quinta-feira, 11 de setembro de 2014

É a economia, estúpido !

                                   

              O leitor talvez se recorde. Este foi o lema do candidato democrata, Bill Clinton, na sua campanha contra o Presidente George H.W. Bush, que estava fragilizado pela recessão na economia americana, e que pleiteava a reeleição.

               E Clinton, saído do pequeno estado de Arkansas, logrou derrubar George Bush (pai de George W. Bush). Por causa da recessão, pareceu ao povo americano que Clinton, mais jovem do que Bush senior, teria melhores condições de tirar a economia do vermelho.

               No Brasil, a economia está em recessão dita técnica (quando o PIB diminui em dois trimestres seguidos), mas a crise existente não é julgada suficiente para determinar a não-renovação do mandato de Dilma Rousseff.

               Tal se deve sobretudo a que o eventual apoio da Presidente para um segundo mandato independe da situação da economia. Dilma, por força da política assistencialista de Lula e do petismo, dispõe de um núcleo duro de sustentação. Ele é formado pelo imenso público da bolsa-família (desvirtuada de sua função inicial, propugnada por Cristovão Buarque, e que tinha como prazo a permanência dos filhos na escola). Outro manancial – também estipendiado pelo erário público, mas atribuído ao PT, como se a ele pertencesse – está na inchação dos gastos correntes, com o descomunal incremento do funcionalismo, através de nomeações e até concursos.  Mais este ‘benefício’, além de retirar fundos preciosos para os investimentos em infraestrutura, cria ou incha uma série de carreiras no empreguismo público, que estão na contramão da modernidade.

                Além das carreiras de estado, que são poucas e indispensáveis, o assistencialismo petista cria muitas outras, que vão assegurar, às custas de um emprego mais produtivo do dinheiro público, muitas e muitas repartições, com funcionários estáveis. É o sonho da burocracia aliado ao neo-assistencialismo, que é dito esquerdista na munificência empreguista, mas arcaico se se trata de visão de um Estado ágil e moderno. Em outras palavras, é um astuto projeto de poder mas não necessariamente de progresso e real desenvolvimento.

               Se compararmos o Brasil ao grupo de países sul-americanos a que a postura petista nos quer associar de qualquer maneira – e em tal desvairado assistencialismo partimos dos aliados de feição rudimentar (Bolívia e Equador), para os mais avançados nessa trilha (Venezuela e Argentina). A democracia sofre – e mais na Venezuela chavista e no Equador do aprendiz de ditador Rafael Correa). Quanto a Evo Morales, o Brasil se curva (com Lula e até Dilma) por imperscrutáveis razões. Chega até a ignorar a norma sagrada do asilo diplomático, mas isso talvez esteja na baixíssima atenção dada à diplomacia do Itamaraty, que por ser de estado alicerçou os limites de nossa nacionalidade.  Agora, cortando irresponsavelmente as verbas, o PT de Dilma – além de criar um ministrinho paralelo – tenta afastar a Casa de Rio Branco (e Alexandre de Guzmão) de suas bases doutrinais, para mergulhar no redemoinho da diplomacia de partido.  A coisa chega a tal ponto que desperdiçamos fundos para os nossos mal-aparelhados portos para jogá-los em portos caribenhos do Estado Castrista. Não surpreende que na inauguração de Mariel – feita por D. Dilma e Raul Castro – todo o cast do neoassistencialismo  sindical de Latino-America houvesse comparecido, quiçá a colocar-se na fila de ulteriores dádivas da munificência dilmo-petista.

               Mas voltemos dessa falsa digressão – eis que a trilha do petismo nos tem levado a tal destino – para contemplarmos a situação da economia do Brasil.

               O Ministro da Fazenda Guido Mantega – que, na verdade, na Fazenda apenas pagou pelos erros de Dilma Rousseff, que sempre foi a responsável por esse ministério – tem crescido de forma humana no dílmico infortúnio.  Poderia sair – e há muito – batendo a porta como Nelson Jobim, quase logo depois da emblemática fotografia conjunta.

                Dadas as características da criatura de Lula da Silva, é pouco provável que a Presidenta encontre algum nome de prestígio que aceite o encargo (na hipótese, que oscila entre o possível e o provável da reeleição desta senhora). Assumindo essa penosa alternativa, das duas uma – ou sai como Jobim, ou como Mantega, vale dizer se dissocia prontamente de processo que nada de bom lhe promete  (e à economia), ou se resigna às externalidades do mando, e vai aos poucos se desfazendo como imagem executiva.

                Basta ler os(as) colunistas e as seções especializadas dos jornalões, para que tenhamos presente aquilo que já antes temíamos. A coisa está ficando preta e a responsabilidade é clara.

                Infelizmente, não entanto, corremos o risco de imitar demasiado a sorte de nossos vizinhos, se continuarmos  nessa marcha batida. É dura e renhida peleja: quisera não imitemos os lemingues e voltemos a ser o país do futuro, que começa a abrir a porta do presente.

                Mas com a cautela que cabe, é bom espiar tal futuro, que deveria agradar a presidentes como Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek, e não aos demagogos de ontem e de hoje, com as suas variáveis penugens, que pensam acomodar-se camaleonicamente aos tempos modernos.

 

( Fontes:  O Globo, Folha de S. Paulo )

Nenhum comentário: