Crise da Ucrânia
O enorme comboio enviado pela Federação Russa
para as províncias orientais da Ucrânia, em alegada operação de manutenção da
paz, foi detido na fronteira pelas autoridades ucranianas.
A revista
do interior dos caminhões apresentou
pontos tendentes a fomentar dúvidas e interrogações, eis que as carretas
estavam vazias. As incertezas colocadas pela expedição de um cortejo de tal
porte só tenderão a aumentar diante do estranho objetivo de ter veículos que
não possuam qualquer carga.
A
suspicácia tende a surgir quanto ao real escopo desse exercício. Não é decerto
para transportar brisa que esse exercício está sendo realizado.
Por
outro lado, agrava-se a situação em Donetsk, que vem sendo objeto de
bombardeios de parte do poder central de Kiev.
Pergunta-se qual o objetivo de que se sustente a chamada República de
Donetsk, se o maior controle internacional e as danosas consequências para a
Rússia das novas sanções do Ocidente contribuem para a queda do movimento
separatista?
Ainda no
extremo oriente ucraniano, 23 blindados de transporte do Exército russo
atravessaram a fronteira em estrada de terra perto da cidade ucraniana de
Izvaryne (ao sul de Lugansk). O presidente Poroshenko declara que ‘parte
significativa’ da coluna foi destruída ao atravessar a fronteira. O Kremlin nega a procedência do anúncio, e
replica que é um pretexto para impedir a chegada do comboio humanitário.
Por sua
vez, na antiga província ucraniana da Crimeia, anexada em março deste ano pela
Federação Russa, se reforça a base militar.
Putin visitou a Crimeia
nesta semana. Em discurso para uma assembleia de notáveis – ministros russos e
membros do novel parlamento da Crimeia – o presidente adotou tom conciliatório
: “ precisamos nos mobilizar para um duro trabalho em nome da Rússia, mas não
para a guerra ou para qualquer tipo de confronto”. A conferir.
Iraque. Al-Maliki anuncia saída.
Após
decerto verificar o próprio extremo isolamento político, consequência de sua
coerente tentativa de um governo xiita exclusivo, o Primeiro-Ministro Nuri al-Maliki veio afinal
a público declarar que não tentará o terceiro mandato. Depois de sua forte
resistência à ser sucedido pelo igualmente xiita Haider al-Abadi, cuja nomeação
pelo curdo Fuad Masum tentou contra-arrestar, seja por procurar
instrumentalizar um golpe militar, seja pelo intento de questionar em juízo a constitucionalidade
da iniciativa de Masum, al-Maliki parece ter desistido.
Dada a personalidade de Maliki, e o seu óbvio gosto pelo poder, gosto
esse que não cuidou de fortalecer com uma política inteligente e inclusiva,
preferindo justamente o contrário, com o fomento do ódio e da exclusão da
comunidade sunita, não tem razão esse homem com comovente inclinação para a
ditadura, quando se julga vítima de um conjunto desfavorável de circunstâncias.
Se tivesse o dom – importante para um político – da introspecção e da
auto-crítica, o Premier al-Maliki teria que convir que errou ao perseguir a
comunidade sunita, e agir sempre como se ela estivesse fora do arco
constitucional.
Convém, no entanto, em se tratando de quem é objeto de análise, que
Haider al-Abadi dispõe de trinta dias para as consultas e a consecução do apoio
necessário para a ratificação da indicação do Presidente Masum.
E é aí que mora o perigo. Conhecendo al-Maliki e seus precedentes, só um
ingênuo ou um néscio abaixaria a guarda e consideraria ter assegurada a
confirmação como Primeiro Ministro.
É a prova que Haider al-Abadi tem ainda de realizar, para que a sua
nomeação, de potencial se transforme em efetiva.
Nobel da Matemática para Artur Ávila
A criação
desta medalha partiu do matemático canadense John Charles Fields. Datado de
1936, o prêmio visa a reparar omissão de Alfred Nobel, que excluíra de seu
legado prêmios para a matemática e a biologia, por ele vistas como instrumentos
da física e da medicina. A medalha Fields é concedida em
quadriênios, a quatro ganhadores, com idade inferior a quarenta anos. Tem a
efígie de Arquimedes, grego de Siracusa do século III a.C. (287-211 a.C),
considerado o maior matemático de todos os tempos. No saque de Siracusa,
absorto em algum problema matemático, Arquimedes seria abatido por soldado de
Claudius Marcellus, o comandante romano que saqueava a cidade. Sem ser ocupação
perigosa, vê-se que em certas situações extremas a matemática, pelas distrações
que provoca, pode até causar a morte...
O prêmio,
fixado em US$13,700 (dada a vultosa soma
atribuída ao Nobel, aqui não há comparação) se destina a autores de descobertas
que repercutiram fortemente na comunidade científica pela originalidade e o poder de abrir novos caminhos para o
saber.
O carioca Artur
Ávila – reside no Leblon – tem 35 anos de idade , e “foi escolhido pelo
conjunto de obra, um sinal de maturidade e vigor criativo”, na explicação dada
pelo matemático francês Étienne Ghys, de 59 anos, integrante da comissão que
elegeu os atuais medalhistas.
Ávila
escolheu como especialidade uma das áreas mais complexas – os sistemas dinâmicos.
Nesse campo, o matemático tenta encontrar ordem
no caos, ou descobrir padrões em certos fenômenos que, à primeira vista, semelham completamente
aleatórios.
Julho de 1914
Não poderia
deixar de recomendar a leitura do livro de Sean
McMeekin July 1914 – Countdown to War,
publicado por Basic Books, New York, 2013.
O
relativamente jovem historiador – nasceu em 1974, tem, portanto, ou fará em breve, quarenta
anos – estende a sua bibliografia a muito além de Luigi Albertini, o cronista italiano
fundamental para as causas da Grande Guerra.
Preciso no
detalhe e nas avaliações de responsabilidade, McMeekin, pela sua isenção e
abrangência, não só nos ilumina a senda na selva das causas e das potências
responsáveis por esse flagelo do século XX – e que é o genitor ou o padrasto de
todos os demais do século passado - mas também não é condicionado por
parcialidades nacionais.
Apenas
dois exemplos para quem deseja informar-se com precisão sobre as causas pequenas e grandes da Guerra Mundial de 14 – 18: o chauffeur se
atrapalhou com a mudança do conversível (modelo 1911) Graf und Stift, e por
isso – a dificuldade em engatar uma primeira e não a marcha-à-ré - deu ao assassino Gravilo Princip o tempo de
que carecia para matar a dupla real. No que tange às grandes, a burocrática
incompetência austríaca, a insensatez germânica em passar ao Ministro do
Exterior austro-húngaro Leopold von Berchtold o cheque em branco, as limitações intelectuais do tsar Nicolau II e a
leviandade do Ministro do Exterior Sergei Sazonov, os erros do peso leve
intelectual Guilherme II e do Chanceler Bethmann-Hollweg (com a terminal
burrice do desrespeito à integridade da
Bélgica), a desonestidade intelectual do Presidente da França, Raymond Poincaré
e de seu agente e embaixador (em São Petersburgo), Maurice Paléologue, e por
ultimo, mas não por menos, a ambiguidade, indefinições e má-fé intelectual de Edward
Grey, o Secretário do Exterior de Sua Majestade Britânica.
(Fontes: O Globo, Folha de S. Paulo, The New
York Times; VEJA; July 1914, de Sean
McMeekin)
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