quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Fim de Reinado ?

                                  

          O velho Lula vai retirando todos os truques da sacola, a sua Candidata se esforça na estridência dos ataques, a vasta orquestra auxiliar de ministros, altos e até baixos funcionários, parlamentares e toda a tropa petista se empenha, por seu turno, na monocórdia cantilena de loas à Chefa em perigo.

           Mas se falam bem da Presidenta, também despejam em contrapartida toda sorte de avaliações negativas sobre a rival. Assim, no amplo estuário da propaganda obrigatória na tevê se desfiam mais qualidades e previstas bondades  no longo, interminável discurso das muitas decantadas qualidades do Primeiro Poste, colocado em 2010 pelo Líder Máximo.

           E não param aí as fotos sob encomenda, as tomadas de grandes obras inacabadas - como a transposição do Velho Chico – e de tudo o que de pretexto possa ser arrumado à guisa de cenário para ulteriores grandiosos projetos.

           A par disso, a campanha da fenomenal  prossegue com o entusiasmo sob encomenda – em tomadas e fotos que nos parecem evocativas do antigo poderio de outro partido hegemônico, o famoso PRI (partido revolucionário institucional) que apesar da aparente contradição resistiu no México por muitas décadas.

          Nosso torneiro mecânico, pensando ter soldado no Partido dos Trabalhadores uma empresa duradoura, ora vê com preocupação que o seu legado estaria ameaçado. Por isso se desdobra, em empenho comovente, na tentativa de salvar a sua pupila em perigo.

         No seu entender, doze anos é pouco para a obra de sobraçar o Estado e de lançar fundamentos para um reinado, com mais doze pelo menos.

         Para tanto, se prodiga e se entrega com louvável denodo na empresa de salvar a nave em perigo.

         Mas como seria isso   possível, se tudo tem sido feito com afinco para reforçar as estruturas e com o dinheiro do Tesouro montar uma nave que se proponha realizar a boa obra, se por boa obra se entende, é certo, a consolidação do domínio do Partido dos Trabalhadores ?

          Essa interrogação é dura para o tarimbado político. Como isto é possível, dada a sua dedicação ? Não se limita, por certo, aos canais oficiais o apoio e o reforço à candidatura de Dilma Rousseff.  Também se conta com as intervenções de intelectuais e profissionais do amplo espectro petista – no caso com a vantagem adicional de as suas opiniões não serem rotuladas com carimbos oficiais e aquela incômoda suspeita que cerca as várias peças da engrenagem oficialista.

          Com as múltiplas exigências, e o desafio - que não obstante tantos rios que se despejam no estuário conhecido  - insolitamente não desaparece, mas dá a impressão de aumentar a cada ataque, a cada dito ferino, a cada investida mesmo abaixo da linha d’água?

           E não é que Lula tudo fizera para prevenir e evitar essa desconfortável situação? E, sem embargo, para sua surpresa, a fatalidade perversa lhe armou uma rasteira daquelas terríveis, daquelas que irrompem não se sabe bem de onde, e que, num piscar de olhos,  mudam tudo!

             Sem querer, a grande aliança serve para pouco e os acordos que acreditava seguros ora se lhe afiguram de pouca valia.

             O problema do poder é que sói cegar os poderosos. O que muita vez está escrito em letras garrafais nas ruas, logradouros e em manifestações, eles o tomam como criaturas similares àquelas que não só lidam, mas constroem no dia a dia. A História, esse amontoado de fatos sem sentido, na verdade fala para quem deseja e pode ouvir. Em geral, os palácios e o luxo embotam a percepção daqueles que antes, quando na planície, assombravam pela esperta visão.

              Lula e sua criatura se empenham em desconstruir o fenômeno Marina. Na verdade, a realidade lhes escapa.

              Em sua coluna de O Globo, José Casado nos presta um serviço, que pode ser de serventia para o líder máximo do petismo. Lula e Dilma, criador e criatura “tentam dissimular um fato relevante que emergiu com as manifestações de rua do ano passado, ganhou corpo nesta campanha e, em boa medida, independe do resultado das urnas dentro de quatro semanas: sobram indícios do fim de um ciclo na política brasileira.”

               É por isso que, a despeito de todo o denodado esforço oficialista, as tentativas de mudar as condições da atual eleição  resultam em nada. O grande Chefe não quer ver – nem a sua pupila. O sentir do Povo, quando entranhado, vira força da Natureza. Não há o que fazer.

 

( Fontes:  O  Globo,  Folha de S. Paulo )  

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