segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Mundo, mundo, vasto mundo (II)


                            Mundo, mundo, vasto mundo (II)

 

Saudades de Danuza Leão

 

       Ao ler as primeiras linhas da crônica de Antonio Prata, na edição da Folha de domingo, e a sua falta de qualquer elegância, lamentei duas coisas – que a Folha delas tenha feito chamada de primeira página e, especialmente, o quanto diferiam dos textos de Danuza Leão, que no ano passado recebeu o bilhete azul por algum sub-editor.

      Que diferença mais uma vez senti de suas crônicas de que às vezes poderia o leitor até discordar, mas nunca rotular de vulgares ou coisa semelhante!

       Parece que o discurso das despedidas é cortado sob o molde de estranhos personagens, que costumam pôr a culpa nos caprichos do mercado. Seria como envergonhados, os seus superiores cuidam de poupar-se do inerente mau-caratismo da decisão...

       Mas como, passado o tempo, a sua falta ainda seja sentida, cabe a pergunta: Por que ela ? Será que a qualidade de sua coluna incomodava?

 

 Marina,  a candidata que assusta

 

        Como o fenômeno Marina não é mais miragem, e as prévias da Datafolha estão aí para demonstrá-lo, o nervosismo dos chamados observadores imparciais cresce a olhos vistos.

        Diante do preocupante desmoronamento dos respectivos candidatos – e me refiro à Presidenta Dilma Rousseff e ao ex-governador Aécio Neves – além das críticas decerto patéticas dos atingidos, intervém o coro dos ditos observadores imparciais, que sob o choque começam a livrar-se do alto coturno da própria judiciosidade.

        Assim, o renomado físico Rogério Cezar de Cerqueira Leite aparece na página de Opinião da Folha para dizer que não se sente confortável em ter como Presidente uma pessoa que professa uma religião evangélica, que no seu Livro Sagrado estabelece um período para a criação, e uma data aproximada post quem.

        Na sua primeira página, a Folha estampa que ‘Marina fatura R$ 1,6 milhão com palestras em três anos’, e acrescenta pundonorosamente “a candidata do PSB mantém sob sigilo identidade de seus clientes’. Tudo isso em letras bem visíveis. Menos à vista, a verificação que tal é prática corrente entre outros famosos, como o professor FHC e o sem título Lula da Silva.

         Por outro lado, depois de menções entre-linhas e discretas observações, o imortal Merval Pereira resolve sair detrás das cortinas e dos parágrafos de seus pensamentos políticos, em que a discrição semelha a regra, e dizer: “o voto útil em Marina, para  garanti-la no segundo turno ou forçar uma derrota do PT já no primeiro, pode ser um tiro no pé nos eleitores que temem Marina presidente mas não querem Dilma reeleita. Nesse caso, fortalecer a votação do terceiro colocado é impor uma negociação política que demarcará um provável governo Marina.”

          O pensamento da direita envergonhada é realmente comovente. Enquanto Marina veio mostrar que a rainha Dilma – que Lula pensara blindar com o dinheiro dos contribuintes através da munificência da bolsa família e quejandos – não era mais o bicho papão de passadas eleições, depois dos elogios pro-forma à candidata do PSB, agora a tripulação da nave que rumaria para o segundo dílmico mandato começa a ficar nervosa.

           A sua reação é ambígua. Tentar desconstrui-la? Recorrer a um desses truques baixos, que depois o estadista Lula apoda de qualquer termo inconsequente, que, sob uma capa de ilusória reprovação, procura desmistificar o delito eleitoral como se fora coisa risível, de somenos importância?

            Não sei se o eleitorado será tão tolo que cairá uma vez mais nas balelas de quem se diz  Nosso Guia’.

            Mas não há negar que a direita está nervosa. A provada incompetência de Dilma para ela constituía um refúgio de última instância. Com a sua fraqueza, a candidatura de Dilma Rousseff ganha em atrativos para quem deseja que tudo fique como está.

           Por outro lado, Aécio Neves ignorou as lições do avô. Integrando em eleições anteriores o cínico bloco do eu-sozinho, pensou haver reforçado para o futuro a sua candidatura. Pensou ser mais esperto do que José Serra e Geraldo Alckmin, embora lhes tenha negado, e de forma inesquecível, qualquer ajuda quando dela precisaram...

          Se o coro anti-Marina continuar a engrossar com tais personagens, ela terá em breve, se tiver juízo, um mar de almirante pela frente...

 

(Fontes: Carlos Drummond de Andrade; Folha de S. Paulo;  O Globo )

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