Não deveria
surpreender tanto assim que o Brasil e a região sudeste venham a sofrer de
escassez de água.
Zuenir
Ventura, em O Globo de hoje, se ocupa
dessa questão, na crônica ‘Um Tema Esquecido’.
Essa desatenção ao problema se reflete na própria omissão de qualquer referência
pelos principais candidatos.
Faz tempo que
São Paulo sofre com a estiagem no
Sistema Cantareira. Essa falta d’água obriga ao racionamento, com todos os seus
inconvenientes.
Por causa
disso, como São Paulo e a bacía do Paraíba é partícipe no abastecimento hídrico
do Rio de Janeiro, já se antecipa para o ano próximo a má notícia de que haverá
menos água no Rio, com as previsíveis consequências.
No passado, o
Rio de Janeiro já sofreu de falta d’água, que era particularmente sentida entre
Copacabana e Ipanema. Entre os anos cinquenta e sessenta, esta escassez foi
atendida pela adutora do Guandu. Desde então, não houve grandes obras, e por
isso esse problema pode voltar.
Com o
aquecimento global, se a extensão de gelo tende a diminuir, com a consequente
elevação do nível dos oceanos (sem falar das geleiras do Himalaia), há muitas
consequências ruins para as áreas ribeirinhas. Países estão destinados a
desaparecer como as Ilhas Maldivas, sem falar de outros, que terão de recorrer
a muito engenho e arte, como v.g. os Países Baixos.
Esta é uma
vertente da questão. As casas à beira mar deixarão de ser interessantes no sentido
normal para, em certos casos, se tornarem interessantes na acepção que esse
termo tem para os chineses.
As gerações
futuras imprecarão contra a desídia e a negligência de seus antepassados – no
caso nós – por não termos atuado com o
empenho e a diligência que alguns países europeus têm demonstrado.
Para quem lê
e se interessa por quanto o bicho homem possa ser nocivo como principal agente
do aquecimento global, é uma estória assaz triste e melancólica, eis que as
conferências de alto nível hierárquico (mas de baixo nível de eficiência no
combate ao efeito estufa) se assinalam por fracassos consistentes, resultado da
falta de empenho de chefes de governo. Copenhague, por exemplo, foi uma delas,
em que tanto Barack Obama, quanto os então líderes chineses não saíram bem na
foto.
Se os
Estados Unidos e a República Popular da China tivessem tanta consciência
ecológica, quanto muitos dos líderes europeus têm demonstrado, decerto
estaríamos em melhor situação. No que nos diz respeito, com a eleição de Marina
o Brasil disporia de quem no mais alto nível cuidaria de melhor defesa do nosso
maior recurso natural - a hiléa amazônica. É devido a um alto nível de
desmatamento naquela região que o fator pluviométrico nos tem aprontado tantas
falsetas.
Em matéria
de estupidez ambiental – se permitem o termo – a desatenção com as matas
ciliares poderia ser coibida. Ao retirar, essas matas que margeiam o litoral
dos rios, os agricultores e eventuais moradores, seja pela ignorância, seja
pela burrice retiram as defesas de suas terras. Daí as inundações calamitosas
que Santa Catarina sofre, por ter a população da área abatido o anteparo
natural contra as inundações fluviais. Outro exemplo dessa negligência está na
área de Campos de Goytacazes. O rio Imbé vem da serra, mesmo em seu período de
cheia, não invade, em geral, as margens, pela força da corrente, que se projeta
para os baixios da área costeira, na Lagoa Feia. Sem embargo, por estarem as
margens do rio na planície litorânea por inteiro desmatadas – não há sombra da
antiga vegetação ciliar – os moradores da região têm amiúde de ver-se com
grandes enchentes, que lhes ocasionam muito prejuízo. Se tivessem cuidado de
manter a proteção natural dos espaços ribeirinhos, sofreriam muito menos as
suas terras e propriedades com as águas fluviais...
O
ambientalismo é uma maneira inteligente de preservar as respectivas culturas.
Por outro lado, nas cidades, deveria existir consciência ecológica. É comum
ver-se porteiros e serventes de prédio utilizarem mangueiras de pressão para a
limpeza das calçadas e dos pátios. É uma atividade que dada a escassez do
precioso líquido é tão estúpida, quanto criminosa.
Até o
presente, a autoridade pública municipal não demonstra maior interesse nesse
campo, quando deveria ter. É lamentável
que não exista legislação a respeito, impondo multas pesadas aos condomínios
que praticam tal tipo de limpeza. É mostra sem dúvida de falta de consciência
ambiental, e a sua gravidade – pelo desperdício que ocasiona – deveria motivar
medidas pontuais das autoridades competentes.
A
consciência ecológica começa também pelo bolso
do infrator.
( Fonte: O Globo )
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