Como que diante de um raio que
escolhe o próprio alvo pelos insondáveis caprichos da lei das probabilidades,
cada mortal pode julgar que a sua janela de oportunidade – no caso os batentes
se abrem tanto para o infortúnio, quanto para o passar desapercebido - se está comportando muito bem, na medida em
que nada lhe acontece de mal.
Um pouco por
superstição, e um tanto pela vala psicológica, se vai tratando dos respectivos
assuntos como se fora em branca nuvem. Mergulhamos no dia-a-dia e preferimos
não cogitar de o que possa dar de errado.
Essa
ferramenta me tem acompanhado por um bom trato de caminho, e a despeito de
alguns avisos – os últimos grafados em vermelho – cuidava de ir tocando o meu blog diuturno de cada dia. Nele mergulhando, e escrevendo sobre grandes e
pequenos, seguia pela minha senda como se aí estivesse tudo.
Cá e lá os
deuses são imprevisíveis. Entrei nesse
mundo em meados de 2008, e com o tempo a sua presença cresceu. Do episódico
ocasional dos Cachorros de Atenas, ele foi se espalhando de forma um tanto
imperceptível, até tornar-se diário.
Nesse
trabalho, a minha faina é tão etérea quanto os seus resultados materiais, que
como dizia um velho professor meu, tendem para zero.
Escreve-se de
tudo um pouco e entramos muita vez sem ser convidados em lugares de toda gente.
Ao falar de espaço, caio no termo mais apropriado. Como os filmes da exploração
celeste nos ensinam, o éter é o mundo do silêncio. Se uns têm a coragem ou a
loucura, ou ambas, de lançar-se no espaço sideral, quiçá o problema maior com
que tenham de lidar é esse infinito que está despojado de qualquer manifestação
de som, ruído, barulho.
Ora, os
mortais ganham essa condição com o plangente ruído do choro. O barulho é uma
característica da vida neste vetusto planeta.
No entanto,
assim como o personagem de Molière, Monsieur Jourdain, que, sem o saber, falava
em prosa, nós, também sem dar-nos conta, enveredamos por essas sendas amiúde
tortuosas dos blogs, escrevendo sem
compromisso sobre tudo um pouco, e confiantes nos silentes arquivistas do
espaço sideral, como se participássemos de uma enorme redação – que decerto
pouco ou nada tem a ver com as salas apertadas e caóticas da velha imprensa dos
séculos XIX e XX.
Assim como o
homem que atravessa, apressado, os largos espaços das campinas, as suas vistas
se aferram ao chão, para que não vá pisar onde não deva. Mesmo que no céu as
nuvens se condensem, se avolumem, se contorçam nas suas fantásticas e
inconstantes imagens, mesmo que aos seus ouvidos cheguem ruídos que outros
achariam ameaçadores, a sua própria condição não lhe deixa outra opção que a de
continuar.
Dir-se-á que,
por vezes, o faça de forma maquinal, ou que entregue a poderes maiores do que
ele o tempo de matutar sobre isto ou aquilo.
Os habitantes
do Hades, na Grécia antiga, eram sombras sem memória. As interpretações podem
variar : crueldade ou piedade dos deuses ?
De qualquer
forma, muita vez adentramos um processo e não nos damos conta de o que ele
pressupõe. Como no mergulhador de Paestum, o encanto e o desafio do exercício está
no ato de lançar-se a espaços que pensamos conhecer, quando na verdade nos
pilhamos pender pelo capricho de alguém ou de uma máquina em um mundo que tem
regras próprias, regras essas que pensamos conhecer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário