Mesmo em
período eleitoral, quando a Presidenta
corre perigo de se tornar história, o
alto-comando petista pareceu bastante excitado com as perspectivas abertas pela
gravíssima falha (conforme a Ministra
Miriam Belchior) cometida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Calçando
altos coturnos e com o gesto turvo da raiva sob encomenda, na audiência em
Palácio, Dilma Rousseff “reagiu absolutamente perplexa que o IBGE possa ter cometido um erro tão básico”. A
descrição, feita pela direta auxiliar Miriam Belchior, guardava talvez um pouco
de ressaibo de uma derrota do grupo petista (entre os indigitados, Gleisi
Hoffman e a própria Miriam), que desejara censurar uma anterior divulgação da Pnad.
A vingança –
aquele proverbial prato que se come frio – luzia nas expressões e nas providências dos superiores petistas.
Serão criadas duas comissões por causa dessa falta banal (Dilma). Em uma
intervenção não tão branca no IBGE, foram criadas as tais comissões, uma para avaliar a consistência da Pnad.
Integrarão essa primeira especialistas, nomeados
por portaria. A segunda, a de sindicância,
para investigar os erros da pesquisa e apurar responsabilidades.
Essas duas comissões terão trinta dias para apresentar os resultados.
Não é
propriamente a presidente do IBGE, Wasmália Bivar, que corre um sério risco.
Como Vinicius Mota assinalou em nota-editorial na Folha, ‘agora, com o erro na
Pnad e em meio a uma guerrilha sindical contra a presidente do IBGE, alguém no
governo Dilma enxergou uma oportunidade’.
O mais
estranho é que o IPEA, outro órgão federal de estudos, não teve a mesma sorte
madrasta. Como Vinicius Mota sublinha, o Ipea “cometeu uma barbaridade numa
pesquisa a respeito da violência contra a mulher. Divulgou que 65% dos brasileiros concordava com uma
frase machista sobre ataque sexual. A cifra real era 26%. Corrigiu-se, mas não foi alvo da reação ‘perplexa’ da
presidente da República, tampouco foi ameaçado com intervenção.”
A diferença
no tratamento é fácil de explicar. O IPEA já foi domesticado há tempos, eis que
a sua direção “desde o governo Lula alinhou-se ao esquerdismo de oportunidade e
sobretudo ao governismo desbragado.” Trocando em miúdos, o IPEA está aparelhado pelo PT, o que não é ainda o
caso do IBGE.
Nesse
contexto, é importante ler o testemunho de Míriam
Leitão, colunista econômico-financeira de O Globo. Ainda que a presidência
negue ‘com números e mais números que haja sucateamento do IBGE’, o que dizer
então do “corte que houve
recentemente no orçamento pedido pelo instituto para pesquisas (em 2015) foi de 73%. Isso levou à suspensão de duas
pesquisas, uma delas a importantíssima Contagem da População, e conspira
contra a ideia de que houve aumento de meios e recursos humanos no órgão.”
Apesar de
ser um órgão vital para o Brasil,
como esta no próprio título do artigo de Miriam Leitão, datado de 23 do
corrente, e de ser qualificado como “fundamental ao Brasil”, o IBGE no presente
universo de poder petista, está fragilizado.
Não creio,
contudo, que no atual momento político a presidenta Dilma vá com muita sede ao
pote. Se o erro, decerto instrumentalizado
e exacerbado dentro do esquema lulo-petista, enfraquece o Instituto, Dilma ora
enfrenta o seu maior desafio em termos de sobrevivência política (em
comparação, a disputa com José Serra foi um passeio, malgrado a necessidade do
segundo turno).
Por isso,
no campo dilmista será hora de ensarilhar armas, na esperança de poder usá-las
brevemente. Tudo indica que Marina logrará vencer a prova de enfrentar com dois
pífios minutos os dezesseis da Presidenta (e de
João Santana), no que concerne a torrente de mentiras despejadas pela
propaganda política do lulo-petismo. Essa ‘vitória’ será, como é óbvio, chegar
ao segundo turno, e então dispor de tempo igual para a propaganda (é de
esperar-se, nesse contexto, que mais fundos e meios sejam encontrados para
enfrentar com êxito o desafio das fabulações da máquina adversária).
No
entanto, por ora, a argumentação terá de cingir-se às contingências presentes.
De qualquer forma, não interessa ao Brasil esvaziar o IBGE e transformá-lo na
sombra ambulante (como os mortos no Hades) do Indec. A sôfrega arrogância dos
Kirchner destruíu “a credibilidade” do Instituto argentino de estatísticas. Não
se pode fundamentar o projeto de desenvolvimento econômico e social de um país em
ficções e dados de frágil conexão com a
realidade.
(Fontes: O Globo, Folha de S. Paulo)
Nenhum comentário:
Postar um comentário