Neste primeiro momento, em que o
bastão passa para Marina Silva, não há de provocar espécie que haja necessidade de
fazer reajustes na plataforma de campanha. Posto que Marina tenha frisado o seu
empenho em preservar as bandeiras do candidato do PSB, Eduardo Campos, vitimado pela fatalidade, há de compreender-se que
com a passagem da responsabilidade, modificações são indispensáveis e até mesmo
naturais.
Marina, se
enfrenta resistências no PSB, tem dosado firmeza em certos aspectos, e em
outros flexibilidade para assegurar transição que corresponda às respectivas
prioridades.
Como já
referido, o primeiro desentendimento da nova chapa do PSB aconteceu menos de 24
horas após o anúncio oficial da candidatura. O primeiro-secretário do partido, Carlos Siqueira, abandonou a coordenação
geral da campanha, e saíu atacando
Marina por supostamente tentar mandar no partido.
À noite, o
PSB informou que Siqueira será substituído pela deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP). Também
sai o coordenador de mobilização e articulação, Milton Coelho, que deixará,
segundo informou, o posto na campanha.
Dada a
importância da coordenação geral, é de todo o interesse que quem dela esteja
encarregado reflita a posição da candidata. Faltou serenidade a Siqueira,
inclusive por tratar Marina como “hospedeira” da sigla.
Nesse
sentido, a deputada federal Erundina, pelo que já demonstrou, semelha a pessoa
adequada para incumbir-se da tarefa. Marina, Beto Albuquerque, candidato a vice, e o presidente do partido, Roberto Amaral minimizaram o episódio
envolvendo Siqueira, afirmando que o importante é manter o legado de Campos, e
que o PSB e o grupo de Marina, organizado em torno da Rede Sustentabilidade, estão unidos.
Segundo O Globo, a saída de Siqueira refletiu na
verdade, como o referiram dirigentes do PSB, o ato final de longo processo de
desgastes entre o coordenador e a cúpula da Rede. Enquanto Eduardo estava vivo,
os conflitos foram sempre esvaziados por ele. Com a morte do presidenciável e a
tensão dos dias subsequentes, Siqueira terá explodido emocionalmente.
A cúpula
do PSB, conforme expressou Beto Albuquerque, preferiu minimizar a
desinteligência. O candidato a vice-presidente sublinhou que “o que está em
jogo é muito maior que um fato ou outro, uma ou outra pessoa. O que está em
jogo é mudar o Brasil.”
Segundo anuncia Maria Alice Setubal, a Neca,
coordenadora do programa de governo de Marina, ela abraçou compromisso assumido por Eduardo
Campos, quanto à autonomia do Banco Central. Reafirmará, portanto, os
compromissos de Eduardo quanto a conceder autonomia formal, por lei, ao Banco
Central. Já cresceram, por conta de tais compromissos, as ofertas de doações.
Embora
não fosse intenção sua, Marina sinalizou
este empenho, que constava do programa de seu companheiro de chapa. Junto com o compromisso de inflação baixa.
Consoante Neca, a meta de inflação no governo de Marina ficará em 4,5%, mas
será perseguida uma política que permita atingir 3% a partir de 2019.
Maria Alice Setubal prevê que ao
longo da campanha, mais economistas ‘estarão se aproximando’ e terão mais
perfil de “operadores” do mercado. No seu entender, tal servirá para
compensar a característica mais acadêmica da maioria dos atuais conselheiros.
Com a
saída de Siqueira e de outros dois coordenadores vindos do PSB, o provável é
que o pessoal mais chegado à Marina, da Rede Sustentabilidade, tenha mais
presença no entorno da candidata. Nesse contexto, o assessor de maior
relevância é o Deputado Walter Feldman.
Maria
Alice Setúbal faz parte do círculo mais estreito de assessores. A sua
responsabilidade se centra na área econômico-financeira. Segundo confidencia,
conversa com a candidata “quase todo dia”. Nesse contexto, Neca, herdeira do
Itaú, o programa econômico-financeiro de
Marina “destaca fortemente a reforma tributária, a muito grande
responsabilidade fiscal, de que Eduardo falava, e será mantida por Marina".
A análise
da assessora econômica de Marina é assaz crítica quanto a Dilma Rousseff : “Hoje
temos uma presidente cujo perfil é de gestão, pragmático, racional. Talvez o
oposto de Marina. E o resultado que nós temos é bastante insatisfatório. Toda essa fala da Dilma gestora se desfez ao
longo de quatro anos. O mercado visualizando as pessoas que estão ao lado (de
Marina) vai ter muito mais segurança. Ela já tem vários economistas. Terá
outras, mais operadoras.”
Instada
a apontar onde errou o Governo Dilma, a coordenadora do programa
econômico-financeiro de Marina Silva, afirmou: “O principal problema do governo Dilma é a questão política. Ela tem uma incapacidade de ouvir. Tem
discurso absolutamente racional, de uma gerente, gestora. É bom ser gestora,
mas tem que ter liderança. Acho que ela não tem essa capacidade política. Ela desagrega. (...) Acho que a Dilma reproduz uma liderança
masculina. A Dilma é aquela pessoa dura, que bate na mesa, que briga, que fala
que ‘eu vou fazer, eu vou acontecer, eu sei!’ Isso é, no estereótipo do coronelismo brasileiro, do político
tradicional que vai resolver tudo sozinho.”
( Fontes: O
Globo, Folha de S. Paulo )
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