Não estamos em Bizâncio, mas a
parecença é forte por demais! O governo
de Kiev se debate com falta de fundos, arrecém perdeu a Crimeia – que teve até
o dílmico Brasil, com lenço no nariz, a aceitar na vergonha da diplomacia a ignorância
da fundação do direito das gentes que é o pacta
sunt servanda – e o Ocidente ainda discute se deve ou não entregar armas
letais à Ucrânia !
Gospodin Vladimir V. Putin gerencia economia
quebrada. Fundada até há pouco nos miríficos ganhos do petróleo, vê o ouro
negro despencar, com o preço do barril abaixo do terço de o que antes valia,
enquanto o valor do rublo também ameaça ir pelo ralo...
Nesse grande
país, herdeiro da defunta URSS, hoje
apodado por Barack Obama como potência
regional, o ex-funcionário do KGB
– diante da invasão da sucursal em Dresden, cujo granítico gesto chorou nos
plúmbeos (para eles) tempos da implosão do reino de Gorbachev – ora não costuma
perder tempo com discussões filosóficas, à frente da Federação Russa.
Putin não é
Gengis Khan, mas transforma o seu estado em monstro voraz, e para ele, pelo
visto, o direito internacional público não passa de superada construção
acadêmica. Na anexação da Crimeia – realizada com os soldadinhos verdes e
arremedo de referendo – a extrema facilidade da conquista, e a vergonhosa falta
de reação, lhe terão subido à cabeça.
No seu
visor, estão agora terras da Ucrânia oriental. Elas se juntarão aos farrapos da
Transnistria, Abkhazia e Ossétia do Sul, em estranho processo de engorda feito
com a mutilação de plagas alheias.
Por ora, em
meio às promessas e planos de paz – bem segundo a cartilha dos ditadores que
hoje imita – ele instrumentaliza os dissidentes e os chamados ‘rebeldes’ que
multiplicam os fronts em torno das
cidades que a Rùssia cobiça, como Donetszk, Luhansk e as localidades vizinhas
da Crimeia, com vistas a proporcionar a integração plena da península da
Crimeia no território da metrópole russa.
Como carne
de canhão, os rebeldes enfrentam o exército ucraniano – e por vezes, como no
aeroporto de Donetsk, prescindem da ajuda russa. Em geral, no entanto, caberá
aos ‘voluntários russos’ a abertura dos fronts para desbaratar o domínio de
Kiev sobre as províncias do leste. Se a
resistência de Kiev estiver levando a melhor, acorre o reforço de Moscou, com
sua profusão de armas, incluse obuses e artilharia pesada.
Enquanto a
soberania de Kiev se esgarça diante dos iterados ataques, Washington e o
Ocidente se perguntam se cabe entregar armas
letais às forças que defendem a incolumidade da velha Ucrânia... Como
semelhança à tal santimônia, só mesmo a recusa de Paris e Londres, às vésperas
da Segunda Guerra, a mandar reforços para o governo republicano de Madri, que sozinho
lutava contra o franquismo apoiado por Hitler e Mussolini. A exemplo de
Bizâncio, França e Inglaterra debatiam sobre a licitude de intervir na refrega,
enquanto Berlin e Roma – como hoje o Kremlin
de Vladimir Putin – se riam a bandeiras despregadas, e lá, no inferno espanhol,
experimentavam toda sorte de arma letal...
( Fonte:
The New York Times )
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