segunda-feira, 25 de agosto de 2014

A Gerentona Dilma

                                            
 

          Lula, que carecia de apoio administrativo para governar, apresentou  Dilma Rousseff como espécie de primeiro ministro, fazendo passar as suas funções de chefe de gabinete à conta de gerentona das diversas pastas.

          Que o líder do Partido dos Trabalhadores careceu de ajuda nesse capítulo, não é segredo para ninguém. Hão de recordar-se que no seu discurso de despedida das funções de Chefe da Casa Civil, José Dirceu, já ferido pelo escândalo do Mensalão, timbrou em lembrar o “meu Governo”, assim mesmo no possessivo, como se Lula fosse o chefe de estado e ele, enquanto Primeiro Ministro, ‘o chefe do Governo’.

          Ao cuidar da própria sucessão, uma vez abandonada a veleidade inconstitucional de pleitear um terceiro mandato,  Lula resolveu apresentar ao eleitorado o seu Primeiro Poste.

         Malgrado expoentes partidários hajam tentado dissuadi-lo – dos pormenores da indicação a fonte é Ricardo Noblat – o então presidente fez ouvidos de mercador e persistiu no respectivo propósito, elevando na prática o trabalho de Dilma Rousseff à conta de primeira ministra,  como se a sua chefa da Casa Civil fosse a gerentona do Brasil.

         Que desígnios tinha o líder do PT em lograr que ‘a mulher do Lula’ se tornasse a primeira presidente do Brasil – mas não a primeira chefe de Estado, que o apanágio, embora a título interino, cabe à  Princesa Isabel – só nos resta especular. E apenas o eleitorado brasileiro ratificaria uma tal escolha, preterindo a quem dispunha de folha corrida e experiência política muito superior à indicação presidencial.

         Os resultados desse pistolão presidencial estão aí. A suposta ‘gerentona’ de Lula mostrou a sua capacidade de enfrentar problemas quando, em plena crise das passeatas de junho de 2013, ela correu para São Paulo, na busca de indicações que lhe faltavam  do Líder Máximo, para orientar-se no que fazer, para enfrentar o desafio do generalizado descontentamento.

          Também em termos de economia e finanças, a ficha corrida deixa a desejar e muito. Trouxe, de forma irresponsável, a inflação de volta, atacando, inclusive, os fundamentos do Plano Real, tratando essa conquista nacional como se fosse obra de partido. Nesse contexto infeliz, também se insere a investida contra a Lei de Responsabilidade Fiscal.

           Até  dá para entender. Quem trata as finanças públicas com as dúbias poções da contabilidade fiscal criativa, e quem, com as suas erráticas iniciativas, lança a confusão no empresariado e condena a economia, sob a gerência de medíocres, a uma sucessão de taxas que nos colocam na área cinzenta dos prognósticos.

            Dilma pensa saber tudo e a sua falta de sentido crítico se reflete em todas as áreas da Administração. Montando um ministério que, apesar de nulidade nos inchados números, representa um peso inútil para o Erário, enquanto se pensa assegurar maioria no Congresso.

            Mesmo em pastas de interesse nacional – e aqui falo de carreiras de Estado – Dilma de forma mais do que questionável corta as dotações de ministérios como o Itamaraty – V. denúncia de Alexandre Vidal  Porto e o meu blog Colcha de Retalhos B 33  - a ponto de lhe cortar drasticamente as verbas até o ridículo 0,16% do Orçamento da União. Não é só pendurar contas das missões diplomáticas, mas também afeta a participação em reuniões internacionais de nosso interesse, além do pagamento das contribuições compulsórias das organizações internacionais, com as da família das Nações Unidas. Ao reduzir o Itamaraty a 0,45% do orçamento a Presidenta se transforma na coveira de nossa política externa.

             Antes da surpresa dos cartórios do ABC paulista, e a negação do registro pelo TSE, já assessoravam Marina grandes nomes, e não só das finanças e da economia. Os desígnios insondáveis da Providência divina cuidaram de trazê-la de novo à primeira linha da política nacional.

             Marina não pretende tudo saber, nem dar opinião sobre tudo. Se eleita, não postula a reeleição. Já é um princípio saudável e ainda mais se contribuir para nos livrar do flagelo da reeleição no Brasil que ora multiplica a corrupção em todos os níveis da administração. 

             O bom político não sabe de tudo. Deixa as intricâncias da administração e das finanças ao parecer da gente do ramo. Porque a conhecem, e sabem do próprio discernimento a ela acorrem pessoas com experiência nos respectivos campos, que com a própria fé de ofício, competência e honestidade oferecem a eventual Presidente conselhos avisados, que estão sujeitos ao crivo do discernimento da autoridade máxima.

             Não carecemos de gerentonas e similares. Precisamos de autoridades políticas que ouçam os pareceres de seus assessores e decidam em consequência. Sem gritos nem improvisações, por favor.

 

( Fontes: Folha de S. Paulo, O Globo )


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