A candidatura
de Marina Silva surgiu no movimento do passe-livre, em junho de 2013. Pouco
importa que naquele momento histórico tal postulação fosse sequer mencionada.
Então, a
juventude paulistana começava a passar o Brasil a limpo. E essa terra grande da
Santa Cruz, a sua maneira, entendeu a mensagem. Pois o fogo, que revive as
searas e as liberta do restolho, se espalhou por todos esses brasis, nele
carregando os esquecidos princípios que o longo domínio da corrupção e da
partidocracia fizera dormitar por muitos anos de cinismo.
Em todas as
revoluções – e ai daqueles que persistirem em aferrar-se ao passado, pensando
trazê-lo de volta, travestido em roupas de ocasião – encontraremos sempre os
que ou as negam de pé junto, ou acreditam possível, a despeito de o que são,
pular na boléia alheia e instrumentalizá-la para os próprios fins.
Marina traz
na sua expressão corporal o reflexo inequívoco de suas ideias que são também os
respectivos ideais, que compartilha com um largo movimento.
O Brasil está
cansado da mentira institucional, e de suas múltiplas criaturas. Tomemos a
corrupção, por exemplo, que hoje se alastra por toda a parte, mostrando a sua
carantonha nos poderes da república e no afinco com que desvia da pesada carga
tributária, através de miríades de ralos, o dinheiro público que nos falta nas
estradas, nas escolas, nos hospitais e onde quer que a sua ganância ponha as
vistas cúpidas.
É a velha
estória da corrupção alçada na curul do palácio, mostrando no riso largo a
soberba de longas carreiras feitas de sombras e enganos.
Marina
surgiu na presente eleição pela porta secundária da vice-candidatura. Não foi
por guiar-se pela ávida ambição, porque concordou em ser a segunda da chapa de Eduardo Campos, candidato
mais jovem, que vindo de bem-sucedido governo de estado postulava, por
primeira vez, a presidência.
Todos
sabemos como a candidatura presidencial fora negada à Marina, pela porta de
novo partido ambientalista. Em tal ocasião, se assinale, para sua honra, a
postura isolada do Ministro Gilmar Mendes.
Sem
embargo, as artimanhas de um poder que se alevanta arrogante e astuto, a
fatalidade as golpearia, com força súbita e decisiva.
Porque as
páginas do destino se abrem caprichosas, a desfazer artimanhas e empecilhos de
quem se acredita uma espécie de deus ex-machina, como se, nesse latifúndio,
pudesse dispor da sorte de um Povo.
A caminhada
de Marina Silva não será fácil. Se, para ela, isto não é novidade – a sua
expressão corporal, a ascética magreza – eis que não é dádiva, mas resultado de
longa e árdua trajetória, no semblante e na aparência é um retrato de Brasil,
confinado e escanteado por muito, e que pede, no gesto a firme delicadeza,
passagem.
Não
surpreende que o status quo esteja
assustado, e que o Líder Máximo se empenhe de todo modo para vencê-la. Pois se
a sutileza não é o seu forte, não medirá esforço ou denodo, e pretende valer-se
de todos os petrechos de um poder longamente construído, que não ignora,
contudo, ser o mando o sangue que lhe corre nas veias. A sua pujança será
também a própria fraqueza, pois a sua condição está no paradoxo do vencer ou
vencer.
Como
os anos lhe roubaram a autenticidade, a
sua trajetória não permite reveses de tal natureza.
Marina
traz na singeleza a própria força. Não pleiteia a reeleição – esse câncer que
corrói o tecido político do Brasil – e está pronta, como os antigos Cônsules
romanos a cumprir um mandato simples, e depois retirar-se.
O
princípio é mais importante do que a ambição pessoal.
Nós
brasileiros, devemos saudá-la e apoiá-la. Por mais que o poder encastelado se
lance contra ela, negando-lhe espaços, enquanto se reserva os largos domínios
dos seus cantos de sereia, a fé e a
firmeza estão na sua natureza.
Essa
história é antiga. O poder acaba
acreditando na própria húbris, Nem as mentiras do palácio são verdade, nem o
Povo, de que Marina é a expressão, será tolo ou ingênuo.
É nas
veredas e vielas da vida de todo dia, que ele convive com a verdade. A ficção
representa um retrato oportunista dessa realidade, que, ironicamente, é pago
com o dinheiro do Povo.
Para
mim, é mais do que tempo de pôr um termo a essa longa peça que nos é pregada.
E, eleitor
amigo, a saída é simples: basta o voto consciente que, pasmem, tem feito
maravilhas através da História.
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