Segundo todas as aparências o
Presidente Vladimir Putin julga possível seguir adiante, como se nada fora.
Por um
lado, incentiva a reunião em Minsk, na Bielo-Rússia, em que procura desenvolver
uma via diplomática para o alegado contencioso. No entanto, mesmo nesse âmbito
propõe negociações entre as partes – Kiev e as milícias pró-Rússia, para a
concessão àquelas províncias de ‘statehood’. O termo inglês é propositalmente
ambíguo, pois não esclarece se se trata de maior autonomia provincial, ou de um
novo Estado naquela área.
Por ora, o
presidente Petro Poroshenko tem empregado uma linguagem elíptica, em uma
tentativa de não carregar nas tintas ou talvez, se vem aferrando a uma tática
negacionista da realidade, como se o fato de não reconhece-la contribuiria a
afastá-la.
No
entanto, essa postura reflete uma atitude de fraqueza. A linguagem diplomática,
se é concebida para não acirrar os ânimos, não deve ser usada contra a
realidade, o que na prática a equivaleria a uma postura de avestruz.
Para a
Chanceler Angela Merkel – que tem sido frequente interlocutora do presidente russo – o que
está acontecendo naquele país “não é um conflito dentro da Ucrânia, mas um
conflito entre a Rússia e a Ucrânia”.
Por
conseguinte, para a Chanceler da Alemanha, não é uma opção aceitar o
comportamento da Rússia.
Nesse
sentido, o governo alemão junto com Bruxelas estuda novas sanções pontuais para
a Federação Russa. Isso será feito, segundo afiançou, ainda que as ulteriores sanções
europeias terão impacto sobre as companhias alemãs que exportam para a Rússia.
Empregando linguagem mais forte – e que poderia ser imitada do outro
lado do Atlântico – a Chanceler observou que também existe impacto quando
alguém se permite mexer com as fronteiras na Europa e atacar outros países com
suas tropas.
É uma descrição
do comportamento fora-da-lei de Vladimir Putin. Tem praticado com intensidade
crescente – desde a cínica anexação da Crimeia – uma política de gato e rato no
que tange às relações entre Moscou e Kiev. Depois da queda de
Yanukovych e a retomada das negociações com a U.E., Putin vem incentivando a
desestabilização da Ucrânia oriental. Para tanto, através da infiltração pelas
porosas fronteiras orientais, foram criados ou apoiados grupos separatistas
pró-Rússia. A região visada, que é na maioria de fala russa, constitui o
principal centro siderúrgico da Ucrânia (bacia de Donetsk).
Foram
tentados, como no modelo da Crimeia, referendos para legalizar a cessão branca
da região à Rússia. Como por falta de apoio local – continua majoritária,
segundo as aparências, a aspiração de continuar na Ucrânia, posto que com mais
autonomia – essas consultas pela sua ilegalidade e pela falta de um mínimo de
respeito à livre expressão das populações envolvidas perderam qualquer
credibilidade.
O
autoritarismo de Putin, se, por ora, lhe rendeu a anexação da Crimeia, em
ambiente de flagrante desrespeito a qualquer liberdade de expressar o dissenso –
e valha como parêntese que a diplomacia de Dona Dilma forneceu um triste
espetáculo de o Brasil subscrever uma flagrante infração ao direito
internacional – tem, por outro lado, contribuído para a volta em caixões para o
solo de Mãe Rússia de muitos voluntários.
Esse tipo de retorno – mesmo para
um governante autoritário e admirador do ditador italiano Benito Mussolini –
pode não ajudar-lhe em termos de avaliação de opinião pública. Decerto não é nada
popular engajar soldados e aventureiros em missões estrangeiras, para acabar
deixando famílias acéfalas, sobretudo se se trata de uma empresa imperialista
(não é de crer-se que a Rússia careça de mais terras). Por outro lado, essa
aventura imperialista, com desenvoltura do século XIX, de gospodin Putin nos
traz um fait-divers[1] : Lev Shlosberg,
legislador do distrito de Pskov, no oeste russo, sofreu sevícias nesta última
sexta-feira por causa de sua denúncia na mídia quanto a mortes de paraquedistas
russos empenhados na campanha da Ucrânia. O grupo que o atacou, no entanto, foi
de desconhecidos, que não tiveram sequer a fineza de deixar o cartão...
Compreende-se, outrossim, que o
novel Presidente ucraniano esteja ficando pessimista quanto às perspectivas
desse contencioso. Na cidade de
Bruxelas, após reunião com líderes europeus, Poroshenko declarou que “Estamos
muito perto de um ponto sem volta. O
ponto sem volta é a guerra total, o que já aconteceu no território controlado
pelos separatistas”.
Até o
presente, no entanto, o que se observa é a desenvolta invasão das fronteiras
ucranianas nas áreas sul e leste. Os blindados russos estão entrando para desafogar os seus aliados
rebeldes separatistas. Assim, as forças da Ucrânia tiveram de recuar do
aeroporto de Luhansk, pelo ingresso de um batalhão de tanques russos.
Os embates
tem crescido em volume e importância: quatro batalhões blindados, com
quatrocentos homens cada um invadiram a Ucrânia. As forças locais destruíram
sete tanques.
Em visita
a Kiev, o Senador americano Robert Menendez
(Dem.-NJ) sublinhou a necessidade de fornecer armamento defensivo para
Kiev. O exército ucraniano está mal-equipado, não dispondo inclusive de aparelhos
de visão noturna.
(Fontes:
Folha de S. Paulo, The New York Times )
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