Terá Marina Silva malbaratado a grande oportunidade
para arrebatar a Presidência? Se é
inegável a iniquidade da distribuição de tempo de propaganda dita gratuita no
primeiro turno, sobressai incômoda a vantagem inicial concedida à candidata do
movimento do Passe Livre e das manifestações de junho de 2013.
Como esse voto de confiança – com vitória
inclusive no segundo turno – o tempo comeu?
A resposta já foi dada: a disparidade desse tempo de primeiro
turno, a propaganda agressiva do campo adversário através de mentiras
(como referiu a própria candidata do PSB), e por último, mas não por menos, a passividade
da campanha de Marina.
A esse propósito, já me referi, en passant,[1] à falta de
qualquer reação da candidata e de seu núcleo de apoio. Não se pode aceitar como
situação inarredável uma conjunção desfavorável, como a da distribuição de
tempo na televisão. Se o fato em si pode ser irremovível – eis que dificilmente
haveria espaço para tentar modificar na vigésima quinta hora situação
manifestamente distorcida e injusta (dois minutos para um campo e dezesseis
para outro !), a saída está na resposta
ao desafio.
O próprio historiador Arnold
Toynbee, no seu ‘Estudo da História’, nos mostra quão relevante pode
ser a resposta de determinada cultura a um grande perigo. Civilizações se
reforçaram – ao contrário de outras – ao responder de modo eficaz a tal
desafio.
Foi o que até agora faltou ao campo
de Marina Silva. Diante da utilização pela campanha de Dilma Rousseff – que pode admitir
muitas caracterizações pejorativas mas não peca pela falta de competência – das
facilidades objetivas criadas por legislação casuísta, impunha-se solução inteligente para este desafio.
Nada se fez, a não ser deixar-se
embalar por crença de que, de algum modo, o tempo passaria, e o espontâneo apoio
inicial, dado à candidata Marina, resistiria de alguma forma à erosão
acelerada, provocada por maciça investida voltada a desfazer grande parte de
seu apoio popular, pela metódica desconstrução de o que a candidata representa
e que embasa a motivação do respectivo preexistente apoio.
Ao invés da postura abúlica, passiva
e, em essência, conformista, como se se estivesse diante de situações fora de
seu controle – quase como se fora a vontade do Criador -, a campanha de Marina
deveria ter reagido, de um lado, batendo na tecla do iniquo tempo que lhe era
concedido, assim como criando eventos naquelas áreas mais suscetíveis de serem
influenciadas pelo tipo de propaganda utilizada pela coligação oficialista da Presidenta
Dilma.
Existe tempo nas emissoras que pode
ser adquirido para ser empregado com tal fim. De nada serve lamentar-se e
fazer-se de vítima diante de uma situação do gênero. A intensidade e a mendacidade dos ataques fazia
por merecer respostas fortes, verazes e bem-direcionadas. Existe em francês um
ditado que me parece muito adequado para a situação que se colocou para a
candidata Marina: “É um cão muito perverso. Quando o atacam ele se defende”[2]. Essa gálica sabedoria popular vale também
para o povo brasileiro.
Ontem, no debate da tevê Record,
vimos Aécio Neves investir contra Dilma, mas não se observou movimento similar
de Marina Silva. Não se trata de Maria
vai com as outras, mas de utilização de um tempo em rede nacional de televisão,
com vistas a apresentar uma outra realidade que a mostrada pelo oficialismo do
programa de Dilma.
Não é questão de ser bonzinho ou
não. Se estamos em um embate desigual, é
mandatório que o grande público possa ter conhecimento não só das propostas de
Marina, mas também uma errata de todas as deformações propositais com que a
campanha televisiva oficialóide intenta desconstruir os totais de apoio da
candidata do PSB.
Não foi à toa, nem por secreto
desígnio da Providência Divina que Marina se tornou a candidata do Movimento do
Passe Livre. A sua mensagem de Paz, mas também de um Brasil mais justo e
solidário não surgiu por acaso. Se se quer agora dela desembaraçar-se, como se
fora água de barrela, não se pode abusar da resignação e do passivismo, ao
desperdiçar oportunidades de colocar a questão em pratos limpos.
Como é a verdade que realmente
incomoda, tudo deve ser feito para jogá-la na sala e nos espaços públicos do
Povo brasileiro.
Se o seu estilo deve ser mantido, é
mais do que tempo de levantar questões relevantes e que só ao Poder atual
interessam que sejam mantidas em silêncio.
Não é momento de abaixar a cabeça e
deixar o bonde passar. É hora de reagir em todos os foros possíveis, com compostura
e respeito, sem dúvida, mas com firmeza,
clareza e determinação.
( Fontes:
O Globo, Folha de S. Paulo )
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