao representante indonésio? Essa maneira acintosa de desrespeitar
alguém que vem com credenciais buscar melhorar as relações não serve a
propósito algum.
Não teria
sido preferível não incluir o referido senhor, dada a atitude da Senhora
Presidenta?
Assim como
não é diplomacia declarar que o Brasil não tem posição na questão da
Ucrânia, tampouco o será esse gratuito
achincalhe às tradições da diplomacia brasileira.
Não é à toa
que os embaixadores que lograram apresentar credenciais estão ladeados seja
pelo Ministro das Relações Exteriores, o Embaixador Mauro Vieira, de um lado, e
o Senhor Assessor de Relações Internacionais, Marco Aurélio Garcia, de outro...
( Fonte: O Globo )
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