O velho Lula vai retirando todos
os truques da sacola, a sua Candidata se esforça na estridência dos ataques, a
vasta orquestra auxiliar de ministros, altos e até baixos funcionários,
parlamentares e toda a tropa petista se empenha, por seu turno, na monocórdia
cantilena de loas à Chefa em perigo.
Mas se
falam bem da Presidenta, também despejam em contrapartida toda sorte de
avaliações negativas sobre a rival. Assim, no amplo estuário da propaganda
obrigatória na tevê se desfiam mais qualidades e previstas bondades no longo, interminável discurso das muitas
decantadas qualidades do Primeiro Poste, colocado em 2010 pelo Líder Máximo.
E não param
aí as fotos sob encomenda, as tomadas de grandes obras inacabadas - como a
transposição do Velho Chico – e de tudo o que de pretexto possa ser arrumado à
guisa de cenário para ulteriores grandiosos projetos.
A par disso,
a campanha da fenomenal prossegue com o entusiasmo sob encomenda –
em tomadas e fotos que nos parecem evocativas do antigo poderio de outro
partido hegemônico, o famoso PRI (partido revolucionário institucional) que
apesar da aparente contradição resistiu no México por muitas décadas.
Nosso
torneiro mecânico, pensando ter soldado no Partido dos Trabalhadores uma
empresa duradoura, ora vê com preocupação que o seu legado estaria ameaçado. Por
isso se desdobra, em empenho comovente, na tentativa de salvar a sua pupila em
perigo.
No seu
entender, doze anos é pouco para a obra de sobraçar o Estado e de lançar
fundamentos para um reinado, com mais doze pelo menos.
Para tanto,
se prodiga e se entrega com louvável denodo na empresa de salvar a nave em
perigo.
Mas como seria
isso possível, se tudo tem sido feito com afinco
para reforçar as estruturas e com o dinheiro do Tesouro montar uma nave que se
proponha realizar a boa obra, se por boa obra se entende, é certo, a
consolidação do domínio do Partido dos Trabalhadores ?
Essa
interrogação é dura para o tarimbado político. Como isto é possível, dada a sua
dedicação ? Não se limita, por certo, aos canais oficiais o apoio e o reforço à
candidatura de Dilma Rousseff. Também se
conta com as intervenções de intelectuais e profissionais do amplo espectro
petista – no caso com a vantagem adicional de as suas opiniões não serem rotuladas
com carimbos oficiais e aquela incômoda suspeita que cerca as várias peças da
engrenagem oficialista.
Com as
múltiplas exigências, e o desafio - que não obstante tantos rios que se
despejam no estuário conhecido -
insolitamente não desaparece, mas dá a impressão de aumentar a cada ataque, a
cada dito ferino, a cada investida mesmo abaixo da linha d’água?
E não é que
Lula tudo fizera para prevenir e evitar essa desconfortável situação? E, sem
embargo, para sua surpresa, a fatalidade perversa lhe armou uma rasteira
daquelas terríveis, daquelas que irrompem não se sabe bem de onde, e que, num
piscar de olhos, mudam tudo!
Sem
querer, a grande aliança serve para pouco e os acordos que acreditava seguros
ora se lhe afiguram de pouca valia.
O
problema do poder é que sói cegar os poderosos. O que muita vez está escrito em
letras garrafais nas ruas, logradouros e em manifestações, eles o tomam como
criaturas similares àquelas que não só lidam, mas constroem no dia a dia. A
História, esse amontoado de fatos sem sentido, na verdade fala para quem deseja
e pode ouvir. Em geral, os palácios e o luxo embotam a percepção daqueles que antes,
quando na planície, assombravam pela esperta visão.
Lula e
sua criatura se empenham em desconstruir o fenômeno Marina. Na verdade, a
realidade lhes escapa.
Em sua
coluna de O Globo, José Casado
nos presta um serviço, que pode ser de serventia para o líder máximo do petismo.
Lula e Dilma, criador e criatura “tentam dissimular um fato relevante que
emergiu com as manifestações de rua do ano passado, ganhou corpo nesta campanha
e, em boa medida, independe do resultado das urnas dentro de quatro semanas:
sobram indícios do fim de um ciclo na política brasileira.”
É por isso que, a despeito de todo o denodado
esforço oficialista, as tentativas de mudar as condições da atual eleição resultam em nada. O grande Chefe não quer ver –
nem a sua pupila. O sentir do Povo, quando entranhado, vira força da Natureza.
Não há o que fazer.
( Fontes: O
Globo, Folha de S. Paulo )
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