Mundo, mundo, vasto
mundo (II)
Saudades de Danuza Leão
Ao ler as
primeiras linhas da crônica de Antonio
Prata, na edição da Folha de
domingo, e a sua falta de qualquer elegância, lamentei duas coisas – que a
Folha delas tenha feito chamada de primeira página e, especialmente, o quanto
diferiam dos textos de Danuza Leão,
que no ano passado recebeu o bilhete azul por algum sub-editor.
Que diferença
mais uma vez senti de suas crônicas de que às vezes poderia o leitor até
discordar, mas nunca rotular de vulgares ou coisa semelhante!
Parece que o
discurso das despedidas é cortado sob o molde de estranhos personagens, que
costumam pôr a culpa nos caprichos do mercado. Seria como envergonhados, os
seus superiores cuidam de poupar-se do inerente mau-caratismo da decisão...
Mas como,
passado o tempo, a sua falta ainda seja sentida, cabe a pergunta: Por que ela ?
Será que a qualidade de sua coluna incomodava?
Marina, a candidata que assusta
Como o fenômeno
Marina não é mais miragem, e as prévias da Datafolha estão aí para
demonstrá-lo, o nervosismo dos chamados observadores
imparciais cresce a olhos vistos.
Diante do
preocupante desmoronamento dos respectivos candidatos – e me refiro à Presidenta
Dilma Rousseff e ao ex-governador Aécio Neves – além das críticas decerto
patéticas dos atingidos, intervém o coro dos ditos observadores imparciais, que
sob o choque começam a livrar-se do alto coturno da própria judiciosidade.
Assim, o renomado
físico Rogério Cezar de Cerqueira Leite aparece na página de Opinião da Folha
para dizer que não se sente confortável em ter como Presidente uma pessoa que
professa uma religião evangélica, que no seu Livro Sagrado estabelece um
período para a criação, e uma data aproximada post quem.
Na sua
primeira página, a Folha estampa que ‘Marina fatura R$ 1,6 milhão com palestras
em três anos’, e acrescenta pundonorosamente “a candidata do PSB mantém sob
sigilo identidade de seus clientes’. Tudo isso em letras bem visíveis. Menos à
vista, a verificação que tal é prática corrente entre outros famosos, como o
professor FHC e o sem título Lula da Silva.
Por outro
lado, depois de menções entre-linhas e discretas observações, o imortal Merval
Pereira resolve sair detrás das cortinas e dos parágrafos de seus
pensamentos políticos, em que a discrição semelha a regra, e dizer: “o voto útil em Marina, para garanti-la no segundo turno ou forçar uma
derrota do PT já no primeiro, pode ser um tiro no pé nos eleitores que temem
Marina presidente mas não querem Dilma reeleita. Nesse caso, fortalecer a
votação do terceiro colocado é impor uma negociação política que demarcará um
provável governo Marina.”
O pensamento da direita envergonhada é
realmente comovente. Enquanto Marina veio mostrar que a rainha Dilma – que Lula
pensara blindar com o dinheiro dos contribuintes através da munificência da
bolsa família e quejandos – não era mais o bicho papão de passadas eleições,
depois dos elogios pro-forma à candidata
do PSB, agora a tripulação da nave que rumaria para o segundo dílmico mandato
começa a ficar nervosa.
A sua
reação é ambígua. Tentar desconstrui-la? Recorrer a um desses truques baixos,
que depois o estadista Lula apoda de qualquer termo inconsequente, que, sob uma
capa de ilusória reprovação, procura desmistificar o delito eleitoral como se
fora coisa risível, de somenos importância?
Não sei se
o eleitorado será tão tolo que cairá uma vez mais nas balelas de quem se
diz ‘Nosso
Guia’.
Mas não há
negar que a direita está nervosa. A provada incompetência de Dilma para ela
constituía um refúgio de última instância. Com a sua fraqueza, a candidatura de
Dilma Rousseff ganha em atrativos
para quem deseja que tudo fique como está.
Por outro
lado, Aécio Neves ignorou as lições do avô. Integrando em eleições anteriores o
cínico bloco do eu-sozinho, pensou haver reforçado para o futuro a sua
candidatura. Pensou ser mais esperto do que José Serra e Geraldo Alckmin,
embora lhes tenha negado, e de forma
inesquecível, qualquer ajuda quando dela precisaram...
Se o coro
anti-Marina continuar a engrossar com tais personagens, ela terá em breve, se
tiver juízo, um mar de almirante pela frente...
(Fontes: Carlos Drummond de Andrade; Folha de S. Paulo; O Globo )
Nenhum comentário:
Postar um comentário