As negociações em Minsk nesta
última semana foram cercadas por nuvem de ceticismo. O esforço de Frau Merkel acompanhada por M. François
Hollande em defender a causa da Ucrânia, invadida a leste e escarnecida pelo
risonho gospodin Vladimir Putin,
deixava, não obstante as promessas de ajuda do Ocidente, com seu semblante
contraído, solitária a figura do presidente Petro Poroshenko.
Seria, como
se, a despeito dos acordos assinados, e as palavras de apoio dos dois maiores
países da União Europeia, tais argumentos pouco pesassem na balança das nações.
A incipiente Roma aprendera com o gaulês Breno,
que a vencera, o escasso valor que tem a retórica no prélio das armas. Como
houvesse contestações nos romanos sobre os termos do ‘acordo’, Breno jogou, com
a própria espada na balança, as palavras:
Com esse dito célebre, Breno
atalharia os reclamos da jovem Roma derrotada. Diante da força preponderante,
as palavras de pouco valem.
Assim como Neville Chamberlain, acolitado pelo
francês Édouard Daladier, viajara em
fins de setembro de 1938 até Munique, pensando salvar a paz europeia, ameaçada por litígios
com países de que nada sabiam, a Chanceler
Angela Merkel ao tomar o avião para Minsk já excluía de plano qualquer
reação mais forte do que a diplomática.
Na geral
avaliação, Putin, nessa nova rodada de cartas, já saía com a quase certeza de
levar vantagem. Líder na Comunidade Europeia, a Merkel se esquecera de que em negociação diplomática o segredo é a
alma do negócio. Excluindo qualquer apelo à força, real ou figurada, ela
caminhava altiva no caminho do lobo Putin.
Por isso, o esgar de Poroshenko,
sempre sozinho nas fotos em patética e muda confrontação com o riso irônico do Senhor do
Kremlin.
Putin desdenha a diplomacia, se despojada de
pressões respeitáveis (como as sanções e eventuais medidas militares).
Entende-se, por conseguinte, o sorriso nos lábios descarnados de Vladimir
Putin. Na sua terra, ele não se distingue pela face risonha. Nele o semblante
sério e contraído é marca registrada.
Mas como não
há de rir, se o segundo acordo de Minsk concede aos litigantes um generoso
prazo para a respectiva entrada em vigor? É erro garrafal, pueril mesmo, dar uma lata extensão
à continuação do conflito, que só servirá ao lado mais forte, que é o russo,
com as suas armas pesadas e o respectivo bem-equipado exército. De lambuja se
concede aos rebeldes – contingentes armados e dirigidos por Moscou – mais uma
generosa janela para avançar no território da Ucrânia oriental.
Que
cessar-fogo é este que principia com um vale-tudo pró-Russia?
O risinho de
Vladimir se alimenta do primarismo diplomático da dupla franco-alemã. Ninguém
parte para empreitada que deseja exitosa, se de saída se priva do aporte das
armas (excluindo qualquer ajuda nesse sentido à Kiev) e reafirmando a própria
fé na diplomacia, justamente perante adversário, que com o gesto e
comportamento afeta privilegiar a força marcial!
Os neófitos
na diplomacia se autocondenam. No poker,
como na diplomacia, o segredo é a alma do negócio. Com aliados como esses,
Petro Poroshenko está bem arranjado.
(Fontes:
The New York Times, Folha de S. Paulo)
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