A Petrobrás é o novo Mensalão?
A ida ontem
para as bancas da revista Veja trouxe nomes para a lista do delator Paulo
Roberto Costa, ex-diretor da Petrobrás (indicação do PP na sopa partidária).
Segundo
Costa, como refere a revista, o esquema
na Petrobrás funcionou ao longo dos dois governos Lula e adentrou no de Dilma
Rousseff. A exemplo do mensalão, a distribuição de dinheiro servia para
garantir que os partidos aliados continuassem a apoiar a presidência petista no
Congresso Nacional.
Consoante declaração
do diretor Paulo Roberto Costa, ele despachou diretamente, e por várias vezes,
com Lula. Procurado pela reportagem da revista, o ex-presidente não se manifestou.
Dada a
indicação de que o esquema em apreço continuou a funcionar nos dois primeiros
anos de Dilma, Veja também tentou
contactar a Presidente, mas tampouco teve êxito.
Aparecem
na reportagem três governadores, dos quais apenas um continua em função: Roseana Sarney (PMDB-Maranhão). Dos
dois outros, um faleceu recentemente (Eduardo
Campos – PSB), e Sérgio Cabral (PMDB) renunciou
antecipadamente, para ajudar ao Vice Pezão firmar-se na corrida pela
eleição. Tanto Roseana, quanto Cabral
negam. Por sua vez, Marina rebate a imputação, dizendo tratar-se de ilação, com o que, se presume, queira
negar a procedência.
Todos os
indigitados, negam em uníssono. O PT, o antigo partido ético, afigura-se o
principal perdedor no escândalo. Entre os petistas, estão João Vaccari Neto,
secretário nacional de finanças do PT e Candido Vaccarezza (PT/SP). Na bancada
do PP encontram-se João Pizzolatti (SC) e Mario Negromonte (BA). No PMDB, os dois presidentes - do Senado –
Renan Calheiros (que não se manifestou); e da Câmara, Henrique Alves (que nega qualquer ajuda e
aduz que “a Petrobrás é petista”).
Completam
a lista do Congresso, os Senadores Ciro
Nogueira (PP-PI) e Romero Jucá (PMDB-RR).
Por fim,
mas não por último, aparece o Ministro das Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB
- MA). Assumiu a pasta ainda no Governo
Lula, e continua sob Dilma. Igualmente nega seu envolvimento.
Reunião da OTAN: pacto de cessar-fogo na Ucrânia
Sobram razões para não acreditar nas
perspectivas do Acordo de Cessar-Fogo, assinado em Minsk, na Bielorrússia. A
principal está na circunstância de que a razão de sua existência encontra-se no
simples fato de que quem está por trás dos combates entre ‘separatistas’ e
ucranianos assim o determinou.
Chama-se Vladimir V. Putin, e é
presidente da Federação Russa. Aliciou, armou, e reforçou o campo rebelde. A Ucrânia, depois das hesitações iniciais, reagiu
e enviou forças do próprio exército para recuperar o terreno perdido –
sobretudo nos bolsões de Luhansk e na chamada república de Donetsk – as
eventuais progressões no campo contra os separatistas enfrentaram novas
incursões de forças blindadas russas. O escopo dos ataques de blindados russos
era o de socorrer os destacamentos rebeldes, e impedir o retorno de tais
centros à soberania de Kiev.
Quando já se
discutia o cessar-fogo, aconteceu outra
invasão de blindados russos em Novoazovsk, no litoral sudeste da Ucrânia, com
o objetivo de apoderar-se da cidade portuária de Mariupol. Esse ataque russo visava também desafogar o
cerco de Donetsk, onde o exército ucraniano avançava.
O Presidente
Petro O. Poroshenko reserva a Putin um tratamento que só pode ser atribuído à
deferência para com a antiga metrópole. Até o momento o novel presidente parece
mais interessado em manter a ficção de que Moscou não seria, em realidade, o
agressor, a despeito da anexação da Crimeia, o fornecimento de armas e apoio
logístico aos rebeldes, além de bombardeio e sistemático desrespeito das
fronteiras ucranianas.
Nesse
contexto, o Primeiro Ministro da Ucrânia, Arseny Yatseniuk, tem uma posição
mais firme, sem tendências caudatárias.
Tudo leva a
crer que o cessar-fogo é um instrumento provisório (ploy) de Putin, tendo sido
ideado e implantado porque serve ao desígnio do senhor do Kremlin, para evitar
novas sanções ocidentais contra a economia russa. A reunião em Newport, no País
de Gales, da Organização do Tratado do
Atlântico Norte, voltada para a crise na Ucrânia, e com a criação de uma Força
de Ação Rápida, poderia causar ulteriores sanções pontuais contra a economia
russa, por causa da política imperialista de Putin. Foi para tentar evitar mais sanções – que
estão produzindo o seu efeito, deprimindo a economia russa, que Vladimir Putin
apelou para o acordo de cessar-fogo. Dado o comportamento pregresso, o
sistemático desrespeito da soberania ucraniana, é muito difícil acreditar que
esse cessar-fogo se firmará e conduzirá
à pacificação na região, com o respeito da soberania de Kiev.
Nesse
sentido, o próprio Presidente Barack Obama sublinhou a possibilidade de que a
iniciativa venha a dar chabu: “Sobre o cessar-fogo, obviamente estamos
esperançosos. Mas baseado na experiência passada, também estamos céticos se de
fato os separatistas vão respeitá-lo, e se os russos vão parar de violar a
soberania e a integridade territorial da Ucrânia.”
Não
obstante o cessar-fogo, a União Europeia continuará a aplicar sanções a Moscou.
Segundo se indica, a nova leva deverá atingir exportações, financiamentos e
liberação de vistos. Não terão o peso das medidas anteriores, mas sinalizam a
determinação de continuar a pressão econômica e financeira, para que a Rússia
reveja a sua postura imperialista.
Combate à facção do Isis
Os Estados
Unidos estão formando “núcleo de uma coalizão” para combater a milícia radical
do Isis (ou Estado Islâmico) no
Iraque. Não se fez menção ao território da Síria, em que existem bases do
chamado Estado Islâmico.
Haverá uma grande aliança, que atuará em
ataques aéreos (bombardeios), além do reforço das forças de segurança
iraquianas, assim como de curdos, recentemente ameaçados de invasão pelos
radicais sunitas do E.I.
Embora
Obama exclua o comprometimento de tropas, a coalizão contará com larga (e
inesperada) aliança, inclusive do Irã, sendo que o
ayatollah Khamenei autorizou cooperação militar com forças americanas,
iraquianas e curdas que lutam contra o E.I. no Iraque. Não se mencionou a
Síria, em cujo território o E.I. está também implantado em diversas áreas.
Contribuíram para a efetivação da reação americana as execuções por
decapitação de dois jornalistas americanos: James Foley e Steven Sotloff. A mesma sorte pende sobre o refém britânico
David Haines, aparentemente aprisionado na Síria.
Tentativa de Censura do Banco
Central ?
A revista
VEJA noticia nesta semana sob o título “Difamação ou Opinião” a abertura de
queixa-crime contra o economista (e ex-diretor do Banco Central) Alexandre Schwartsman pelo Procurador-Geral
do Banco Central Isaac Sidney Ferreira. O Procurador considerou os comentários
ofensivos à imagem da instituição, e apresentou na Justiça Federal queixa-crime contra Schwartsman, sob a
acusação de difamação, delito previsto no artigo 139 do Código Penal. A pena
pode chegar a um ano de detenção, mas, por se tratar de um crime contra
funcionário público, pode ser acrescida em um terço.
Na
petição, encaminhada em maio, o procurador-geral Isaac Ferreira argumentou que o economista excedeu “em franca e
deliberada demasia, o seu direito de expressão, ao fazer declarações nocivas à
reputação do Banco Central”.
Na
audiência de conciliação, marcada para 20 de agosto, o advogado de Schwartsman,
Jair Jaloreto sustentou que seu cliente “jamais teve a intenção de difamar
alguém nem instituição alguma” e apenas “expressou sua opinião como expert em economia e finanças, calcada
em fatos e dados”. Por isso, não
aceitava fazer qualquer retratação.
A Juíza
Federal Adriana Delboni Taricco decidiu por rejeitar a queixa-crime. Na sua
avaliação, as críticas “de fato se mostraram bastante contundentes, porém
faz-se necessário salientar que não ultrapassaram os limites do mero exercício
de sua liberdade de expressão.”
É uma
sentença que me parece muito apropriada. Reconhece a contundência das críticas,
mas também assinala que não ultrapassou os limites do mero exercício da
liberdade de expressão do colunista.
Richard Holbrooke, um grande diplomata
Roger
Cohen, o conhecido colunista do New York Times, escreveu nesta semana artigo
sobre uma injustiça que se prenuncia contra uma grande diplomata americano,
Richard Holbrooke.
O cemitério
de Arlington, nos Estados Unidos, se
destina precipuamente a homenagear militares, mas há exceções para esta regra.
A
então Secretária de Estado Hillary Clinton escreveu, a oito de setembro de
2011, para o Secretário do Exército solicitando que se fizesse uma exceção à
norma vigente para a aludida necrópole. Encarecia que se considerasse autorizar
a inumação em Arlington de Richard C. Holbrooke.
Não é
por acaso que Hillary assumiu esse encargo. Pessoalmente, Holbrooke a apoiara,
quando de sua árdua campanha nas primárias democratas, pela designação
presidencial (‘nomination’). Por outro
lado, o embaixador Holbrooke, que recebera a espinhosa missão de cuidar do
Afeganistão pelo Presidente Barack Obama, veio a ter um colapso no gabinete da
Secretária de Estado. É de certa forma
simbólico que Holbrooke viesse a cair no próprio edifício do Departamento de
Estado, ele que tanto contribuíra para grandes realizações diplomáticas.
“Poucos
diplomatas através da história impactaram de forma tão profunda e sustentada quanto
Richard, e poucos líderes civis deram mais apoio de forma consistente aos
militares americanos.”
O
seu grande êxito foi sem dúvida Daytona, que lhe exigiu, se assim se pode
dizer, mais do que a imaginável capacidade de gestão, coordenação e persuasão
que se poderia presumir de um embaixador.
Com personalidade, dinamismo, conhecimento e brilho diplomático, o
embaixador Holbrooke atendeu e venceu, muito além de o que se poderia esperar
de um negociador e grande diplomata o desafio, cuja monumental equação e
solução está consignada nos acordos de Daytona, que por si só justificariam
como título não só para o reconhecimento da posteridade, senão para assinalar uma
realização maiúscula, a que a paz na região – sobremodo em área de tão pesados
antecedentes históricos – encerra uma afirmação maiúscula, marcada pelo
engajamento e capacidade desse gigante da diplomacia.
Infelizmente, a Administração Obama não soube aproveitar esse grande
diplomata. Foi-lhe atribuída a pasta do Afeganistão, mas nenhum especialista em
relações exteriores terá alguma possibilidade de êxito se não contar com o
apoio presidencial. É a caução de todo o diplomata, e infelizmente, por
temperamento, estilo e visão diplomática Barack Obama não poderia entender-se
com Richard Holbrooke. Na frase famosa de Buffon, o estilo é o homem, e
Holbrooke aliava a competência diplomática a uma resoluta e imaginosa
intervenção em cada problema que viesse a desafiar-lhe (no sentido toynbeeano
desse verbo).
A
Administração do 44º Presidente não parece ter presente a oportunidade e a
justiça da solicitação encaminhada pela então Secretária de Estado. Dentro
desse quadro, não surpreende a resposta do Secretário do Exército, John McHugh,
de 26 de outubro de 2011, encaminhada em correspondência à viúva Kati Marton,
com respeito à petição em tela.
O
Secretário McHugh refere que passara em revista toda a informação a ele
disponível, “inclusive as cartas de apoio dos Oficiais mais antigos (most senior)
de nossa Nação, e concluiu que o “Embaixador Holbrooke infelizmente não tem
direito (is not eligible) a descansar (to be laid to rest) no cemitério de
Arlington”.
Se a correspondência do Secretário do
Exército, pelas suas ponderações, desvela contrario
sensu que paradoxalmente Holbrooke faz por merecer a honraria, não fora
pelas cartas de tantos militares, que refletem tão assinalados serviços. A negativa oficial acrescenta que “o serviço
tanto nacional, quanto internacional prestado por Holbrooke foi deveras excepcional”, mas observou que “o
sepultamento em Arlington está fundamente entranhado no serviço militar”.
Cabe concluir essa nota sobre os percalços burocráticos de uma pretensão
não só justa, quanto devida, com a opinião do Almirante Michael Mullen,
ex-Chefe do Estado Maior Conjunto: assinala que ‘era um forte apoiador da
ideia, porque Richard acompanhou os militares em muitos conflitos’. Escrevera,
igualmente, em favor do atendimento à solicitação da viúva, mas sabia que
somente intervenção da Casa Branca poderia mudar a situação. Infelizmente,
também sabia que tal intervenção não viria.
E Roger Cohen conclui o seu artigo, com a seguinte frase:
“como um emblema de
empenho e de serviço que os Estados Unidos hoje muito necessitam, Richard
Holbrooke faria jus à uma exceção em Arlington”.
(Fontes: VEJA, Folha de S. Paulo, O Globo, The New
York Times)
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