sábado, 6 de setembro de 2014

Mar de Lama na Petrobrás


                                         

         Esse mar infelizmente não tem nada a ver com as sondas da Petrobrás na exploração do pré-sal.  Embora  seja em dimensões muito maiores, a sua conexão é com o mar de lama que o Presidente Getúlio Vargas, às vésperas de seu suicídio, reconheceu existir na guarda presidencial chefiada por Gregório Fortunato.

         Duas precisões, no entanto, são necessárias. Em primeiro lugar, o presidente até então nada sabia acerca da existência de um ‘mar de lama’ no Palácio do Catete[1], contra que invectivava o demagogo Carlos Lacerda pelo seu jornal Tribuna da Imprensa. E ao assumir a existência de tal mar, Vargas o fazia com o desalento do inocente que se descobre traído pela sua própria gente de palácio.

         A corrupção hoje descoberta na maior empresa nacional constitui melancólica confirmação da máxima de Lord Acton, de quanto o poder corrompe.

          Em boa hora, a Polícia Federal fez acordo de delação premiada com o ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa.  Segundo refere a Folha de S.Paulo, ‘Costa foi indicado ao cargo pelo PP, mas depois ganhou o respaldo do PT e do PMDB’.

          Mais do que acabrunhantes, os dados fornecidos por Costa – que está detido, espera-se, em lugar seguro – são devastadores.

           Dessarte, pelo depoimento de Costa, até agora, doze senadores, quarenta e nove deputados federais, e pelo menos um governador, receberam dinheiro desviado da estatal. Os denunciados pelo ex-diretor seriam do PT, PMDB e  PP.

           Ainda consoante o relato do ex-diretor da Petrobrás, feito a procuradores e policiais,  políticos  ficavam com 3% do valor dos contratos firmados pela estatal na época em que ele era diretor  (2004 a 2012).

           Segundo se assinala, a “decisão de (Costa) de colaborar com as autoridades espalhou o pânico entre políticos e dirigentes de empreiteiras”.

           Ainda de acordo com a Folha, “o depoimento de Costa chegou no começo desta semana ao Supremo Tribunal Federal para que o Ministro Teori Zavascki homologue o acordo de delação premiada feito pelo executivo com os procuradores. Os políticos citados por Costa só poderão ser investigados com autorização do STF, onde parlamentares têm foro privilegiado.”

              Como se recorda, o Ministro do Supremo Teori Zavascki, a dezenove de maio, concedera liberdade provisória a Paulo Roberto Costa ao ensejo de sua primeira prisão, feita a 20 de março, por sentença do juiz federal Sérgio Moro.

             Este mesmo juiz, cuja competência é conhecida, decretou a onze de junho, por segunda vez, a prisão do ex-diretor da Petrobrás. O Ministro Zavascki concordou com a ponderação do Juiz Moro, por haver perigo de fuga de Costa, pela existência de contas do ex-diretor no exterior.

             Quanto a possíveis repercussões na campanha eleitoral em curso, a critério de assessores da presidenta, “as consequências das revelações  de Costa para a campanha eleitoral são imprevisíveis.”  Esses assessores “temem estragos na imagem da Petrobrás e do governo”.

             É natural que esses assessores – cuja identidade não foi revelada – achem que Dilma não será pessoalmente atingida. Não é, entretanto, o que ocorreu no passado recente, ao ensejo das CPIs da Petrobrás, a eventual revelação de “irregularidades na estatal causa desgaste para Dilma, corroendo a imagem de gestora competente que muitos eleitores associam a ela”. Tais são indicações de pesquisas encomendadas pelo PT.

             Semelha, a propósito, sublinhar que Dilma Rousseff foi ministra da Minas e Energia, e da Casa Civil, além de presidir o conselho de administração da Petrobrás.

 

( Fontes:  Folha de S. Paulo;  “Getúlio 1945-‘954” , de Lira Neto, Cia. das Letras, 3° volume )



[1] A antiga sede do gabinete presidencial, antes da transferência para Brasília da Capital Federal

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