domingo, 17 de agosto de 2014

Colcha de Retalhos B 32


                                         

Crise da Ucrânia

 

           O  enorme comboio enviado pela Federação Russa para as províncias orientais da Ucrânia, em alegada operação de manutenção da paz, foi detido na fronteira pelas autoridades ucranianas.

            A revista do interior dos caminhões apresentou  pontos tendentes a fomentar dúvidas e interrogações, eis que as carretas estavam vazias. As incertezas colocadas pela expedição de um cortejo de tal porte só tenderão a aumentar diante do estranho objetivo de ter veículos que não possuam qualquer carga.

             A suspicácia tende a surgir quanto ao real escopo desse exercício. Não é decerto para transportar brisa que esse exercício está sendo realizado.

              Por outro lado, agrava-se a situação em Donetsk, que vem sendo objeto de bombardeios de parte do poder central de Kiev.

              Pergunta-se qual o objetivo de que se sustente a chamada República de Donetsk, se o maior controle internacional e as danosas consequências para a Rússia das novas sanções do Ocidente contribuem para a queda do movimento separatista?

             Ainda no extremo oriente ucraniano, 23 blindados de transporte do Exército russo atravessaram a fronteira em estrada de terra perto da cidade ucraniana de Izvaryne (ao sul de Lugansk). O presidente Poroshenko declara que ‘parte significativa’ da coluna foi destruída ao atravessar a fronteira. O Kremlin nega a procedência do anúncio, e replica que é um pretexto para impedir a chegada do comboio humanitário.

             Por sua vez, na antiga província ucraniana da Crimeia, anexada em março deste ano pela Federação Russa, se reforça a base militar.  Putin visitou  a Crimeia nesta semana. Em discurso para uma assembleia de notáveis – ministros russos e membros do novel parlamento da Crimeia – o presidente adotou tom conciliatório : “ precisamos nos mobilizar para um duro trabalho em nome da Rússia, mas não para a guerra ou para qualquer tipo de confronto”.   A conferir.

 

Iraque. Al-Maliki anuncia saída.

 

                  Após decerto verificar o próprio extremo isolamento político, consequência de sua coerente tentativa de um governo xiita exclusivo,  o Primeiro-Ministro Nuri al-Maliki veio afinal a público declarar que não tentará o terceiro mandato. Depois de sua forte resistência à ser sucedido pelo igualmente xiita Haider al-Abadi, cuja nomeação pelo curdo Fuad Masum tentou contra-arrestar, seja por procurar instrumentalizar um golpe militar, seja pelo intento de questionar em juízo a constitucionalidade da iniciativa de Masum, al-Maliki parece ter desistido.

                      Dada a personalidade de Maliki, e o seu óbvio gosto pelo poder, gosto esse que não cuidou de fortalecer com uma política inteligente e inclusiva, preferindo justamente o contrário, com o fomento do ódio e da exclusão da comunidade sunita, não tem razão esse homem com comovente inclinação para a ditadura, quando se julga vítima de um conjunto desfavorável de circunstâncias.

                       Se tivesse o dom – importante para um político – da introspecção e da auto-crítica, o Premier al-Maliki teria que convir que errou ao perseguir a comunidade sunita, e agir sempre como se ela estivesse fora do arco constitucional.

                       Convém, no entanto, em se tratando de quem é objeto de análise, que Haider al-Abadi dispõe de trinta dias para as consultas e a consecução do apoio necessário para a ratificação da indicação do Presidente Masum.

                        E é aí que mora o perigo. Conhecendo al-Maliki e seus precedentes, só um ingênuo ou um néscio abaixaria a guarda e consideraria ter assegurada a confirmação como Primeiro Ministro. 

                        É a prova que Haider al-Abadi tem ainda de realizar, para que a sua nomeação, de potencial se transforme em efetiva.

 
Nobel da Matemática para Artur Ávila



             A criação desta medalha partiu do matemático canadense John Charles Fields. Datado de 1936, o prêmio visa a reparar omissão de Alfred Nobel, que excluíra de seu legado prêmios para a matemática e a biologia, por ele vistas como instrumentos da física e da medicina. A medalha Fields é concedida em quadriênios, a quatro ganhadores, com idade inferior a quarenta anos. Tem a efígie de Arquimedes, grego de Siracusa do século III a.C. (287-211 a.C), considerado o maior matemático de todos os tempos. No saque de Siracusa, absorto em algum problema matemático, Arquimedes seria abatido por soldado de Claudius Marcellus, o comandante romano que saqueava a cidade. Sem ser ocupação perigosa, vê-se que em certas situações extremas a matemática, pelas distrações que provoca, pode até causar a morte...

           O prêmio, fixado em US$13,700  (dada a vultosa soma atribuída ao Nobel, aqui não há comparação) se destina a autores de descobertas que repercutiram fortemente na comunidade científica pela originalidade  e o poder de abrir novos caminhos para o saber.

          O carioca Artur Ávila – reside no Leblon – tem 35 anos de idade , e “foi escolhido pelo conjunto de obra, um sinal de maturidade e vigor criativo”, na explicação dada pelo matemático francês Étienne Ghys, de 59 anos, integrante da comissão que elegeu os atuais medalhistas.

          Ávila escolheu como especialidade uma das áreas mais complexas – os sistemas dinâmicos. Nesse campo, o matemático tenta encontrar ordem no caos, ou descobrir padrões em certos fenômenos  que, à primeira vista, semelham completamente aleatórios.

 
             
Julho de  1914

           

          Não poderia deixar de recomendar a leitura do livro de Sean McMeekin  July 1914 – Countdown to War, publicado por Basic Books, New York, 2013.

           O relativamente jovem historiador – nasceu em 1974,  tem, portanto, ou fará em breve, quarenta anos – estende a sua bibliografia a muito além de Luigi Albertini, o cronista italiano fundamental para as causas da Grande Guerra.

           Preciso no detalhe e nas avaliações de responsabilidade, McMeekin, pela sua isenção e abrangência, não só nos ilumina a senda na selva das causas e das potências responsáveis por esse flagelo do século XX – e que é o genitor ou o padrasto de todos os demais do século passado - mas também não é condicionado por parcialidades nacionais.

            Apenas dois exemplos para quem deseja informar-se com precisão sobre  as causas pequenas e grandes  da Guerra Mundial de 14 – 18: o chauffeur se atrapalhou com a mudança do conversível (modelo 1911) Graf und Stift, e por isso – a dificuldade em engatar uma primeira e não a marcha-à-ré -  deu ao assassino Gravilo Princip o tempo de que carecia para matar a dupla real. No que tange às grandes, a burocrática incompetência austríaca, a insensatez germânica em passar ao Ministro do Exterior austro-húngaro Leopold von Berchtold o cheque em branco, as limitações intelectuais do tsar Nicolau II e a leviandade do Ministro do Exterior Sergei Sazonov, os erros do peso leve intelectual Guilherme II e do Chanceler Bethmann-Hollweg (com a terminal burrice do desrespeito  à integridade da Bélgica), a desonestidade intelectual do Presidente da França, Raymond Poincaré e de seu agente e embaixador (em São Petersburgo), Maurice Paléologue, e por ultimo, mas não por menos, a ambiguidade,  indefinições e má-fé intelectual de Edward Grey, o Secretário do Exterior de Sua Majestade Britânica.

 

(Fontes: O Globo, Folha de S. Paulo, The New York Times; VEJA;  July 1914, de Sean McMeekin)        

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